Alagoas: Sem Estado, famílias indígenas recuperam território ancestral e reconhecem nova etnia

Povo Pankaxuri em novo território. Foto: Arquivo da comunidade
Povo Pankaxuri em novo território. Foto: Arquivo da comunidade

Desaldeadas e privadas de seus direitos, aproximadamente 15 famílias indígenas que estavam em condições de precariedade em áreas urbanas de Alagoas decidiram retomar um território ancestral, no município de Palmeira dos Índios, constituindo o reconhecimento de uma nova etnia a partir de suas origens Xucuri Kariri e Pankararu.

O povo Pankaxuri, agora organizado, percorre também a busca pela recuperação de direitos e condições de organizar a comunidade. “Pretendemos fazer esse reconhecimento da nova etnia que se origina dos Pankararu de Pernambuco, e Xucuru Kariri de Palmeira dos Índios, em Alagoas. Pankararu porque meu avô era Pankararu da Aldeia Breja dos Patos, em Pernambuco, e minha vó Xukuru Kariri, de Palmeira dos Índios (Alagoas). Eles formaram essa família que quero dar o nome chamado Pankaxuri, para que a gente fique independente e evite problemas” relatou o Cacique Chiquinho,que coordena o resgate do território e formação da nova comunidade.

A área escolhida também faz parte do processo de demarcação do povo Xukuru Kariri desde 2003. “Ela estava abandonada porque nenhum dos parentes entrou, então decidimos pedir essa área para que vejam também nossa situação e a gente não se acabe na zona urbana da cidade. Nossas famílias estavam perdendo a cultura, que a gente agora pretende resgatar o que foi perdido. Plantar, colher, alimentar os nossos povos. Essa luta pode nos trazer muita felicidade pela infelicidade que a gente vem sofrendo nesses anos”, diz.

Povo Pankaxuri retoma território e já inicia trabalhos. Foto: Arquivo da comunidade.

Até o momento, toda essa retomada vem acontecendo à revelia de entidades fundadas com objetivo de dispor proteção aos direitos indígenas como, por exemplo, a Fundação Nacional do Índio, a FUNAI. Em meio ao processo de desmantelamento, o órgão vem dispersando a execução de ações, enquanto é esvaziada pela política genocida do governo federal contra os povos indígenas. Desde o início da pandemia, as comunidades precisaram criar barreiras sanitárias por conta própria, realizar campanhas para auxiliar na sustentabilidade, adotar iniciativas de auto-proteção e enfrentar ataques vindos até mesmo desses órgãos.

Uma das situações mais evidentes é a falta de vacinas para indígenas desaldeados. Das 15 famílias do povo Pankaxuri, ninguém foi vacinado. “Para além da vacina ainda tem a questão da saúde mesmo. A SESAI não nos procura. Temos crianças, idosos, estamos totalmente abandonados.” O desabastecimento de recursos mais básicos também é um dos problemas enfrentados.

“Precisamos que a FUNAI forneça algumas cestas de alimentação, e de assistência com o fornecimento de sementes, de arames para proteger nossa roça dos animais, de outros materiais também, equipamentos, para que a gente consiga plantar”.

Como muitas comunidades indígenas pelo país, o povo Pankaxuri vem associando a reivindicação por direitos com a busca por uma capacidade própria de se organizar suprindo a omissão do governo. E assim, logo ao se instalarem, os Pankaxuri já iniciaram o processo de preparo da terra para o novo plantio. “E a gente vai levando o movimento. Na boa vontade, na ansiedade de plantar do meu povo, e na força de vontade de trabalhar com a terra”, conta.