Às vezes tenho a sensação de que já passou fase dos bons filmes de ação/policiais. E a resposta não está, em princípio, numa contingência histórica. Provavelmente se deva ao ingresso massivo e sem freios dos efeitos especiais digitais – aquela maldita lona verde. Pra mim tem um marco isso, o início do século 20, quando O Senhor dos Anéis: O retorno do Rei, terceiro e pior filme da trilogia na minha opinião, é lançado a agraciado com o prêmio máximo do Oscar.
Ali já víamos uma coisa bem mais artificial na tela, principalmente aquele exército fantasma que aparece ao final, tirando muito da estética realista impressa ali, mesmo se tratando de um filme de fantasia – Senhor dos Anéis tem uma estética muito mais realista do que Harry Potter, por exemplo.
O uso demasiado desses efeitos transforma o filme num videogame. Mas há outro fator, esse sim conjuntural: vivemos o mundo das imagens, a sociedade do espetáculo, em que a “vida” transcorre muito mais nos ambientes digitais que no mundo concreto. As relações são via Tinder e Instagram e a política é tratada no Twitter. Isso gera uma compulsão pela imagem e pela rapidez dela, afinal as redes sociais na internet são os veículos mais rápidos na disseminação de conteúdo.
No cinema, essa situação gerou a estética de videoclipe, aquelas cenas em que mal conseguimos ver o que se passa, porque é tanto corte e mudança de enquadramento que o telespectador se perde. (Tenham como exemplo os últimos Velozes e Furiosos, os filmes da Marvel ou filmes de ação/policiais americanos com os atores Dwayne Johnson, Jason Statham, entre outros, para fazer uma caricatura).
Tudo isso pra dizer que esses dias assisti a um filme daqueles, uma ação policial de quase 3 horas de duração, cheia de tensão e cenas de tirar o fôlego, mantendo contudo a construção da narrativa de um jeito interessante e não clichê. Uma investigação contra um grupo de ladrões sofisticados, que fazem roubos inteligentes e bem planejados. No elenco, nada mais nada menos que a dupla Robert De Niro e Al Pacino. Trata-se do filme Fogo contra fogo, 1995, de Michael Mann, um baita filme, que fica aqui registrada a indicação deste colunista.