As pessoas que moram no bairro Jardim das Oliveiras, em Araquari, receberam uma ordem de reintegração de posse e despejo. Muitos atos foram organizados contra a desocupação. Para quem mora na ocupação, é necessário perder uma tarde de trabalho para não perder a casa. “Ocupar e resistir” é o lema.
Na manhã de terça-feira (14), moradores e moradoras fizeram uma manifestação pelas ruas da cidade. Na tarde desse mesmo dia, em Joinville, participaram de reuniões na AGU (Advocacia Geral da União) e no MPF (Ministério Público Federal).
No dia 16, na Associação de Moradores do Bairro Jardim das Oliveiras, o povo organizou uma vigília. Uma base para a imprensa foi montada em uma das entradas naquela noite. No começo da vigília de resistência da ocupação, quando a comunidade se organizava para assistir o movimento Baque Mulher, foi feito um alerta para o Jardim das Oliveiras. Muitas mensagens e informações são compartilhadas nas redes sociais, mas também compartilham muitas mentiras. A circulação de fatos não comprovados pode prejudicar a comunidade.
Outra informação que foi dada na vigília é que o Conselho Tutelar questionou o fato de as crianças participarem das manifestações. O Conselho Tutelar não mostra nenhuma preocupação pela moradia, mas questiona as crianças protestando. As mesmas crianças pedem material escolar para o retorno às aulas. Depois dos informes, o Baque Mulher fez uma apresentação.
Um ato ecumênico também foi organizado pelo bairro. Aconteceu no dia 12 de janeiro (domingo). Um padre e um pastor protestaram. O padre participou da manifestação na terça-feira. A manifestação ecumênica contou com música ao vivo e confecção dos cartazes das crianças. Conforme um dos cartazes confeccionados, as crianças acreditam que não tem família sem moradia. Em outros cartazes, as crianças também reivindicaram direitos para trabalhadores do campo e da cidade, além de mensagens cristãs.
A ocupação tem muitas histórias
Elberson Wilki e Tailize Wilki estavam de saída do ato ecumênico quando aceitaram uma conversa. O morador de 31 anos disse que são 6 meses de moradia ocupação. Tailize, 28, precisa buscar alternativa em Araquari. Com três filhos, o casal não tem parentes na cidade, só em Joinville. Elberson e Tailize acompanharam reuniões e também estão lutando pelo espaço. Participaram na manifestação na terça.
Josias dos Santos é indígena, está na ocupação há nove anos. Ele participou da manifestação nas ruas de Araquari. Falou em frente à prefeitura naquele dia. Ele disse, no discurso, que tem pessoas na cama, que não podem caminhar. “Tem pessoas que não tem condições nem mesmo de dar um grito de guerra hoje”, grita.
A bandeira do Brasil foi levada nas manifestações de rua, mas não na intenção nacionalista das manifestações de verde e amarelo. É no sentido de resistência, de luta por um pedaço de terra. Segundo um levantamento da ONU, 33 milhões de brasileiros não tem onde morar.
Cerca de 200 famílias moram na ocupação. São 250 crianças. O número de pessoas varia muito, muitas famílias saíram, mas algumas entraram durante a ameaça de reintegração de posse. São homens e mulheres que escolheram o local por dificuldades com aluguel ou com o pagamento de seus antigos terrenos. São trabalhadores que juntaram dinheiro, ao longo dos anos, para construírem suas residências. O território da ocupação era da Secretaria de Patrimônio da União (SPU).
Leonice Pimentel Maciel, 39, mora na ocupação porque não quer mais pagar aluguel. Quer uma terra para melhorar a vida dos filhos, não quer tirar o dinheiro da comida para pagar moradia. Leonice passa por muitas necessidades na ocupação, algumas se aplicam à água e luz. Também quer regularização para as crianças estudarem em uma escola no bairro. “Já estão estudando, já tá uma grande coisa”, fala. Ela não tem condições de pagar aluguel. “Alguns não tem como pagar aluguel”, conclui. Lembrando que as crianças do bairro estão pedindo material escolar.
Maiane Alves de Oliveira, 28, e Rômulo da Cruz França, 30, também moram na ocupação. Ele é trabalhador autônomo, investiu as economias na construção da casa. Maiane está desempregada. Eles tem uma filha. Maiane e Rômulo vão em todas as reuniões e ajudam a associação financeiramente. Com parentes no Pará, as dificuldades para Maiane aumentam. “Fico triste, temos crianças”, diz a mãe. Se sofrer despejo, o casal vai botar as coisas dentro do carro.
