LAGOMAR – URUGUAI – FEVEREIRO DE 2006 CONCLUSÕES GERAIS DO 4º ENCONTRO
A situação nos países latino-americanos é similar. Os avanços do imperialismo vêm gerando a violação dos direitos mais básicos, como a alimentação, saúde, moradia, educação, trabalho. Estes avanços não encontraram nos governos social-democratas uma oposição senão, funcionais a este, representam uma peça de troca para continuar aplicando o modelo neoliberal. Alguns exemplos são a criação de bases militares do imperialismo na região, a projeção do ALCA como projeto de livre comércio, pagamento das dívidas externas, políticas privatizadoras, etc. Um imperialismo que se prepara para enfrentar aos povos que se pronunciam em seu contra, mediante a criminalização do protesto social como continuação do terrorismo de estado. A estratégia do império mudou em torno do ALCA, já não o apresenta como projeto global, senão que agora o impulsiona através dos tratados bilaterais de livre comércio, como forma de ir tecendo e implementado dito projeto. Os governos “progressistas” da região não só continuaram o modelo neoliberal, senão que o aprofundaram. Vemos com clareza os diferentes níveis de desenvolvimento do neoliberalismo em cada país e como isso condiciona o trabalho militante, por outra parte, os governos da região têm maior margem político do que os governos anteriores para aprofundar o modelo, já que muitos ex-militantes estão no governo assumiram prometendo mudanças que não estão dispostos a realizar e contam com o respaldo popular. Isso desarma a classe tem a hora de enfrentar o avanço do modelo. Os regimes progressistas aprofundaram o modelo neoliberal sem que medeie grande resistência desde o campo popular. Isto condicionado além da ambivalência que se instala com a perdida de um inimigo claro e com a minimização por parte de alguns setores, a cooptação dos organismos sociais, a institucionalização dos movimentos, a burocratização no meio sindical, etc., contribui à fragmentação do movimento popular. Conquanto vemos no surgimento de novos movimentos sociais sintomas de rearticulação de nossa classe, somos conscientes da necessidade de construir um poder popular real para defrontar-lhe ao imperialismo, o capitalismo e às classes dominantes de cada país. O Estado se ausenta de algumas áreas como a saúde, educação, entre outras e é nesses esvaziamentos onde existe uma brecha para construir resistência desde a sobrevivência. Nestes espaços em que se dá a construção é imprescindível uma permanente revisão desde nossos pensamentos e nossa prática para que nossa intencionalidade libertária não se transforme em funcionais ao sistema.
CONSTRUÇÃO DO PODER POPULAR
Quando se fala de poder popular se fala de que o povo tenha capacidade de resolver seus problemas por se mesmo, sem delegar em outros. O poder popular se constrói desde uma perspectiva de classe determinada. O poder burguês se destrói com o poder popular. Construindo o poder do povo desde hoje, estamos construindo a nova sociedade do amanhã. O poder popular se dá cada dia e em onde se esteja presente, com a democracia direta, a ação direta e a horizontalidade, para construir uma sociedade igualitária, justa e solidária é necessário começar a praticar estes princípios desde agora. Cremos que é um problema de correlação de forças entre as classes, já que os interesses irreconciliáveis entre as classes se dirigem de posições de força. Pode-se construir ilhas de poder popular mas há que ir crescendo desde um projeto de conjunto, desde as lutas populares e em função da luta de classes.
A construção do poder popular parte da necessidade de procurar articulações complexas e nos diferentes setores que se expressa à luta de classes de nossos países, América Latina toda e o mundo; entre outros o problema das mulheres, os indígenas, bairros marginados, desocupados, jovens, adolescentes, os sem teto, mineiros, cocaleiros, trabalhadores, etc. e é a partir das necessidades e ações destes que se vai construindo o poder popular. Entre eles se dá uma influência recíproca, onde os desenvolvimentos desiguais e formas diversas de resolver os conflitos interagem mutuamente. A questão está em como construir uma perspectiva política estratégica sem a qual nem a fome, nem a pobreza, nem a desocupação são em si condições suficientes para propiciar a mudança ou a transformação social. Para que estas condições construam a vontade de poder no povo, que este comece a discutir então o como exercer o poder junto à gente para construir essa perspectiva estratégica.
A nova etapa de atomização, dispersão e fragmentação da classe, de desorientação ideológica e institucionalização das organizações e movimentos sociais nos mostram a necessidade de reafirmar cinco eixos programáticos fundamentais para a ação política social: Organizar o desorganizado: para enfrentar a desorganização que existe na classe; criando âmbitos de participação com independência política e autonomia orgânica. Autonomia que se deve entender de forma integrada a um projeto unitário. Organização desde os princípios da democracia direta e horizontalidade. Que permita aplicar metodologias de ação direta. Unir o disperso: para reverter a dispersão e fragmentação de nosso povo em procura de formas de articular as forças da classe. Esta articulação deve dar resposta a reverter à fragmentação e dispersão desenvolvendo uma dimensão territorial na construção do poder popular. A territorialidade se apresenta então como um novo conceito político para articular o poder da classe, já que no território estão todos os setores do movimento popular, mas que não invalida as lutas setoriais por reivindicações históricas. Unificar as lutas deve ser um objetivo permanente. Dar a luta ideológica: para criar subjetividade de classe, ou seja, reconhecer-nos como classe oprimida. Vemos a importância da formação como forma de construir coletivamente e de forma consciente desde abaixo. Criar a subjetividade do povo é necessário para superar as atuais estruturas de pensamento restabelecendo os valores antagônicos ao estabelecido. Manter a autonomia: das organizações e movimentos sociais com respeito aos partidos políticos, igreja e estado. Reconstruir os laços sociais: recobrando os valores de solidariedade para romper com o individualismo e a decomposição social, construindo esperança na mudança que não tem que ver com esperar senão com o que um pode.
