Por Resistência Popular Estudantil – Paraná
Durante o último final de semana (6 e 7 de novembro), a sede Central do Restaurante Universitário (RU) da UFPR esteve ocupada por estudantes que participaram do 2º ato pela reabertura do RU convocado pela Frente Estudantil Contra a EaD. A ocupação, deliberadamente de curta duração, conseguiu cumprir em pouco mais de 24h com os propósitos de fazer ressoar e elevar o nível de exigência das pautas estudantis, além de romper com o imobilismo que amarra grande parte do Movimento Estudantil a ações estritamente virtuais, quando já está mais do que provado que é possível realizar ações presenciais com segurança sanitária e que estas possuem o maior potencial para nos alçar em direção aos nossos objetivos.
Há meses, o Movimento Estudantil da UFPR vem empreendendo diversas ações para exigir da Reitoria uma solução consequente para o problema da insegurança alimentar entre os estudantes instaurado desde o fechamento dos RUs em março de 2020, entre as quais figuram a produção de pesquisas e de materiais de denúncia virtual, a participação em reuniões junto à burocracia da Universidade, a organização de debates, panfletagens e colagens de lambes. A resposta da Reitoria à reivindicação foi afirmar que os estudantes estavam “agindo de má-fé”, alegando que a criação do Auxílio Refeição Emergencial teria resolvido esse problema, auxílio este que inicialmente concedia míseros R$ 250,00 a uma quantidade ínfima de estudantes (poucas centenas dos mais de 40 mil estudantes da instituição). Em setembro de 2021, houve um aumento de R$ 50 para estudantes com menor renda e o número de bolsistas foi ampliado, no entanto, os critérios para recebimento do auxílio continuaram excludentes e o valor pago segue muito distante de substituir as 3 refeições diárias de altíssima qualidade oferecidas pelo RU a dezenas de milhares de estudantes da graduação e da pós, servidores técnicos, trabalhadores terceirizados e professores, entre os quais muitos já estão estudando ou trabalhando presencialmente. Além disso, reduzir uma política de permanência estudantil consolidada como o RU ao pagamento de bolsas é optar por uma política muito mais frágil do ponto de vista da manutenção do direito estudantil à alimentação, haja vista que é muito mais fácil que ela sofra cortes ou mesmo seja interrompida.
A mobilização estudantil em torno dessa justa pauta entra uma nova fase com a realização do 1º ato pela reabertura do RU, que no dia 23 de setembro reuniu cerca de 50 estudantes da UFPR e da UTFPR notadamente decididos a retomar os rumos da Universidade, que fechada e limitada ao Ensino Remoto vem sofrendo sucessivos cortes de verbas que pavimentam o caminho para sua completa privatização. O 2º ato, realizado no dia 06 de setembro, foi ainda maior e, a despeito da presença da Guarda Municipal no local, culminou na ocupação da sede do RU Central e nos colocou em um patamar ainda mais elevado para fazer valer as nossas reivindicações – que incluem, além da reabertura do RU, o pagamento de Auxílio Permanência a todos os estudantes que necessitem, o pagamento das bolsas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) e Residência Pedagógica (RP), a retomada das aulas práticas presenciais em toda a UFPR e o início da retomada das aulas presenciais em toda a UFPR, reivindicações que não se encerram à UFPR e são compartilhadas por estudantes de diversas Universidades.
Assim que o espaço foi ocupado, os estudantes presentes realizaram uma Plenária inaugural, em que se ressaltou a importância daquela ação, se definiu as regras da ocupação e se dividiu as Comissões responsáveis pelas tarefas de limpeza, alimentação, segurança e propaganda. Logo após, realizamos a primeira refeição do RU em quase 2 anos e tivemos uma atividade cultural antes de dormir. Iniciamos o dia seguinte com café da manhã, produção de faixas e cartazes e a leitura conjunta de textos que tratavam da ameaça de privatização das Universidades, seguida de um debate riquíssimo em que estudantes compartilharam problemas vivenciados com o Ensino Remoto e com a falta de políticas de permanência estudantil, discutiram a relação entre a Educação à Distância e o projeto de privatização do Ensino Superior brasileiro e de destruição da Ciência nacional, bem como com a tentativa de desmobilização do Movimento Estudantil – demonstrando como a imposição generalizada da EaD permitida pela pandemia escancarou a falta de democracia interna na Universidade e a urgência da luta pelo co-governo estudantil – e apontaram para o projeto de Universidade almejada e o papel que as políticas de permanência estudantil devem assumir para servir a esse propósito. Após o almoço, foi realizado um cine-debate do documentário Resistimos, lutamos, com a greve triunfamos!, que trata da ocupação da UNIR em 2011 que derrubou o reitor e barrou o precarizante REUNI. Em seguida, ocorreu a Plenária final da ocupação, de balanço, e a limpeza do espaço. Três veículos de imprensa estiveram no local e foram recebidos com enérgicos gritos de “RU É PERMANÊNCIA, ESTUDANTE COM FOME JÁ PERDEU A PACIÊNCIA!”, “É GREVE DE OCUPAÇÃO, NEM SUCATEAMENTO NEM PRIVATIZAÇÃO!”, “DERRUBAR OS MUROS DA UNIVERSIDADE, SERVIR AO POVO NO CAMPO E NA CIDADE!” e outros.
Os estudantes que participaram da ocupação saíram com a moral bastante elevada e muito mais unidos do que em 100 reuniões virtuais. Além disso, deixaram a mensagem de que “VOLTAREMOS! MAIS FORTES E MAIS PREPARADOS!”, prometendo que esse é só o início de grandes ocupações que ocorrerão por todo o país. Nas palavras da Frente Estudantil Contra a EaD, “Mantemos nossa convocação a toda a juventude que ocupe o espaço que é nosso por direito! Afirmamos que os estudantes podem e vão dar os rumos às suas escolas e universidades, tomando para si o dever de defender nossa educação pública e gratuita!”.
AVANTE, JUVENTUDE! A LUTA É O QUE MUDA, O RESTO SÓ ILUDE!