Do Setor de comunicação do Movimento de Organização de Base – RJ
Daniela, Rosane e Léia. Em comum, viviam em áreas de risco ou não conseguiram pagar aluguéis da cidade do Rio de Janeiro. A solução foi a Ocupação Elza Soares, que existe há mais de um ano na Zona Norte da capital carioca e reúne muitas outras histórias semelhantes. Entre as profissões, manicures, donas de casa e camelôs que dividem seu tempo entre o trabalho e o sonho da casa própria. Aos 67 anos e aposentada, Marluce vivia fora da cidade do Rio de Janeiro e não conseguia mais pagar o aluguel. Precisou entregar sua geladeira para o antigo proprietário da casa onde morava para abater as dívidas .
Há também pessoas desempregadas e outras com problemas de saúde. Ao todo, são 26 famílias vivendo no prédio que anteriormente era um hotel e fechou as portas. Antes da ocupação, o lugar estava sujo e causava riscos aos moradores da região. Agora, a convivência é pacífica, o ambiente é tranquilo e acolhedor. Desde que chegaram no prédio, que está em bom estado de conservação, os moradores se revezam para dar vida ao que estava abandonado, realizando limpeza e manutenção. Além disso, organizaram um salão de beleza que funciona aos sábados.
Uma vez por mês, as moradoras e moradores realizam assembleias para discutir a situação da ocupação, com apoio jurídico da Frente Internacionalista dos Sem-Teto, onde discutem problemas e soluções. Um dos moradores afirma que “a prefeitura mesmo não está nem aí”, e todos reconhecem que a única aproximação do poder público foi por meio das ameaças de despejo. Outros ocupantes relatam a dificuldade de acessar os serviços essenciais, como no caso de Roseane, grávida que apesar de ter acompanhamento pré-natal, não consegue continuar os exames de sua gravidez de risco. “O SISREG está marcando uma data [de atendimento] depois da previsão do parto”, conta ela.
Na ocupação também funciona, em alguns dos quartos, um projeto social chamado Casa Nem, um espaço de acolhimento a população transexual, travesti e transgênero. Ali, realizam um curso pré-ENEM chamado PreparaNem, uma forma de democratizar o acesso ao ensino superior.
O nome da ocupação foi escolhido pelos próprios moradores. Um deles explica: “é uma mulher batalhadora, que apanhou muito na vida e que luta por causas das minorias”.
O despejo da ocupação está marcado para o mês de março, o que deixa os moradores estão apreensivos, já que a maioria não tem para onde ir. A ocupação é um retrato do descaso do poder público com a questão da moradia. As moradoras e moradores seguem se organizando e exigindo do poder público a manutenção da posse e o cancelamento do despejo. Como no trecho da música “Volta por Cima”, de Elza Soares, os moradores e moradoras não desanimam. “Levanta, sacode a poeira, E dá a volta por cima!”.