A primeira segunda-feira de 2021 iniciou com um fato doloroso – mas não novo. Mais uma vítima foi feita nas operações promovidas pela PM do Rio: Marcelo Guimarães, 38 anos, que deixa dois filhos, uma de 19 anos e outro de 5.
De acordo com a família, o morador da Cidade de Deus tinha deixado o filho numa escolinha de futebol, na Gardênia Azul, mas tinha esquecido o celular em casa e voltou para buscá-lo, e foi atingido por um tiro no caminho. A informação é de que a polícia ainda se recusou a prestar qualquer assistência, evadindo do local em seguida enquanto moradores tentavam socorrer a vítima.
Rapidamente, familiares e moradores da Cidade de Deus se mobilizaram para convocar uma manifestação no dia 5 de janeiro. O ato ocorreu em baixo do viaduto da Linha Amarela, na entrada da Cidade de Deus, mesmo local onde Marcelo foi baleado e morto.
Nas redes sociais, diversas pessoas manifestaram sua revolta diante do caso. No dia do ocorrido, a hashtag “Justiça por Marcelo” figurou as primeiras posições nos assuntos mais comentados no Twitter. Veja o vídeo compartilhado por moradores:
A Polícia Militar deu a desculpa de que estavam em confronto com traficantes. No entanto, moradores relatam que não acontecia troca de tiros no local no momento do crime.
Histórico de violência
A classe trabalhadora sempre sofreu inúmeros assédios por partes da polícia, que desde a sua fundação nunca defendeu os interesses do povo. Entra governo e sai governo, e a política de segurança pública continua tendo raça, gênero e classe. A política de guerra as drogas implementada que persiste há anos ajuda na manutenção do status quo desta elite burguesa e ao longo dos anos, vimos cada vez mais sendo naturalizadas as mortes que vem acontecendo nas favelas do Rio de Janeiro.
No ano passado, tivemos casos como o do menino João Pedro morto numa operação policial em São Gonçalo, Caio Viera da Silva, de 20 anos, assassinado no Morro dos Macacos, Liliane Rodrigues da Costa, que estava grávida e foi alvejada em Madureira, e das meninas Emilly Victoria, 4 anos, e Rebeca, 7 anos, mortas em Caxias.
Precariedade assola as vidas pobres
A pandemia de Coronavírus afetou drasticamente a classe periférica, principalmente o povo negro, pobre e favelado, demonstrando os efeitos de um sistema de saúde que vem sofrendo há anos com o sucateamento dos governos e a negligência do poder público, em um governo que declaradamente não se importa com a preservação das vidas dos mais pobres. Um cenário onde tivemos que nos somar em ações de solidariedade e nos apoiar para defender o mínimo para uma vida digna.
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 45,3 milhões de brasileiros moram em habitações com precariedade e insegurança, entre a população mais empobrecida, a situação é ainda pior, mais da metade vive com menos de R$436,00 por mês, quase a metade da população, 43,2%.
Graças às mobilizações que foram feitas em resposta à essas mortes, conseguimos pressionar a justiça para ter a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 635), que determina a suspensão de operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro durante a pandemia do novo coronavírus. Entretanto, sabemos que essa decisão não foi totalmente cumprida na prática.
Por isso, temos que continuar nos mobilizando, para pressionar as autoridades e garantir uma vida mais segura e digna para a população que mais sofre com essa política se segurança pública que tem como alvo a própria população.