Por último devemos reafirmar que a acumulação estratégica de forças para construir o poder popular deve entender-se no marco de fortalecer o campo popular, já que em definitiva é o povo o que deverá levar as mudanças e transformações adiante, e a este não há partido nem organização política que o substitua.
COMO AVANÇAMOS EM UNIDADE?
Propostas gerais:
– Se valoriza como positivo a coordenação de mobilizações pontuais (como a visita de Bush o ano anterior) sem abarcar mais do que o possível.
– Que se promovam intercâmbios conceituais e práticas com respeito às diferentes experiências na área de formação de nossas organizações e movimentos.
– Que se vejam formas de avançar a nível regional por frente de luta, sobretudo o que tem que ver com os recursos naturais e o ambiental, com respeito aos presos políticos e o avanço da criminalização do protesto.
Propostas concretas:
– Realizar adesão a ocupação de terras em Bella Unión, Mapuches, etc.
– Enviar a caixa de primeiros socorros do Encontro à ocupação de terras em Bella Unión
– O último fim de semana de maio realizar mobilizações na contra os acordos da União Européia.
– Manter a comunicação via correio eletrônico(e-mail). Poder coordenar visitas às diferentes organizações. Trocar materiais de trabalho (dd.hh., educação popular, etc.)
– O encontro sugere, avaliando em cada país as possibilidades concretas, o debate entre as organizações presentes sobre os eixos de discussão do próximo Encontro previamente.
– Que no próximo Encontro se realizem também debates sobre educação popular, formação e comunicação, além dos outros ateliês por frente.
Ateliês por frente: Ao ter-se atrasado os resumos dos ateliês por frente, se enviarão estes quando se tenham terminado os mesmos.
Valorações finais:
Frente ao avanço do imperialismo e do capitalismo em curso se faz hoje mais necessário que nunca o apontar a avançar na unidade regional das organizações e movimentos sociais como norte político, apontando como objetivo a estabelecer um trabalho permanente para a construção de um corpo político claro e consistente. No entanto dito objetivo precisa o transitar diversas etapas, a saber etapa de reracionamiento, intercâmbio e exploração; etapa de coordenação e planejamentos possíveis; etapa de unidade política e inclusive orgânica; mas se considera que estamos na primeira etapa e portanto não se podem acelerar e/ou forçar os processos. Sem ter isto em conta, ainda quando aparente o contrário, a unidade será fictícia.
PRÓXIMO ENCONTRO
– O próximo Encontro conquanto se viu de fazê-lo em Chile, fica sujeito à ratificação pelas organizações de dito país, com um prazo de 1 mês para reafirmá-lo. Em caso de inconvenientes se realizará em Brasil A data seria a fins de fevereiro.
– O eixo central será “Construção do Poder Popular”
ORGANIZAÇÕES PARTICIPANTES DO 4º ENCONTRO
Argentina:
Frente Popular Darío Santillán
MUP en el FPDS
MUP Berasategui
MTD Anival Verón en el FPDS
MTD Justicia y Libertad, en el FPDS
MTD Oscar Barrios, en el FPDS
UTRACA (Unión de Trabajadores Cartoneros de Argentina)
Agrupación la Dignidad Rebelde
Colectivo Desalambrando
Colectivo Hommodolar
Poder Autónomo
Casa La Gomera
Grupo Alavío
Equipo de Educación popular Panuelos en Rebeldía
El Núcleo
Colectivo Casa
Colectivo Autónomo La Oruga
Centro Popular Agustín Tosco
Comunidad Resistencia
Chile:
Encuentro por la Libertad
Biblioteca Popular Puel Mapu
FEL, Frente de Estudiantes Libertarios
Centro de Cultura Popular
Organización Poblacional la Laguna
Brasil:
MNCR (Movimiento nacional de catadores de materiais Reciclaveis)
Comitê de Resistência Popular
Bolivia:
Red Tinku
Uruguay:
UCRUS (Unión de Clasificadores de residuos Urbanos Sólidos)
Centro Social El Galpón de Corrales
Comisión Los Reyes
Biblioteca Popular Soles y Lunas
Colectivo El Adokin
Coordinación Paso– Pinar
Grupo de Teatro Churrinche
Comparsa La Roma
Grupo Los Sospechosos de Siempre
Ateneo Heber Nieto
Feministas Autónomas Las decidoras
El Terruño
Ecos, Coordinadora de Radios Comunitarias del Uruguay
Radio Comunitarias Raíces, Ecos
Radio Comunitaria La Voz, Ecos
Radio Comunitaria La Blanqueada, Ecos
Radio Comunitaria Bemba, Ecos
Radio Comunitaria Barriada, Ecos
Radio Comunitaria Vilardevoz
Radio Comunitaria Construcción
Radio Comunitaria La Villa
Plenaria Memoria y justicia
Periódico Barrikada
Solar Raúl Sendic
Agrupación 1º de mayo UTHC
Agrupación Gerardo Gatti, SAG
Agrupación 810, AEBU
Agrupación 1º de mayo, SUATT
Colectivo Bioptimistas
Cachimba video Popular
Comisión Agua Oeste
Ateneo Las Acacias
Ateneo del Cerro
Ateneo Germinal
Periodico Solidaridad
Centro de Estudiantes de Agronomía del Norte