Do Repórter Popular
Nos dias 05 e 06 de fevereiro de 2022, milhares de pessoas se reuniram em protestos por todo o Brasil em repúdio ao assassinato de Moïse Mugenyi, ocorrido no dia 24 de janeiro nos quiosques Tropicália e Biruta, na praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. O caso se soma a uma enorme lista de diversas outras ocorrências de violência contra o povo negro, e se insere em uma realidade preocupante de expansão das milícias e de suas atrocidades não só no Rio de Janeiro, mas em todo o país. Confira-se ao final da reportagem vídeos de como foram as manifestações no Rio de Janeiro e em Curitiba.
Os atos também tiveram por objetivo prestar solidariedade à família de Moïse Mugenyi e à comunidade congolesa no Brasil, que esteve presente em grande número nas manifestações em todo o país. Assim, milhares de vozes se somaram para afirmar que imigrantes e refugiados são bem-vindos.
Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, local do crime, o protesto reuniu mais de mil pessoas em frente ao quiosque no qual Moïse foi assassinado. A comunidade congolesa esteve em peso na manifestação, que começou por volta das 10h e se encerrou perto das 14h. Mesmo debaixo do sol, a população caminhou pela avenida e se manteve firme do início ao fim do protesto. No começo do ato, o letreiro que levava o nome do quiosque Tropicália foi arrancado pelos manifestantes e, ao final, o letreiro do quiosque Biruta também foi danificado. A Polícia Militar chegou a tentar levar um manifestante detido, mas ele foi liberado sob pressão popular. A Campanha de Luta por Vida Digna esteve presente em bloco.
Minas Gerais
Em Belo Horizonte, centenas de pessoas marcharam na região central da cidade, caminhando da Praça Sete até a Praça Raul Soares. A passeata foi marcada por falas e faixas de denúncia ao racismo estrutural e contra a xenofobia.
São Paulo
Na capital paulista, o protesto caminhou no centro da cidade, se reunindo no vão do Museu de Arte Moderna e caminhando pela Avenida Paulista. O ato contou com a presença de diversos movimentos imigrantes, que entoaram manifestações típicas de suas culturas, como poesias e cantos congoleses, ao longo da passeata.
Rio Grande do Sul
O ato foi realizado em Porto Alegre na manhã de sábado, no Parque Redenção, região central da cidade. A manifestação foi protagonizada pelas associações de imigrantes e organizações dos povos negros. A capital gaúcha é uma cidade onde vivem muitos e muitas imigrantes, muitos trabalhando no comércio informal, onde resistem para trabalhar e, em diversos casos, mandar dinheiro para familiares em seus países de origem. O ato foi construído junto a organizações políticas diversas que prestaram solidariedade e reforçaram os pedidos por justiça e contra o racismo e a xenofobia.
Paraná
Em Curitiba o ato teve concentração em frente à antiga Igreja de Nossa Senhora dos Pretos de São Benedito, atual Igreja do Rosário no Centro Histórico da cidade. O ato começou em torno das 17h e movimentou-se simbolicamente por algumas quadras abaixo do ponto de encontro pela Rua Trajano Reis. O ato foi chamado pelo Núcleo Periférico e as falas foram protagonizadas por imigrantes que vivem na cidade pedindo por justiça e respeito. Curitiba é conhecida pelos seus diversos memoriais a imigrantes europeus, nas falas foi reforçado o apagamento histórico da cultura negra na cidade.
Alagoas
Em Alagoas, o ato aconteceu na orla da Ponta Verde, uma das áreas mais elitizadas em Maceió, e contou com a participação de alguns partidos e entidades voltadas aos direitos humanos. Além de estampar a revolta contra o assassinato de Moïse, a mobilização atentou para que crimes de ódio não sejam mais tolerados em qualquer hipótese, fazendo referência a um episódio recente que aconteceu na capital alagoana. Na última terça-feira, 1º de fevereiro, o médico e diretor de comunicação do Sindicato dos Médicos de Alagoas, Alex Lins Barbosa, deflagrou diversos tiros contra agricultores rurais do Movimento Sem Terra (MST), que faziam um ato na Avenida da Paz, também em Maceió. Na Polícia Civil, ao invés de tentativa de homicídio, o caso foi registrado como “prática de disparo de arma de fogo em via pública”. Ele pagou uma fiança e foi liberado.
Mato Grosso
Em Cuiabá, capital mato-grossense, o ato ocorreu na Praça da Mandioca, região do centro histórico da cidade, contando com a participação de movimentos sociais da região e pautando a necessidade de se combater o racismo estrutural, o fim do assassinato da população preta e periférica e, principalmente, justiça para Moïse.
Foi a revolta popular provocada pelo crime que levou as autoridades, até então passivas, a passarem a dar alguma atenção ao caso, que já conta com três presos apontados como autores do assassinato, ainda que não haja nenhuma acusação contra os donos dos quiosques Tropicália e Biruta, o empresário Carlos Fábio da Silva Muzi e o policial militar Alauir Mattos de Faria. No mais, ainda com a pressão popular frente ao caso, ambos os quiosques tiveram suas concessões suspensas e a família de Moïse vem recebendo solidariedade e apoio de diversas formas.