O cinema e a TV

Um dia escrevi que uma partida de tênis poderia ser um filme. Noutra feita, também redigi uma coluna dizendo que uma técnica usada no cinema – o plano sequência, quando a cena é filmada sem cortes – foi utilizada numa reportagem jornalística. A meu ver, esses dois exemplos, que podem e devem ser expandidos, dizem respeito ao nosso mundo contemporâneo, do da imagem convertida em produto televisivo.

Comecemos pelo tênis. Era uma partida de Wimbledon, o maior campeonato de tênis do mundo, no rol dos grandes prêmios, como também o é Roland Garros, por exemplo. O que me chamou a atenção foi o uso da câmera na transmissão ao vivo: foco nos atletas quando iam sacar ou depois de uma jogada, close na torcida, especialmente nas esposas dos jogadores ou em personalidades que assistiam – é comum ver o David Beckham na arquibancada. Depois disso, mira no árbitro, depois no placar, volta e assim sucessivamente.

Claro que isso não acontece somente no tênis, mas em muitas outras transmissões desportivas via televisão e também é recorrente em programas televisivos, em especial os realities show. O que isso significa? Que através da montagem de imagens, ou seja, de filmar certas cenas e colocá-las uma após a outra, numa sequência lógica e já pensada, criando uma narrativa, é o princípio do cinema transposto para a televisão.

Isso é bom ou mau? Depende. Primeiramente, isto é uma descrição do que acontece na nossa sociedade. Podemos pensar que é interessante um jornal criar uma narrativa para expor uma reportagem de maneira criativa; mas se esse jornal foi o JN e estiver manipulando uma informação? As questões são delicadas e quanto mais perguntas fazemos, mais pensamos a respeito.

Uma última coisa antes de terminar essa pensata. Vivemos, definitivamente, no mundo da imagem. O Instagram não nos deixa mentir, já que é uma rede social que é o império da imagem, cheia de filtros, inclusive para manipular as imagens – de um dia de sol a imagem, depois de tratada, pode parece como um dia londrino nublado. Os realities, cujo BBB é um grande exemplo, mas que, para mim, as Kardashians são insuperáveis como melhor prova dessa lógica da manipulação de uma “vida” através de imagens gravadas e montadas em filme, que dão a sensação – aos incautos – de que se trata da vida real daquelas personalidades anódinas. Se é bom ou mau, fica a critério da e do leitor; o objetivo da coluna é incitar o debate.

Rodrigo Mendes