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São os super-ricos, de fato, os mais solidários diante da tragédia no RS?

Foto da capa: Victor Barone/Midjourney

Por Repórter Popular RS, PR e SC

A crise climática que atinge o Rio Grande do Sul despertou uma onda de solidariedade nacional e internacional. São milhares de campanhas promovidas por múltiplos agentes de diferentes classes sociais: de movimentos sociais a grandes empresas, de influenciadores digitais até o Governo do Estado.

A ferramenta prática do PIX tem facilitado a transferência de recursos pelo país, as agências dos Correios estão encaminhando doações para o Estado, ao passo que redes de solidariedade locais se multiplicam nos bairros onde estão sendo abrigados os refugiados climáticos da catástrofe ambiental.

Entretanto, nas redes sociais, se propaga uma narrativa apoiada em desinformação e fake news, de que a iniciativa privada estaria “salvando” o RS. Uma matéria recente da revista Forbes exalta as doações de bilionários em prol da população do Rio Grande do Sul.

Quanto os superricos estão doando para o RS?

A investigação do Repórter Popular revela uma realidade diferente da que vem sendo difundida. Confira alguns dados na tabela abaixo:

Nesse momento, é crucial desfazer a confusão que vem sendo disseminada nas redes sociais. É fundamental compreender a distinção entre as iniciativas populares das iniciativas privadas. Enquanto os populares (trabalhadores, autônomos, pequenos comerciantes, negócios familiares, voluntários) se mobilizam de maneira comunitária e solidária, a iniciativa privada é representada pelas grandes empresas, bancos, latifundiários e bilionários. Observamos, portanto, que o montante investido pela iniciativa privada para mitigar a tragédia é ínfimo se comparado à imensa mobilização popular.

A investigação revela que o Itaú doou R$ 16 milhões ao RS, porém esse montante equivale apenas a 0,03% do seu faturamento anual, que é de R$ 42,8 bilhões. Quando esse montante é comparado à renda anual de um trabalhador que recebe um salário mínimo*, o dado demonstra que, proporcionalmente, seria como se banco tivesse gastado cerca de R$ 6,86 em doações. Um trabalhador que sobrevive com dois salários mínimos mensais (R$ 2,8 mil) e fez uma doação de 50 reais para o RS, por exemplo, proporcionalmente contribuiu 5 vezes mais do que o Itaú.

*Para o cálculo, comparamos o rendimento anual das empresas com o valor de 13 salários mínimos (R$ 18.356)

A Havan, embora tenha um faturamento anual de R$ 12,9 bilhões, doou R$ 1,5 milhão para as vítimas das enchentes, o que representa apenas 0,01% do que a empresa fatura por ano. Na comparação com uma pessoa que recebe um salário mínimo e doou R$ 10 ao RS, esse trabalhador teria doado proporcionalmente 4 vezes mais do que a empresa bilionária de Luciano Hang.

Ao analisar os números, portanto, percebemos que a contribuição dos super-ricos é ínfima se comparada à solidariedade popular. Empresas como o Zaffari, Melnick, Itaú e a Havan, embora tenham feito doações aparentemente significativas, destinaram valores que representam apenas uma fração mínima de seus rendimentos anuais. Proporcionalmente, os trabalhadores têm contribuído muito mais para aliviar o sofrimento das vítimas. Isso corrobora com pesquisas que demonstram que, em situações extremas, são os mais pobres que demonstram maior solidariedade, doando mais e priorizando causas urgentes.

Uma pesquisa do Instituto de Desenvolvimento e Investimento Social, publicada pelo jornal O Tempo, em 2020, mostrou que o Brasil abriga um povo muito solidário. “Três em cada quatro brasileiros acham importante fazer a sua parte por uma sociedade melhor. E quanto mais pobre, mais solidário – pode ser surpreendente para muita gente saber que, exatamente nos lugares em que a necessidade é maior, é onde também o coração se abre mais.”

Outra pesquisa, esta feita pela Central Única das Favelas (Cufa) e pelo Instituto Locomotiva em 2020, apontou que as pessoas mais pobres fazem mais doações aos necessitados em comparação com a população de maior renda. Para esse levantamento, foram levados em consideração os dados da pandemia.

Por fim, uma experiência realizada por pesquisadores no Complexo da Maré (RJ) reafirmou a mesma coisa: pobre doa mais que o rico e privilegia causas urgentes. Em um dos estudos, 86% dos moradores do complexo toparam doar para campanhas de causas urgentes ou atividades culturais e esportivas e o valor médio de doação foi de R$ 5,57. Já entre os ricos, o percentual de doadores foi a metade, apenas 43%, e o valor médio também foi menor, de R$ 4,30.

Diante dos dados apresentados, fica evidente que é a população, especialmente os menos favorecidos, que assume o ônus da solidariedade nos momentos de crise. Nesse contexto, o lema “só o povo salva o povo”, amplamente difundido nos últimos dias, ressoa com a ideia de apoio mútuo e evidencia a importância da mobilização popular em contraposição aos esforços limitados da elite empresarial.

Neste momento em que o estado do Rio Grande do Sul segue assolado pela crise climática e as enchentes, o Repórter Popular reforça que a solidariedade com o povo gaúcho é fundamental. Neste link você pode ver como apoiar diferentes abrigos emergenciais e pontos de coleta de doações no RS.

5 comments

  1. Infelizmente no Brasil todos vivemos a triste realidade da população do RIO GRANDE DO SUL. Estamos TODOS juntos com vocês – população Rio Grandense do Sul – apesar de toda destruição e das fakes news que invadem as Redes Socias! Deus é Justo, é o Pai Todo Poderoso, que “logo” trará a VIDA ao povo e, separará “o joio do trigo”! ✊🏽👊🏽💪🏾🙏🏾🙏🏾

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