Por Repórter Popular, Cachoeirinha (RS)
Na última sexta-feira (17), um grupo de indígenas Mbyá Guarani iniciou a retomada da área conhecida como “Mato do Júlio” em Cachoeirinha (RS). As terras contam com uma área de 1,24 km² de mata nativa, com seus limites a norte pela Av. Flores da Cunha, ao sul pela BR 290, e a leste e oeste os bairros Parque da Matriz e São Vicente de Paulo, respectivamente.
Desde 2019 o local tem sido alvo de especulação imobiliária por parte de construtoras que querem transformá-la em um grande condomínio privado. Os atuais proprietários são a Habitasul e os herdeiros da família do falecido Júlio Baptista, que acumulam uma dívida milionária em IPTU junto aos cofres municipais. O governo municipal inclusive vem tentando aprovar alterações no Plano Diretor da cidade que viabilizariam a intenção dos especuladores, mas as tentativas foram frustradas pelo Ministério Público em 2020, que recomendou a suspensão do processo de alteração da legislação e que “nada mais aconteça antes do término da pandemia” (Procedimento nº 01504.000.247/2019 — Procedimento Administrativo de acompanhamento de Políticas Públicas).
Segundo os Mbyá Guarani, a retomada da área é para a sua preservação, visto que a terra “sempre foi nossa”, o cacique do grupo também afirma que eles não possuem nenhum tipo de vinculação com partidos políticos e que suas finalidades são de resguardar, proteger e manter os seres em um ambiente de harmonia, diante de tanta exploração e devastação.
O Ministério Público do RS já emitiu uma certidão reconhecendo a ocupação dos indígenas, mas a FUNAI ainda não se manifestou até o momento. Representantes da Habitasul e o caseiro responsável estiveram com os Mbyá na manhã deste sábado tentando retirá-los do local, assim como a polícia militar, mas o grupo está respaldado pela certificação do Ministério Público.
Alguns moradores, coletivos da região e o Sindicado dos Municipários de Cachoeirinha (SIMCA) já passaram pelo local para prestar solidariedade ao grupo e deixar mantimentos para ajudar na ocupação, dentre os mais urgentes estão alimentos, água, roupas, cobertores e lonas para construção de abrigos. Também está em andamento uma campanha de arrecadação organizada pelo coletivo Teia dos Povos.