Em um recorte com um quê de Árvore da Vida, a dupla de diretoras compõe um filme diferente, estranho em alguns momentos, mesclando o real e a ficção de modo extraordinário – não foi à toa que se comentou muito a respeito disso quando do lançamento do longa. A relação com o filme de Terrence Melick – A árvore da vida – é pela organização de aparentes contrários, quando na verdade se complementam: aqui, a vida humana, terrena e a pós-humana, quase divina; em Olmo e a gaivota, a começar pelo título (uma árvore e um pássaro), temos a junção do real e do representado, ou da vida real e da ficção. Na atualidade, na era das auto-ficções, da internet e do mundo globalizado, é difícil negar que estes dois mundos convivam separados – inclusive a pergunta é: devemos pensar que hoje vivemos em um momento de fusão total de sujeito e objeto, de real e ficção?
Esses pólos, complementares ou não, podem ter uma outra dimensão, a subjetiva: Olmo e a Gaivota pode representar a própria personagem principal, em seus momentos de antagonismo ao longo do filme, no caso, antes, durante e depois da gravidez. Se antes era livre e podia quase que voar (e as cenas no palco dão essa impressão de leveza), quando engravida é obrigada a ficar em casa a fim de evitar um possível problema, permanecendo, assim, presa como um olmo.
Com uma fotografia linda, mostrando ao mesmo tempo Natureza viva e morta (outra tensão de antagonismos), com uma mixagem de som estranha, lembrando assim o já citado filme de Malick assim como O Bandido da Luz Vermelha (embora este com outro propósito e posição social), ao final temos um belo resultado, em uma atividade documental-ficcional e de inventividade narrativa de grande qualidade para o cinema.
(Talvez o filme tenha como centro uma tensão não resolvida entre seus antagonismos, que assumem várias formas através das metáforas do filme. Talvez o importante seja pensar: o que significa essa estrutura de oposição constante entre dois pólos distintos?)
Rodrigo Mendes