Rememorar o 1º de Maio, lutar por vida digna: estudante é trabalhador!

Texto de opinião da Resistência Popular Estudantil

Como já demonstramos no ano passado, o conjunto das e dos estudantes brasileiros são trabalhadores e vivenciam na pele os impactos da deterioração das condições de vida e de trabalho das classes exploradas e oprimidas de forma geral. Por esse motivo, o 1º de Maio, data histórica forjada pela luta da nossa classe, é também uma ocasião oportuna para nós, estudantes, denunciarmos e exigirmos melhorias à realidade que nos cerca, hoje profundamente marcada pela pandemia de Covid-19. Além de ceifar mais de 400 mil vidas só no Brasil e colapsar nosso subfinanciado sistema de saúde, a péssima gestão da pandemia também desencadeou ou aprofundou uma série de problemas socioeconômicos, tais como desemprego, precarização do trabalho, carestia de vida e insegurança alimentar. 

Em meio à atual conjuntura pandêmica, vemos, de um lado, o governo de ajuste e negacionismo de Bolsonaro/Guedes/Mourão sangrando ainda mais fundo o orçamento das Universidades públicas, afetando diretamente a concessão de bolsas de assistência estudantil, pesquisa e extensão. De outro lado, temos as Reitorias priorizando performar uma pretensa “normalidade” com a imposição do Ensino Remoto, ignorando completamente a realidade de uma importante parcela das e dos estudantes – com rigor, as e os estudantes trabalhadores, sejam elas/eles responsáveis pelo trabalho produtivo (que garante ou contribui com o sustento da casa) e/ou pelo trabalho reprodutivo (que assegura o cuidado com a casa e a família). 

Assim, tem ocorrido um verdadeiro pacto entre o andar de cima e as Reitorias que retira escolas e Universidades das demandas sociais concretas, apartando-as da realidade de nosso povo, de tal forma que os esforços destas instituições foram dirigidos à realização do Ensino Remoto, quando deveriam estar focadas no combate à pandemia e às suas consequências. Neste cenário tem havido um agravamento das condições psicológicas das e dos estudantes, pois, além de vivermos com as preocupações e perdas pessoais em meio a uma pandemia fora de controle, ainda temos que lidar com a insegurança alimentar, cortes de água e luz, violência policial, desemprego ou empregos informais sem direitos trabalhistas e sem regulamentação alguma – os famosos bicos. Trabalhamos cada vez mais, ganhamos cada vez menos, pagamos mais e mais caro no mínimo para sobreviver. Já entre os egressos (estudantes já formadas/os), somos uma maioria no desemprego ou subemprego, com pouca perspectiva de abertura de Concursos Públicos – o que ficará ainda pior caso a Reforma Administrativa (PEC 32/2020) seja aprovada.

Situação mais crítica vivem estudantes mães e pais ou aquelas/es que cuidam de familiares adoentados e/ou idosas/os, pois, além de todas as dificuldades já citadas, estas sofrem com acentuação das tarefas domésticas em meio à pandemia: é mais comida para fazer, é mais casa para limpar, é mais cuidado a dedicar. Para mães e pais, soma-se a necessidade de auxiliar as crianças em suas tarefas escolares, em vista da defasagem no processo de ensino-aprendizagem promovida pelas aulas remotas.

Engana-se quem pensa que tais problemas afetam apenas estudantes do ensino básico e da graduação. Na Pós-Graduação, o cenário desde o ano passado só piorou. Se a ciência ganhou notoriedade no debate social, ainda nos deparamos  nesse ano com redução na número de bolsas, levando muitas de nós a trabalhar como sem salário; falta de reajuste no valor pago; pesquisas interrompidas por corte de orçamento; além de perseguições e censuras por parte do obscurantismo do Governo Federal. Assim, a maior parte das e dos pós-graduandas/os hoje se encontra sem garantias de renda para realização de sua pesquisa. Tudo isso na total ausência de direitos trabalhistas, caracterizando uma categoria precarizada mesmo que fundamental na produção científica. 

Nas Universidades, além da já mencionada perda de bolsas, os RU’s permanecem fechados, as Casas ou Moradias Estudantis desassistidas e, em muitos casos, não houve sequer garantia de condições mínimas de acessibilidade digital à comunidade discente. Enquanto isso, a despeito da sobrecarga psicológica e de trabalho que vivenciamos, somos também obrigadas/os a dar conta do Ensino Remoto, muitas vezes sem conseguir minimamente absorver o conteúdo e  sem oportunidade de participar das atividades síncronas (e consequentemente interagir com colegas e docentes). Divididos entre estudar e trabalhar para sobrevemos, temos que assistir a gravação das aulas e realizar as atividades no pouco tempo “livre” que nos resta, geralmente em horários alternativos – quando não estamos trabalhando ou quando todo mundo com quem dividimos a casa (especialmente filhas/os) está dormindo. Assim, um ensino já precário e de menor qualidade se precariza ainda mais. 

É diante deste contexto de piora das condições de vida da nossa classe e, consequentemente, das e dos estudantes que nós, da Resistência Popular Estudantil, apontamos que a solução para os nossos problemas virá de nossas próprias mãos – não devemos e nem podemos esperar por 2022, nem se apegar às promessas eleitorais dos candidatos. Não se trata de haver ou não políticos de boas intenções, trata-se de termos a clareza de que a democracia dos ricos opera contra nós. Em madeira podre não se cria bom cupim!

Assim sendo, teremos que construir desde abaixo a nossa alternativa, caminho único para nossa classe obter vitórias reais. E no dia de hoje – 1º de Maio – isso não pode ser esquecido! Hoje é Dia da Trabalhadora e do Trabalhador porque, em 1886, irmãs e irmãos de classe tombaram lutando por melhores condições de trabalho para as/os de baixo e arrancaram dos de cima a redução da jornada de trabalho, o fim do trabalho infantil e de mulheres grávidas. Nada disso foi feito em Câmaras e gabinetes, mas sim nas ruas, com sangue e suor, com construção de base e com disposição para enfrentar nossos inimigos.

É este caminho que apontamos com a CAMPANHA DE LUTA POR VIDA DIGNA, firmando os pés na solidariedade de classe e na ação direta. No últimos anos, foram centenas de atividades realizadas, desde entrega de cestas para garantir comida na mesa aos nossos até a construção de greves pela vida, passando por ações de propaganda como colagem de lambes, pixações, colocações de faixas… e toda sorte de táticas que a infinita criatividade de nossa classe pode elaborar.

Portanto, neste Dia da Trabalhadora e do Trabalhador, convidamos toda a estudantada que busca uma alternativa de luta a nos conhecer e cerrar fileiras conosco. Neste momento histórico cabe a nós, estudantes, estarmos ombro a ombro com nossa classe, sem titubear e nem hesitar ao afirmar que: estudante é classe trabalhadora! E como trabalhadoras e trabalhadoras devemos nos organizar, seja no local de estudo, trabalho ou moradia. Para assim elevarmos a luta e arrancar nas ruas nosso direito à permanência estudantil, educação pública de qualidade, vacina, renda digna, isolamento social e trabalho com direitos. Firmes na luta por uma vida digna!

NOSSOS DIREITOS FORAM CONQUISTADOS COM SANGUE E LUTA! VIVA O 1º DE MAIO!
NOSSA FORÇA MOVE O MUNDO, LUTEMOS POR VIDA DIGNA!
POVO QUE AVANÇA PELO PODER POPULAR!

Resistência Popular Estudantil,
1º de maio de 2021