A greve nacional dos caminhoneiros que começou na segunda dia 21 de maio tá sacudindo de norte a sul o país e provocando um grande apoio popular. É o povo trabalhador e a massa cada vez maior de desempregados e pobres que vivem de bico (cerca de 27,7 milhões hoje) que acabam pagando, no final das contas, pela subida de preços de combustíveis e gás de cozinha. Quanta gente se vê obrigada a cozinhar com lenha por que não tem renda pra bancar a alta perversa do custo de vida.
Foram os caminhoneiros autônomos, esses que dão a vida nas curvas da estrada desse Brasil enorme, os peões da boléia do caminhão, que começaram o movimento. Pelo menos duas coisas são reclamadas: a redução do combustível que é reajustado violentamente nos últimos anos; a correção da tabela dos fretes. Quando peão faz paralisação, para o seu trabalho em protesto e grita suas reivindicações, se diz GREVE! Greve é uma ação direta do movimento dos trabalhadores que foi criada ao longo da história dos de baixo, dos oprimidos, como fator de resistência ao abuso dos patrões e dos governos.
Os donos de transportadoras e empresas de logística vieram na cola. Eles trouxeram pra dentro do protesto a pauta da redução de impostos. Antes de continuar, rapidamente vale lembrar que, quem paga mais imposto no Brasil são os pobres, com os tributos escondidos no consumo. As indústrias, os bancos e os grandes empresários, de todo tipo, são campeões de sonegação fiscal. Isso quando não tomam dinheiro público emprestado e são perdoados pelo governo ou rolam a dívida pro dia de “são nunca”. Por isso quando empresário manda o empregado parar a produção ou a circulação, por exemplo, se diz LOCKOUT e não greve.
Então a situação fica assim: os caminhoneiros autônomos, explorados e precarizados, fazem greve. Os patrões fazem lockout. E quando fazem querem tomar oportunidade no sofrimento alheio, usar da pressão pra morder mais privilégios nas costas do peão. Esse movimento que toma conta do país tem tudo isso e mais um pouco.
Também estão na disputa, no fogo cruzado do que se fala, se escuta, da interpretação do que cada um faz, os interesses de poderosos grupos capitalistas transnacionais que dominam o setor de energia, neste caso a cadeia produtiva do petróleo. O governo Temer junto com esses grandes capitalistas do mercado internacional quer fazer negócios com a Petrobrás a todo pano, privatizá-la de qualquer jeito e com isso, jogar na mão da ganância privada o controle de preços e o abastecimento popular. A grande mídia, Globo e companhia, joga nesse time e monta um discurso que justifica essa política de ajuste que traz miséria e mais arrocho para os pobres.
Por que sobe tanto o preço dos combustíveis e por que devemos defender a Petrobrás pública e a serviço do povo?
O Brasil produz petróleo suficiente para atender o consumo interno, de onde vem a gasolina, o óleo diesel e o gás de cozinha, por exemplo. Mas por culpa de uma política de mercado, onde mandam as transnacionais, a Petrobrás aumenta a exportação de petróleo crú e reduz a produção de suas refinarias. A consequência é que crescem as importações dos derivados de petróleo e os preços são determinados pelos grupos que controlam o setor.
Desde metade de 2016 os preços dos combustíveis já foram reajustados 216 vezes. Esses preços tem efeitos sobre todo o custo de vida dos trabalhadores que tem salários e direitos sociais atacados e sobre os milhões de desempregados que tragicamente tem o país.
O preço dos combustíveis e do gás são determinados, então: pelo mercado internacional dos grupos capitalistas que exploram o setor e os conchavos de países produtores de petróleo, pelas decisões de sucateamento e subordinação do governo brasileiro ao mercado e por toda variedade de especuladores da desgraça popular que mordem a sua parte no meio disso tudo.
Tem luta de classes fervendo por dentro do alvoroço criado no protesto dos caminhoneiros. Mas a realidade é complicada e na maioria das vezes produz acontecimentos que tem vários sentidos, interesses confusos. Se o povo quer enfrentar tanto abuso e deboche que fazem os empresários e governantes terá que se impor nas ruas com um movimento mais forte ainda, unido na greve como classe trabalhadora e separado dos interesses que dirigem o lockout dos patrões.
Os petroleiros anunciaram uma greve de 72 horas a partir desta quarta dia 30 de maio. Se unem ao protesto nacional contra o aumento do custo de vida e contra mais uma tentativa de privatização da Petrobrás. A defesa popular da Petrobrás pública e a redução dos custos de vida do povo é só o ponto de partida de uma luta social que, se quer solução real, tem que avançar pela luta e organização dos de baixo pra mais controle operário e popular sobre os bens e recursos estratégicos do país. Intervenção militar é mais repressão numa sociedade tão injusta e desigual como a brasileira. Os milicos sempre foram a garantia da ordem miserável e a salvação para os ricos quando o povo se levanta contra as injustiças sociais. Só o povo salva o povo.
Um povo forte move tudo ou para tudo.
O POVO TEM VOZ!