Na Espanha, um dos países mais afetados pela pandemia de Covid-19, está acontecendo uma greve dos aluguéis. Como o povo de lá está se organizando?
Mais de 200 organizações, dentre as quais dois sindicatos de inquilinos e inquilinas, se uniram à greve de aluguel na Espanha e exigem ao governo medidas que cubram direitos básicos durante o confinamento.
Assim como ocorreu na Argentina no início do século XX, já havia ocorrido uma greve contra a cobrança de aluguel na Espanha. Em 1930, a Confederação Nacional do Trabalho (CNT) organizou uma greve que conseguiu fazer com que cerca de 100 mil pessoas deixassem de pagar o aluguel. Lembrando que, alguns anos depois, as trabalhadoras e trabalhadores organizados na CNT foram grandes protagonistas da Revolução Espanhola (1936-1939).
Hoje em dia suas reivindicações são:
1. Suspensão do pagamento de aluguel e de hipotecas de moradias e locais de pequenos comércios.
2. Suspensão do pagamento das contas de água, luz e gás.
3. Colocar as casas vazias à disposição das pessoas que não têm uma.
Por terem consciência que as consequências socioeconômicas irão se manter além do confinamento, o movimento se adiantou e propõe, dentro outras, as seguintes pautas pós-confinamento:
1. Manter a suspensão do pagamento de aluguel pelo tempo que for necessário para as pessoas em situação de vulnerabilidade.
2. Suspensão por tempo indeterminado dos desalojos e perseguição aos desalojos ilegais.
3. Regulação do preço do aluguel.
4. Expropriação de apartamentos de fundos abutres e bancos.
Mas, afinal, como fazer uma greve em um momento em que não é possível nem se encontrar pessoalmente?
Nesse caso, a ideia é que as pessoas deixem de pagar o aluguel, mas que isso não seja apenas uma iniciativa individual e sim coletiva, organizada e solidária.
Uma maneira encontrada do movimento para dar suporte às e aos inquilinos está no site do campanha: https://suspensionalquileres.org. Ali se encontram as reivindicações e os formulários de adesão à greve para facilitar a comunicação e a organização. Também há modelos de notificação de greve de aluguel para serem entregues para proprietários de casas e de salas comerciais, além de um modelo de notificação da greve para o Ministério de Moradia.
A greve também conta com o que foi denominado “caixa de resistência” para cobrir gastos que inquilinos e inquilinas possam ter com problemas com ações legais e processos judiciais.
A campanha para o não pagamento do aluguel foi lançada em 1° de abril e, no dia 8 de abril, o movimento anunciou que mais de 12 mil pessoas haviam se somado à greve, formando 40 comitês.
Esse poderia ser um modelo de Greve de Aluguel que serve de inspiração para o Brasil, já que em meio à crise econômica escuta-se sobre possíveis aumentos do aluguel. E, para além da pandemia, é importante estar organizados, por exemplo em sindicatos de inquilinos e inquilinas como ocorre em Madri e em Barcelona.