O Genocídio continua: o estrago das chuvas e a luta por moradia em Guarulhos

Um mês depois de fortes chuvas, 80 famílias da Favela São Rafael seguem sem moradia

por coletivo Mandela Free – São Rafael

Onde estão esses entulhos nas imagens, antes eram moradias e becos em que famílias tinham o seu lar. Os escombros e entulhos amontoados que parecem com um cenário de pós-guerra são os efeitos da chuva de um mês atrás, na Favela São Rafael, em Guarulhos, na Grande São Paulo.

As mais de 80 famílias que ficaram desabrigadas depois do deslizamento de terra que atingiu parte da favela, continuam abrigadas na creche Nossa Senhora das Dores.

Muitos outros moradores que tiveram suas casas condenadas pela Defesa Civil ainda permanecem nelas, para não ficarem desabrigados. A insistência dos moradores em permanecer em suas casas mesmo com riscos iminentes de queda, revela problemas bem maiores e estruturais do que a chuva que atingiu São Paulo nas últimas semanas.

Especulação

A especulação imobiliária transforma o espaço urbano em mais uma mercadoria, sujeita a exploração, que tem como intuito final o lucro. Bairros inteiros são destruídos e se formam como reflexos de políticas que só servem às construtoras e bancos. Ocupações, favelas e malocas são a resposta dos de baixo à tentativa de gentrificação das cidades. Com o aumento dos aluguéis, aumento do custo de vida nos bairros com mais acessos a serviços, as populações mais pobres são obrigadas a se mudarem para locais cada vez mais longe de seus trabalhos e dos serviços públicos.

Favelas à beira de rios e córregos, casas em barrancos que podem desabar a qualquer momento, são reflexos diretos da especulação imobiliária. O discurso de criminalização dos moradores que perdem suas casas com a chuva, esconde o processo que obriga famílias a viverem longe de qualquer padrão que reflita uma moradia digna.

Com a vinda das estações mais chuvosas, ocorre com isso também as desgraças como deslizamentos, alagamentos e outras questões que afetam diretamente a população das periferias. Nessas situações, o poder público se esquiva da responsabilidade, ao dizer que são desgraças naturais, mas que na realidade, a cada estação chuvosa, reforçam e se apresentam como desgraças sociais.

Genocídio

Genocídio é o conjunto de práticas que pela ação ou inação de um poder estabelecido tem como objetivo a morte massiva e precoce de uma determinada parcela populacional. Várias são as formas usadas pelo estado para o avanço do Genocídio contra parcelas de sua população que são consideradas indesejáveis.

A violência direta, através de investimentos massivos na repressão, aliada à precarização e negação de direitos fundamentais para uma vida digna, como acesso a saúde, moradia, educação, etc.

Isso se mostra mais uma vez com o descaso do poder público com a população da comunidade São Rafael. Tendo conhecimento de acontecimentos desse tipo e nesse local há muitos anos, em vez de agir com políticas públicas preventivas, e assim proporcionar moradias dignas para a população, a prefeitura e o governo do estado fizeram escolhas políticas em não investir dinheiro em moradias dignas para a população, e utilizar esse dinheiro em pagamento de juros e dívidas a bancos, publicidade e repressão.

Temos a informação de que houve por parte do poder público um fornecimento de alimentos e concessão de um auxílio moradia no valor de R$ 400, com duração de um ano. Valor irrisório perto dos valores do aluguéis na cidade de Guarulhos.

Organização popular

Os desabrigados estão se organizando para ajudar os seus e exigir suas demandas, como moradias dignas e não políticas públicas ineficientes e desonesta. Um dos moradores desabrigados afirma “Não queremos geladeira cheia, ninguém aqui tá passando fome, queremos as nossas casas”. Em geral essa organização está voltada para a conquista de uma moradia segura, que possa garantir um bem morar e viver.

Toda solidariedade aos que lutam por moradia digna!
Enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito!