Greve na educação municipal de São Paulo: protagonismo da base e omissão da burocracia sindical


Fotografias do Comando de Greve ZN-JT e da Resistência Popular Sindical

                                                                                Por Resistência Popular Sindical – SP

Desde o dia 10 de fevereiro, profissionais de educação da rede municipal de São Paulo estão construindo a Greve Pela Vida, em contraposição à retomada precoce das aulas presenciais em meio ao pior momento da pandemia da covid-19, nos primeiros meses de 2021. Já em 2020, o governador João Doria (PSDB) e seu secretário de educação, Rossieli Soares, davam sinais de que retomariam as aulas presenciais mesmo contrariando especialistas e a Organização Mundial da Saúde (OMS). O prefeito Bruno Covas (PSDB), reeleito nas eleições municipais passadas, ordenou que professores comparecessem às escolas a partir do dia 10 de fevereiro para “planejamento”; a partir do dia 15, as aulas presenciais seriam retomadas na cidade – mesmo que, inicialmente, com 35% dos estudantes e mantendo, remotamente, profissionais de educação do chamado “grupo de risco”. No dia em que foi decretada a greve, 55,4 mil pessoas já haviam morrido, no estado de São Paulo, por conta da covid-19; dois meses depois, na metade do mês de abril, mais de 88 mil pessoas perderam suas vidas em meio a uma política genocida.

Embora a prefeitura de São Paulo vendesse, na propaganda, a imagem de que vinha se preparando desde 2020 para o retorno, a prática se mostrou diferente: algumas escolas da rede municipal sequer dispunham de funcionários terceirizados para executar a limpeza dos ambientes – demanda dos falhos protocolos estabelecidos, que focam mais na desinfecção de objetos do que, propriamente, em ameaças mais críveis, como a falta de ventilação das precárias escolas. Além da falta de funcionários, as escolas sofriam com a ausência de itens básicos de higiene, como o álcool em gel. Paralelo a isso, os tablets e o fornecimento de internet, prometidos por Covas em sua campanha, não chegaram aos estudantes. Como desenvolver, assim, as atividades remotas?

Fatores como esses denunciam o descaso dos governos diante das necessidades das comunidades escolares. A retomada das aulas presenciais, mesmo com o alto índice de contágios e mortes, atende a pressão de segmentos negacionistas e de empresários da educação, simbolizados pelo movimento “Escolas Abertas”, tão bem recebido por Rossieli Soares e por Fernando Padula, secretário de educação do município de São Paulo. Padula, aliás, desde o início da greve, demonstra a prática política do PSDB: autoritarismo e truculência para com as demandas de trabalhadoras e trabalhadores. Enquanto a Secretaria Municipal de Educação recebe, de braços abertos, o “Escolas Abertas”, representantes das entidades sindicais da categoria sequer são recebidos, não podendo nem passar do portão da secretaria – como aconteceu no dia 08 de abril. Padula, não custa lembrar, é quadro antigo do PSDB e, quando atuante no governo estadual na época de Geraldo Alckmin, esteve envolvido em episódios como a perseguição a estudantes de Ensino Médio que ocupavam as escolas.

Não obstante, a burocracia sindical tem dado significativos sinais de inoperância durante os mais de 60 dias de luta. SINPEEM, APROFEM, SEDIN (educação infantil), SINESP (gestores) e SINDSEP (servidores municipais em geral), pouco atuaram efetivamente no sentido de dar respaldo à categoria. A situação se torna ainda pior quando se trata do SINPEEM, que, apesar de ser o maior sindicato do funcionalismo municipal, se mantém, na prática, fechado para a categoria desde o início de 2020 e somente realizou assembleia no dia 09 de abril – dois meses após o início da greve. Em março, Bruno Covas, ainda, indicou o corte de ponto de grevistas e, apesar de a autoritária medida ter sido acatada pela minoria de gestores da rede municipal, profissionais de educação foram prejudicados e o Fórum “batia cabeça” para construir fundos de greve.

A realidade é que a Greve Pela Vida está sendo construída, na prática, devido ao protagonismo da base, contando com o empenho de pessoas verdadeiramente aguerridas. Desde o início, profissionais de educação das diferentes Diretorias Regionais de Ensino (DREs) atuam a partir de Comandos de Greve regionais, mantendo contato direto com profissionais de educação de suas respectivas regiões e com a comunidade escolar. Dada a inoperância da burocracia sindical, a própria base tem procurado articular os comandos regionais, eventualmente, de forma unificada, desenvolvendo ações conjuntas – atos, carretaços, faixaços e afins. Quando do corte de ponto, os próprios comandos regionais articularam as chamadas “ações solidárias” e arrecadaram dinheiro para colaborar com as pessoas que haviam sido prejudicadas. Também foram os Comandos de Greve que se articularam para exigir do SINPEEM a chamada de uma assembleia da categoria e a organização do fundo de greve pela entidade sindical. Isso mostra que solidariedade se faz na luta!

Em meio ao pior momento da pandemia, é fundamental que fortaleçamos o movimento e nos articulemos com outras categorias também precarizadas. No dia 16 de abril, por exemplo, ocorreu carretaço que agrupou profissionais de educação do município, de escolas particulares e se somou ao ato dos trabalhadores de APPs, no chamado “Breque dos APPs”. Precisamos, urgentemente, construir uma Greve Nacional da Educação, articulando a categoria em diferentes estados. Não há condição de retomar as aulas presenciais em meio a uma política genocida, que tem empilhado mais de 4 mil corpos por dia no país! Também é fundamental que se construa um movimento de Greve Geral da classe trabalhadora pela vida, que responda à altura os interesses genocidas dos de cima, que demande renda digna e vacina para todos! Só assim reduziremos os efeitos da pandemia – que mata, sobretudo, o povo pobre e periférico – e os efeitos da crise econômica, que já faz com que quase metade da população do país esteja ameaçada pela fome.

É um absurdo que as entidades sindicais, perdidas em suas burocracias alinhadas ao Capital e ao Estado, colecionem derrotas para as e os de baixo. Não obstante, não construir a greve ou sair dela não é uma opção. Ressaltamos a necessidade da retomada de um sindicalismo combativo, construído desde baixo; a partir da categoria com a comunidade escolar; com os bairros que estamos inseridos; com todos os funcionários da escola; com solidariedade de classe, ação direta e democracia de base; se articulando com outras lutas, que unem os oprimidos e a classe trabalhadora. Somente assim venceremos os projetos genocidas provindos dos representantes do Estado e alinhados aos interesses econômicos dos de cima.