[Mato Grosso] Práticas de racismo e assédio na Universidade Federal de Rondonópolis

Recebemos, recentemente, denúncia sobre atos de racismo e assédio na Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) de Mato Grosso. Não se trata de um primeiro episódio do tipo registrado na instituição, que antes era um campus da UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso. Difundimos, abaixo, a Nota de Solidariedade escrita e assinada por movimentos sociais e organizações políticas que atuam na cidade em questão e em outras regiões do estado de Mato Grosso.

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NOTA DE SOLIDARIEDADE AOS ESTUDANTES VÍTIMAS DE RACISMO E REPÚDIO AO PROFESSOR DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDONÓPOLIS

Aos 20 de maio de 2022.

O intuito desta nota é sobretudo o de prestar solidariedade não apenas a este estudante, mas a todos que um dia foram, de certa forma, humilhados e constrangidos pelo docente. Acreditamos que a melhor forma de fazer isso é expondo o caso para que a própria universidade em questão se posicione.

No último 12 de maio, durante uma aula de História Antiga ministrada pelo professor Adilson Francisco José, do Departamento de História da UFR, uma situação criminosa de racismo ocorreu. Durante a aula a respeito do Império Alexandrino, o docente fez referências à inferioridade racial que separava o povo grego dos povos do

Oriente Próximo. Para “exemplificar”, ele apontou e fez menção em encostar no cabelo estilo “black power” de um estudante negro. Infelizmente, esse caso não foi isolado. Há diversos relatos anteriores, inclusive com o mesmo estudante. Em outra situação, ao falar sobre um assunto em sala de aula, o professor disse para o estudante “seu grupo vai falar sobre isso”, porém, após o discente olhar para trás por achar que o docente conversava com alguém atrás dele, ouviu o professor de História falar “você mesmo, cabelo duro”, o que foi confirmado por outros colegas.

É INADIMISSÍVEL que dentro de um espaço do saber, do conhecimento e da diversidade, onde as discussões sobre racismo são inúmeras, onde há 34 anos a Constituição Federal instruiu o racismo como crime, diante de tudo o que vivemos nos últimos anos nesse país, com rompantes negacionistas, um professor não honre a sua ciência e utilize seu lugar de autoridade para cometer atos criminosos contra toda sorte de minorias.

O mesmo docente já protagonizou atos de machismo (quando uma discente chegou para a aula de cabelo solto e ele insinuou que “a noite dela tinha sido muito boa”), de gordofobia, (quando insinuou à outra discente que “com aquele tamanho e blusa neon ela não passava desapercebida”) ou mesmo quando tentou censurar atividades culturais (Desligou a caixa de som de um sarau periódico.). Além destes casos já citados outra situação que perpassa a violência de gênero e raça, ocorreu enquanto uma estudante-mãe, da graduação em história sofreu junto ao seu filho, algumas retalhações em sala de aula, sendo a mais grave, ter que deixar seu filho assistindo uma aula de Brasil República no ano de 2017 do lado de fora da porta, e quando a criança com menos de dois anos de idade assistia à um desenho no celular, o professor reclamou, saiu da sala, pegou o celular da criança e abaixou o som, fechando a porta com a criança pra fora em seguida, estudante essa que por ser negra e ocupar os espaços acadêmicos com seu corpo materno, já vinha sofrendo com desmotivações em sala pelo docente. Atitudes como essas não podem ser aceitas numa sociedade que escravizou pessoas por mais de 350 anos. Menos ainda no espaço da Universidade.

O racismo e o sexismo MATAM. Por isso sempre que escutamos e vimos situações desse tipo, precisamos repudiar e punir tais ações. Não se pode ser tolerante com os intolerantes. E nesse caso, ainda mais. Um professor, como representante legítimo da ciência deve apropriar-se dela como instrumento de transformação pessoal e social. Se este não for um dos papéis principais da ciência, em especial da Ciência Histórica, não há mais nada a ser feito.

Exigimos que o Departamento de História, o Instituto de Ciências Humanas e Sociais e a Universidade Federal de Rondonópolis tomem ações em relação à tudo que vem sendo exposto há anos neste espaço acadêmico em relação ao docente e suas práticas inaceitáveis.

RACISTAS NÃO PASSARÃO!

ASSINAM A PRESENTE NOTA, AS SEGUINTES ENTIDADES:
– AFRODIVAS DE NITERÓI – BRASILEIRAS E CIA
– APEDEFA – ASSOCIAÇÃO DE PESQUISA EM ESTUDOS E DEFESA DE NEGRAS E NEGROS DE  TUCURUÍ-PA
– GEABI- GRUPOS DE ESTUDOS AFROBRASILEIROS E INDÍGENAS – ALTAMIRA-PA
– GRUPO ESTUDANTIL DE PRÁTICA DOCENTE
– MATERNA – NÚCLEO VIRTUAL DE PESQUISA EM GÊNERO E MATERNIDADE – NACIONAL
– OCUPA CRISTO REI SKATE PARQUE – ANTIFA
– RUSGA LIBERTÁRIA
– OEE – OLHARES POR UMA EDUCAÇÃO EMANCIPADORA
– UNEGRO – RONDONOPÓLIS
– APG – UFGD – ASSOCIAÇÃO DE PÓS-GRADUANDOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS
– APG UNEMAT – ASSOCIAÇÃO DE PÓS-GRADUANDOS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO
– REPRESENTANTES DISCENTES DO PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA/UFMT
– DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTUDANTES – UFR
– DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTUDANTES – UFMT
– DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTUDANTES – UNEMAT