Gaspar Noé parece estar cada vez mais excêntrico e preocupado em chamar atenção em seus filmes. Love, última filme que vi de sua produção, prometeu ser um filme no qual as relações interpessoais seriam a chave que desencadearia o sexo. Contudo, foi o sexo que desencadeou tais relações, estas não foram nem um pouco aprofundadas e manteve-se, então, a superficialidade em tão alto nível que chegou ao cúmulo do ridículo nas cenas de discussões exacerbadas, como na cena do táxi ou no apartamento de Electra, cenas estas que nos fazem rir ao invés de se chocar ou preocupar-se com o que acontecia. Aqui já podemos apontar do que se trata o filme, usando a brilhante síntese de um colega: “um filme pornô travestido de filme cult”.
O filme, como um todo, parece ser uma homenagem – de mal gosto – ao próprio diretor, quase como uma metalinguagem, já que a todo instante percebemos símbolos que remetem ao diretor e sua filmografia, tais como: o VHS de I Stand Alone na prateleira (filme dirigido por Noé em 1998); a maquete do motel Love (do filme Enter the void); o nome de alguns personagens (Gaspar e Noé, ápice do egocentrismo) e a própria atuação do diretor como um ex-namorado de Electra.
Como dito acima, não houve aprofundamento de personagens e relações e, na contramão, o diretor utilizou o preguiçoso recurso da narração em off, que além de ser um método clichê para contar a história foi utilizado de maneira grotesca, idiota, soando extremante caricato nas vezes que ouvíamos Murphy vociferar seus pensamentos.
Já ficou claro que Noé é um obsessivo em relação ao sexo e o mostra em quase todos seus filmes. Em alguns casos faz mais sentido, como Irreversível, embora aqui esteja carregado de misoginia e fetiche na famosa cena do estupro. Mas em Love Noé decidiu ir além, mostrá-lo de forma crua, pornográfica. Outros diretores já o fizeram e de formas infinitamente superiores, vide Os Idiotas de Lars Von Trier (que também é um diretor excêntrico e com problemas em relação ao sexo) ou Pola X, de Leos Carax. Noé, pra piorar, fez o longa em 3D (mais um ponto para chamar atenção). O 3D é usado em filmes que usam em demasia planos gerais, abertos, aprofundando desse modo o campo de visão do espectador. Aqui vemos praticamente só closes, cenas fechadas, o que torna o uso desse recurso totalmente descartável. Parece que o diretor usou apenas para dar a sensação de voyeur ao telespectador, o que, se estou certo, torna o filme definitivamente pornô.
Noé, como visto em outros de seus filmes, sabe compor uma atmosfera através de cores e movimentos de câmeras, (recursos usados em larga escala em Irreversível). Nesse filme não é diferente: a troca de cores e enquadramentos têm função narrativa e contribuem mais para a história do que propriamente os diálogos e o enredo de maneira geral. Erra acertando, ou acerta errando, o que ficar melhor.
Em suma, um filme ruim, machista e pornográfico, provavelmente o pior do diretor. Noé precisa se dedicar mais à narrativa e ao roteiro e deixar de apelar em todas suas cenas. Talvez, quando volte a fazer filmes como Carne, com sutilezas interessantes (vi faz tempo, pode ser que eu esteja errado) Noé volte a acertar. Um filme DR (como classificou um crítico) é a melhor análise que podemos fazer de Love, um filme com muito sexo e pouca história.