Os paradigmas clássico e moderno do cinema

Há várias maneiras de se pensar a história do cinema. Uma delas é através da delimitação do que é moderno e do que é clássico. Nessa coluna vamos abordar esse tema, os paradigmas clássico e moderno, à luz do diretor sueco Ingmar Bergman, um dos maiores realizadores da sétima arte.

O paradigma clássico se caracteriza por algumas escolhas formais que os diretores adotaram ao longo do tempo, cujo ponto de ruptura é a estética da Nouvelle Vague, surgida nos anos 60. Aquele se estrutura, dentre outras coisas, pela linearidade narrativa, ou seja, o filme começa, se desenvolve e termina, numa temporalidade que o telespectador reconhece como sendo lógica, cronológica.

Outro elemento da estética clássica é em cenas em que há um diálogo, por exemplo, é há um movimento de câmera alternado, enquadrando ora um, ora outro falante. A montagem respeita essa verossimilhança. A situação comunicacional se apresenta de modo cristalino.

Já o paradigma moderno poderia ser caracterizado por uma recusa à pretensão do cinema clássico em se mostrar como a representação da realidade tal como ela é. Este cinema, e eu penso particularmente na Nouvelle Vague francesa, se caracteriza por uma estrutura narrativa que pode ser, mas não é obrigada a ser linear. O uso dos enquadramentos/montagem também chama a atenção pela diferença com o modelo clássico: não necessariamente há desenvolvimento ou ação a partir de um corte na cena ou montagem.

Em um curso que fiz com o professor Dr. Alisson Gutemberg, ele apresentou a ideia de que a obra diretor sueco se assenta no limiar entre os paradigmas. Bergman utiliza aspectos clássicos subvertidos à lógica moderna. Por exemplo: em Morangos Silvestres, a cena inicial apresenta o personagem principal, seu estado de saúde, o argumento central do filme, indica posição intelectual e de classe dele e sua relação com sua família. Esse movimento, que é feito somente com a câmera, é traço do cinema clássico. Mas eis que se sobrepõe uma narração, marca do cinema moderno porque é um indício de que a obra de arte é um objeto estético criado, não uma representação natural da sociedade.

Bergman foi um dos grandes realizadores do cinema. O fato de fazer a síntese entre os paradigmas só reforça a completa noção de estética fílmica que tinha. Um gigante.

Rodrigo Mendes