Solange Borges da Motta, 29, mora no Jardim das Oliveiras há 3 anos. Faz parte da associação e tem dois filhos. Em defesa do espaço, ela contribui buscando seus direitos de moradia, conversando com o povo da ocupação e de Araquari. “Queremos nada de graça”, reclama. Ela quer a regularização do terreno para moradia.
Solange tem poucos parentes para pedir ajuda, as condições de seus familiares nem sempre são boas. “Eu sei que todo mundo tem direito a um pedacinho de terra, então, quero pagar meus impostos, eu já pago a taxa de lixo. Só quero um direito de moradia”, explica, confiante de que vai conseguir manter a casa na ocupação. A mãe da Solange é uma pessoa que ajuda ela na ocupação.
Reni dos Reis, 51, mãe da Solange, cuida de um pequeno comércio no bairro para ajudar no sustento da família. Valdomiro Domingos, 69, é marido da Reni. Ele costuma dar uma cerveja para o repórter que visita o local, a lata de Schin é R$2,50. Mas o comércio também tem sorvete, geladinho e outros produtos. Marinês dos Santos, 42, frequenta o local para botar o papo em dia. O filho dela comprou a casa para ela morar na ocupação, mas ele mora na zona sul de Joinville.
“Não quero discutir minha casa. Vou ficar morando aqui muito tempo”, diz Miguel Antonio Tkcsuk, 56. Quando foi questionado se teria outra alternativa para moradia, Miguel respondeu que nenhum parente pode ajudá-lo. “Só eu e Deus”, afirma o morador.
Dificuldades de locomoção e construções
Tem pessoas no bairro que têm dificuldades de locomoção. Como foi lembrado por Josias no discurso em frente à prefeitura, algumas pessoas estão de cama, não têm condições de dar um grito de guerra em um protesto.
Marilene Pereira dos Santos Antero, 46, jardineira e diarista, mora com Venicius Neces, 49. O marido trabalha como pedreiro. A situação da Marilene é muito difícil. Seu marido está de cama porque sofreu um acidente no dia 19 de janeiro. Eles foram comprar ração para gatos e Venicius foi atropelado.
“Como que vou ficar com meu marido que sofreu acidente? Tá acamado, usando fraldas, como que eu vou deixar meu marido? A gente não tem pra onde ir. O prefeito nem quis receber as pessoas, como é que eles vão tirar a gente daqui, agora, com meu marido acamado?”, questiona Marilene.
O casal pagava aluguel e achou que era um lugar legalizado. Marilene argumenta que pagou pelo local e paga taxa de lixo. Venicius vai ficar 90 dias de cama. “Para onde a gente vai? O senhor teria coragem de colocar uma pessoa inválida na rua? Colocar a gente na rua?”, pergunta Marilene.
Silas Ventura, 37, também é pedreiro. Mora na ocupação há seis anos, tem dois filhos. A família não sabe o que fazer ainda, caso tenha que sair dali. Agora que eles começaram a mexer na casa, estão construindo. As telhas estão ao lado de casa, prontas para a reforma. “Vamo tirar o que der e não sabemos nem para onde levar”, afirma Silas.
Marcos Roberto Duarte, 38, está há 3 anos na moradia. Caso seja obrigado a sair da casa, vai desmontar tudo e botar debaixo da ponte. “Mas Araquari não tem nem ponte pra gente”, diz. A família tem um casal de gêmeos. “É lado político que tá acontecendo aqui, ninguém quer dar uma força. Ajude os pobres, por favor. Nem todos conseguem rapidinho um terreno e quitar”, reclama.
As pessoas que moram na ocupação pensam de maneiras diferentes. Muitas tem um pensamento político à esquerda, outras escolheram votar nos partidos de direita na última eleição. É o caso do morador Ivan Cardoso, 61, enfermeiro aposentado. Ele é um trabalhador que não contribuiu com o INSS enquanto era enfermeiro, portanto, não recebe um valor razoável na aposentadoria. Contudo, votou 17 para presidente. Também votou em algum filho de Jair, que não perguntei qual é. Ele também votou no Clenilton para prefeito de Araquari. Hoje ele se arrepende. É no desespero que as pessoas fazem decisões erradas.
O Repórter Popular continuará cobrindo a situação das famílias que moram no Jardim das Oliveiras. Uma reclamação recebida é sobre a coleta de lixo. Solange e Reni reclamaram que o caminhão de lixo não passa nas casas delas. O argumento da empresa de coleta, segundo elas, é que algumas pessoas não pagam. Também tem o problema dos buracos nas ruas, um caminhão já quebrou durante o transporte. Além de material escolar para estudantes, o povo também pede saneamento básico, água e luz.