Por Repórter Popular
Na cidade canadense de Calgary, na tarde do último domingo (15) foi realizado um ato público de solidariedade à Palestina em frente à sede da administração municipal, no centro da cidade. Cerca de 200 pessoas estiveram reunidas ali, entre falas de repúdio à “violência extrema conduzida pelo ilegítimo estado de Israel”, cartazes com dizeres de apoio à resistência palestina e gritos incansáveis de “free free Palestine”, ou seja, “Palestina livre”. Protestos como esse têm sido observados nos últimos dias ao redor do mundo.
Essa demonstração de solidariedade foi convocada por um grupo local da cidade de Calgary chamado Justice for Palestinians [Justiça para Palestinos]. O grupo foi criado em 2009 em um contexto de apoio ao movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS). O movimento BDS é o resultado do chamado da sociedade palestina por ações contra o estado de Israel, de maneira a pressionar este país para que passe a cumprir as normas do direito internacional e dos princípios universais de direitos humanos.
O movimento BDS surgiu em 2005, um ano após o parecer da Corte Internacional de Justiça que definiu como ilegal a construção do muro de Israel. O muro busca reforçar a divisão física entre o território árabe da região da Cisjordânia e o estado de Israel. Mesmo com a decisão da Corte Internacional de Justiça, a construção do muro avançou ao longo dos anos, algo que contribuiu com a expansão territorial do estado de Israel sobre o território palestino, que torna-se cada vez menor e resulta no confinamento da população palestina a um espaço geográfico muito reduzido, se comparado ao território historicamente ocupado por essa população. Em outras palavras, Israel desrespeita as regulamentações do direito internacional e persiste com ações de expansão territorial, que resultam no genocídio continuado de vidas palestinas.
Nesse contexto, as ações propostas pelo movimento BDS buscam frear as investidas de Israel contra as pessoas palestinas. Para isso, são organizadas campanhas que mobilizam estrategicamente diferentes setores da sociedade civil e buscam pressionar os governos e empresas para que interrompam qualquer tipo de apoio ao estado de Israel. Além do incentivo para que se estabeleçam sanções governamentais contra o país, o movimento BDS propõe ações também na esfera cultural e ideológica, ao mobilizar boicotes acadêmicos, artísticos e trabalhistas contra Israel. Esses boicotes culturais buscam atuar como forma de pressão contra a precária e violenta situação cotidiana que atravessa a população palestina desde o estabelecimento do estado de Israel.
É nesse cenário mais amplo que as manifestações ocorridas na cidade de Calgary (CA) tomaram lugar. Em meio às demonstrações de solidariedade, vale destacar o apoio de lideranças sociais de outros países do Oriente Médio, como Paquistão e Irã, bem como de representantes de movimentos indígenas, religiosos e partidários do Canadá. Houve também falas públicas de judeus independentes que são contrários ao terror empreendido pelo estado de Israel, numa manifestação explícita de aversão ao extermínio palestino promovido por aquele país com largo apoio político e financeiro do ocidente.
A população reunida no centro da cidade de Calgary questionou o posicionamento do governo canadense diante da situação de conflito, uma vez que as manifestações iniciais do primeiro ministro Justin Trudeau foram de apoio a Israel. Com o passar dos dias, a ausência de uma posição explícita do primeiro ministro contra as recentes ações do país contra a Faixa de Gaza tornou-se objeto de repúdio durante as manifestações visto que, segundo as manifestantes, esse silêncio é também uma maneira de concordar com aquelas ações, que deveriam ser imediatamente interrompidas e amplamente condenadas como crimes de guerra. Nesse caso, até falar em silêncio é uma maneira de suavizar a postura do governo conduzido por Trudeau, já que no fim de semana anterior, em 8 de outubro, a bandeira do estado de Israel foi projetada na Peace Tower [Torre da Paz], na cidade canadense de Ottawa.
O grupo Justice for Palestinians indicou que as manifestações na cidade de Calgary continuarão acontecendo até que a violência praticada pelo “ilegítimo estado de Israel” seja interrompida. Uma marcha foi convocada para o próximo domingo (22) e o ponto de partida será novamente no City Hall.
Histórico da situação
A Faixa de Gaza, juntamente com Cisjordânia e parte de Jerusalém representam o território atualmente ocupado pelo povo da Palestina. Estes lugares estão inseridos numa área mais ampla, onde historicamente viviam os palestinos, mas que nos dias de hoje é conhecida como estado de Israel. Com o fim da segunda guerra mundial, a perseguição sofrida pelos judeus reforçou no ocidente as condições políticas para o projeto sionista, que defendia a criação de Israel e resultou na partilha do território palestino.
O território palestino foi dividido em 1947 pela Organização das Nações Unidas (ONU), quando ficou formalmente estabelecida a criação de Israel, um estado judeu com características colonialistas. Desde então, o estado de Israel tem conduzido ações de extermínio da população palestina, caracterizadas por pesquisadores do tema como uma espécie de limpeza étnica. A população palestina atualmente busca resistir ao extermínio cotidiano que é apoiado e patrocinado pelos países do ocidente, como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha.