Movimentos protestam no Palácio Guanabara contra o programa “Cidade Integrada”

Nesta terça-feira, dia 16, diversos movimentos populares se reuniram na frente do Palácio Guanabara, em Laranjeiras, para protestar contra o programa “Cidade Integrada”, uma tentativa de ocupar militarmente as favelas, colocado em prática pelo governo do estado. O programa iniciou na comunidade do Jacarezinho, na zona norte, e já acumula denúncias de abuso e violência policial. Moradores relaram terem tido suas casas invadidas e reviradas por policiais, e na última semana protestaram na avenida Dom Hélder Câmara após uma pessoa ter sido assassinada pelos agentes.

“Eu venho sempre pedindo nas minhas falas para que as pessoas da sociedade se engajem na nossa luta porque é uma luta legítima. As favelas têm sido massacradas por conta da falácia do combate ao crime organizado. E eu peço a todos que leiam a matéria, que façam uma reflexão: algum dia vocês viram armas e drogas caindo do céu? Não. Eu moro há 42 anos na favela de Manguinhos, é uma favela bastante violentada, e eu nunca vi uma fábrica de armas ou uma plantação de drogas dentro da minha favela.” – Conta Patrícia, militante das Mães de Manguinhos, em entrevista ao Repórter Popular.

manifestante segura cartaz com os dizeres “Silêncio branco é racismo e violência.”

O protesto começou por volta das 16 horas e contou com a participação de diversos movimentos populares. As faixas denunciavam a letalidade policial e o genocídio do povo negro, bem como homenageavam as vítimas desse massacre. Mesmo com a ADPF 635, que proíbe operações policiais nas comunidades e foi conquistada pela luta dos movimentos de favela no começo de 2020, o estado continuou realizando as incursões de maneira ilegal, e nesse curto tempo de 2 anos tivemos episódios brutais protagonizados pela polícia, como a chacina do Jacarezinho e a do Salgueiro.

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Patrícia diz ainda que: “O que eu vejo, é que quando falam de combater o tráfico de drogas eles esquecem que o verdadeiro bandido não mora na favela. O verdadeiro bandido, que fomenta o tráfico de drogas no nosso país, principalmente na nossa cidade, ele se encontra nas áreas mais nobres do Rio de Janeiro. Ele se encontra nas fazendas, e são eles os donos dos aeroportos clandestinos por onde chegam todas as toneladas de drogas e todas as grandes quantidades de armamento pesado de guerra.”

Faixa do coletivo Mães de Manguinhos homenageia 10 vítimas da letalidade policial.

O “Cidade Integrada” se insere ainda em um contexto de diversos casos de violência e assassinato contra pessoas negras, e todos com a participação direta ou indireta de militares. É o caso de Moïse, cuja morte foi motivo de protestos organizados pela Comunidade Congolesa na semana retrasada, de Durval, morto por um vizinho ao chegar em casa e procurar por suas chaves, e de Hiago, vendedor de balas que foi assassinado por um policial militar à paisana ao tentar se aproximar para vender balas, na estação das Barcas, em Niterói.

protesto após assassinato de Hiago em Niterói

O caso de Hiago motivou um protesto nesta terça-feira, na praça Arariboia. Centenas de pessoas se solidarizaram com familiares e amigos do rapaz, que realizaram o protesto denunciando o caso e a conduta da Guarda Municipal de Niterói, que reprimiu com violência a revolta após o assassinato do vendedor. Diversos ambulantes da região se somaram à manifestação.

Faixa com os dizeres “Estado genocida! Estado racista!” abaixo da placa do Palácio Guanabara.
Faixa com os dizeres “Estado genocida! Estado racista!” Ao fundo, policiais fazem a proteção do Palácio Guanabara.
Faixa da Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência homenageando diversas vítimas da letalidade policial.
Faixa preta com os dizeres “Chega de chacina, exigimos justiça” pendurada em frente ao Palácio Guanabara