Rede Contra o Genocídio lança site e homenageia mortos pela PM

Campanha Fala Quebrada ganha destaque no lançamento. Simultaneamente, Rede homenageava Nego Vila e Wenny num grafitaço em São Mateus. Dois dias antes, perfil da Rede no Instagram foi sabotado.

São Paulo – No último sábado, dia 12, a Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio lançou seu site, que, além de apresentar o movimento social e contar a história dos casos em que atuou, expande a já existente Campanha FALA QUEBRADA de denúncias anônimas da violência estatal. O endereço do site é www.redecontraogenocidio.com. Nele, a seção Territórios mostra separadamente as atuações no ABC paulista e nas zonas Norte, Sul, Leste e Oeste da capital. Também há a seção Notícias, com notas escritas pela Rede, a seção Cursos e Seminários e a Downloads, com conteúdo informativo e formativo.

Campanha Fala Quebrada

A Campanha Fala Quebrada está logo na página inicial do site. Trata-se de um canal aberto para receber fotos, vídeos, documentos e relatos de violações de Direitos Humanos no estado de São Paulo. Está disponível um formulário para denunciar, com segurança e anonimato, violências de Estado tais como abuso, tortura, abordagem violenta, ameaça, prisão forjada e execução, dentre outras. A ideia é fornecer um espaço de escuta e acolhimento, mapear a violência nas periferias e adquirir o máximo de informações para a Rede agir e acionar órgãos competentes.

O Rap, o Punk, o Funk: a cultura como resistência

A live de lançamento, chamada “O Rap, o Punk, o Funk: a cultura como resistência” contou com a mediação da poeta Dinha, uma das articuladoras da Rede, das convidadas Natália e Camila, da banda afropunk Punho de Mahín, e dos convidados Mano Lyee, que é rapper do grupo Ideologia Fatal, também articulador da Rede, e do funkeiro MC Camarada Janderson. Moysés, rapper com carreira solo, ex-integrante dos grupos A286 e Facção Central, assim como o rapper Vidal que, além de rimar no grupo Liberdade e Revolução, é articulador da Rede, estavam na programação mas não puderam participar, por motivos de saúde.

O tom do debate foi sobre a relação da arte e da cultura periféricas com a luta popular, nas causas sociais e políticas, dialogando em especial com a pauta racial, a de gênero e a do Genocídio nas quebradas. A repressão do Estado às expressões culturais negras hoje atinge mais fortemente o Funk, mas historicamente já reprimiu o Samba, a Capoeira e o Jongo, para citar uns exemplos. O racismo, a violência policial e a necessidade de combatê-los, de resistir, usando a expressão artística como umas de nossas armas foram tratados.

Sabotagem no Instagram

Dois dias antes da live de lançamento, o perfil da Rede no Instagram foi sabotado e apagaram todas as postagens da Rede. Algumas pessoas relataram não conseguir sequer acessar o perfil após ele ser zerado. A Rede está em contato com o Instagram para saber se a própria empresa foi a responsável ou se foi uma invasão de terceiros, mas ainda não obteve respostas.

Um novo perfil, chamado Rede Contra o Genocídio, foi criado às pressas para a divulgação da live e do grafitaço que aconteceu em São Mateus.

Grafitaço em São Mateus, para Nego Vila e Wenny Sabino

Wenny Sabino Costa Martin, negro, 18 anos, foi assassinado pela Polícia Militar no dia 25 de novembro, uma quarta-feira. A execução aconteceu dentro de uma casa. Segundo reportagem da Ponte Jornalismo, moradores disseram que ele entrou após bater na porta, pedindo ajuda. Em seguida, policiais militares invadiram a casa, levaram-no para o banheiro e deram-no 3 tiros, arrastando depois seu corpo para a cozinha. Duas crianças, de 3 e 5 anos, e dois adolescentes de 13 anos presenciaram as cenas. A população local reagiu com uma forte manifestação, fechando com pneus, nos dois sentidos, a Avenida Sapopemba. A manifestação foi reprimida pela PM e difamada pela mídia corporativa.

Wellington Copido Benfati, negro, artista plástico, rapper e skatista, conhecido como NegoVila Madalena, foi assassinado pelo sargento PM Ernest Decco Granaro, que estava de folga, na madrugada do dia 28 de novembro, um sábado. Segundo reportagem também da Ponte Jornalismo, testemunhas disseram que ele tentava apartar uma briga, quando recebeu o tiro. O PM já responde por outros 2 homicídios em pouco mais de um ano. A população local também realizou protestos pedindo justiça e inclusive pintou de preto as paredes antes grafitadas do Beco do Batman, localizado no bairro, incluindo escritas e pixações evocando Nego Vila.

O grafitaço aconteceu no mesmo sábado do lançamento do site, no Jardim Vera Cruz, em São Mateus, foi motivado pelas duas mortes e, segundo a Ponte, marcou o nascimento do Projeto Ser Humano, que seria uma parceria da Rede com grafiteiros. A Ponte registrou a participação do artista Caps e da Wanatta Rodrigues, que veio de Belo Horizonte somente para esse ato. Na página Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, no Facebook, é possível ver vídeos e fotos.

A Rede esteve presente na região, junto à comunidade, e à mãe de Wenny, desde o dia da morte, acompanhou a manifestação e segue na luta por justiça a Wenny e pela construção do poder popular nessa e em outras quebradas, já que, segundo o movimento, “estancar a sangria que escorre nas quebradas é um ato revolucionário”. O Projeto Ser Humano seguiu colorindo o local até a terça-feira, dia 15.