Em Joinville, oficina “Educação em Perspectiva Integral” propõe novas maneiras de se pensar o educar

Em um sistema que pensa na educação como forma de obter lucro, outras possibilidades para se educar são necessárias. Pensando nisso, a Biblioteca Comunitária Lutador Dito, da Amorabi (Associação de Amigos e Moradores do Bairro Itinga), em Joinville/SC, recebeu no sábado, 11 de novembro, a companheirada do MOB (Movimento de Organização de Base) de Curitiba/PR, que realizou a oficina “Educação em Perspectiva Integral”.

A atividade reuniu estudantes, trabalhadoras e trabalhadores atuantes, ou não, em movimentos sociais territoriais e estudantis. A mediação da formação foi feita pelas companheiras Anita Ferreira e Camila Grassi, enquanto a oficina foi organizada pelo Cursinho Popular e Biblioteca Comunitária Lutador Dito, ambas da Amorabi, Resistência Popular Estudantil de Joinville e o MOB.  

O evento foi dividido em dois momentos. O primeiro, dedicado aos conceitos teóricos da pedagogia libertária e libertadora, passando por Bakunin (Rússia, 1814 – 1876), Ferrer Guardia (Espanha, 1859 – 1909) e Paulo Freire (Brasil, 1921  – 1997), sem deixar de manter o diálogo com autoras da pedagogia feminista não branca e da América Latina. Ainda no período matutino foi possível ouvir a experiência da ciranda na Comunidade da Portelinha, trabalho social feito junto às crianças e tocado pela companheirada do MOB desde 2014. 

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Após a atividade, a moradora do Bairro Itinga e estudante de pedagogia Mayara* fez um reflexão sobre o que foi ouvido na oficina e a necessidade de aplicar esse aprendizado no dia a dia.

Enquanto acadêmica do curso de Pedagogia, ficamos muitas vezes presas aos conceitos de sala de aula e ao currículo estabelecido. No entanto, como foi visto durante a palestra, a educação integral se constitui muito além das paredes de uma sala. É importante resgatar essas concepções pois muitas vezes os alunos são vistos apenas como receptores de informações, e não um sujeito com sentimentos, história, características únicas, necessidades específicas e como um agente de mudança no seu contexto social.

Durante o período vespertino, as companheiras do MOB realizaram uma mística. O objetivo era pensar outras referências para a prática de uma educação popular e com perspectiva de transformar a realidade cruel que o capitalismo impõe. 

Atividade feita durante a oficina

A Marina*, que é professora de História, elaborou um relato sobre a sua experiência no espaço: “o encontro foi um momento de reflexão e alívio. Reflexão a respeito das teorias, o resgate de seus princípios populares e coletivos. O alívio por termos criado um espaço de escuta, acolhimento e compartilhamento de ferramentas para a construção de uma práxis libertadora para professores e alunos.”

Uma das companheiras que realizou a atividade, Anita falou sobre a troca que aconteceu durante a oficina: “Foi um espaço importante para um acolhimento da revolta com o desmonte de um projeto de educação de qualidade, com a exploração do trampo do professorado. Senti que nesse sentido houve bastante empenho em tentar enxergar algumas medidas que podem ser tomadas em função de dar uma força pra seguir nas resistências (tanto individuais quanto coletivas)”, diz.

Para ela, as conversas durante a oficina reforçaram a urgência do desenvolvimento de estratégias que revidem a mercantilização do território e da educação, estas duas últimas muito necessárias para que as pessoas possam seguir em busca de uma vida de qualidade.

“Não existe bem viver sem um território seguro e com tanta violência num processo que deveria ser de desenvolver nossas potências. Voltei pra Curitiba com mais ciência da importância de contribuir com alguns espaços para debate sobre a relação escola e comunidade, principalmente pra tentar entender melhor e repudiar como puder os planos nefastos que o Ratinho Jr (governador do Paraná) propõem com velocidade terrível”, reflete.

Conforme Anita, entre as estratégias para combater a mercantilização da educação, o MOB já encaminha uma roda de conversa com mães e responsáveis das crianças da comunidade Portelinha para tratar do projeto de ampliar as escolas cívico-militares e para discutir a plataformização do ensino. “Que está acabando com a saúde mental das crianças, além de só acentuar a grande desigualdade entre as que têm mais facilidade de acesso a celulares, computadores, internet e aquelas que não têm”, lembra Anita.

Diante das tantas possibilidades de se pensar educação, apresentadas durante a atividade, a Biblioteca Comunitária Lutador Dito, que sediou a oficina, avalia que o sábado promoveu um potente encontro de experiências e formações entre movimentos sociais que pautam educação, literatura e cultura popular, sempre na perspectiva de romper com a sociedade de classes e as suas opressões, criando novas subjetividades comunitárias para organizar e resistir.

*Para preservar a identidade, utilizamos somente o primeiro nome.