Movimento da População de Rua ocupa área em Porto Alegre. Leia a carta

Dia 29 de março iniciou a Ocupação Aldeia Zumbi dos Palmares, organizada pelo Movimento Nacional da População de Rua (MNPR/RS). A área ocupada fica na Avenida Loureiro da Silva e foi abandonada pela prefeitura. Leia abaixo a carta publicada pelos ocupantes.

Carta da Ocupa Aldeia Zumbi dos Palmares à comunidade de Porto Alegre

No último dia 29 de março, nós do Movimento Nacional da População de Rua do Rio Grande do Sul (Mnpr/RS), ocupamos o terreno abandonado pela prefeitura localizado na Loureiro da Silva n. 1750, após repetidos desalojos decorrentes do suporte precário que fornece o programa Aluguel Social, e da inabilidade das políticas públicas do DEMHAB (Departamento Municipal da Habitação) em atender as demandas da população de rua.

Nossa intenção é construirmos aqui nossa moradia e um ponto de cultura, segurança, integração e geração de renda – através de uma horta comunitária, principalmente.
Sempre vimos o Aluguel Social como uma esmola, sendo muitas vezes uma promessa que não se concretiza, pois o dinheiro frequentemente não chega até nós. Com o valor de até R$ 500 que o DEMHAB “oferece” mensalmente para o aluguel de um imóvel por no máximo 1 ano, ao longo desse mesmo ano teríamos o montante de 168 mil, que seria de forma mais inteligente investido em uma moradia fixa para nós.

Queremos o direito de permanecer junto de nossas famílias e amigos em uma moradia digna e coletiva, dados os vínculos que construímos ao longo de mais de 10 anos atuando juntos no Mnpr/RS. A ocupação tem integrantes do Jornal Boca de Rua e alunos da Escola Porto Alegre, esta localizada logo atrás do terreno por nós ocupado. Lutamos por muito tempo pelo não fechamento da escola, à qual nos sentimos pertencentes, pelo acolhimento e respeito a nós dedicado ali.

Destacamos a importância que damos às pautas relacionadas às mulheres em situação de rua. Temos como exemplo a falecida companheira Rita, que morreu esperando pelo depósito do Aluguel Social e foi internada compulsoriamente, enquanto grávida, perdendo a guarda de sua recém nascida justamente por não ter moradia. Isso acontece muito frequentemente com as mulheres em situação de rua que, titulares do Aluguel Social, perdem a guarda de suas crianças por não poderem lhe oferecer uma estrutura adequada, em decorrência de ser a prefeitura uma má pagadora. Porém, ainda que fosse pago regularmente, o programa não seria eficaz, por sua duração de 6 meses a no máximo 1 ano, deixando ao cabo disso a mãe desamparada.
Por todos os motivos já citados, nós da Ocupa Aldeia Zumbi dos Palmares repudiamos a política do Aluguel Social e reivindicamos este terreno para construção de nossa moradia, FIXA e COLETIVA.

02 de Abril de 2018, Porto Alegre