No sábado, o jovem Christian Felipe Santana foi assassinado durante uma blitz do exército com um tiro de fuzil. No dia seguinte, militares do Exército mataram o cavaquinista Evaldo dos Santos Rosa, conhecido também por Manduca, de 51 anos, ex-integrante do grupo de samba Remelexo da Cor, após realizarem mais de 80 disparos contra o carro que o músico dirigia. Os casos acontecem em um momento que o estado do Rio de Janeiro registra crescimento nas mortes provocadas por agentes da repressão. Em dois meses, o braço armado do Estado matou 305 pessoas, crescimento de 67% em dois anos e se tornando responsável por um a cada três homicídios dolosos registrados no Rio de Janeiro.
Leia a matéria a seguir produzida pelo Mídia 1508:
Um jovem é assassinado e outro é ferido por militares em blitz do Exército. Segundo o sobrevivente, soldado falou que acertou o jovem porque “o fuzil estava torto”.
Na madrugada de sábado (6), em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, o jovem Christian Felipe Santana, de 19 anos, foi assassinado por militares durante uma blitz do Exército. Christian estava na garupa de uma moto com um amigo, eles não pararam na blitz, o que provocou a criminosa reação dos militares.
O adolescente que dirigia a motocicleta e Christian Felipe saíram de Muriqui, na Região Metropolitana, para participar de um rolezinho de motos. O adolescente disse que saiu de casa escondido com a moto da mãe. Ele contou que quando viu a blitz do Exército na Vila Militar, falou para o amigo Christian que não ia parar porque não queria que a mãe descobrisse a mentira.
Segundo o sobrevivente, que conduzia a moto e também foi baleado, um dos soldados disse que o tiro acertou o jovem porque o fuzil “estava torto” e ele queria acertar o pneu. Christian foi enterrado na tarde de sábado. Neste domingo (7), familiares e amigos protestaram na Vila Militar. O jovem detalha o que aconteceu:
“Devia ter uns quatro militares no meio da rua. Passei o primeiro, o segundo, o terceiro e ameacei parar no último e seguir. Quando segui, eu acelerei e só escutei o barulho, três a quatro tiros. Eu falei: ‘por que você atirou na gente? ‘ E ele falou: “meu fuzil tava torto. Meu fuzil tava torto. Eu fui pra atirar no pneu e acertei vocês”, contou o adolescente.
As famílias dos jovens afirmam que os militares erraram em atirar nos dois, já que eles não estavam armados. “Eles são treinados para guerra, não pra fazer uma blitz! Por mais que [os adolescentes] estivessem errados […] Eles [os militares] poderiam ter abordado. Não precisava matar”, lamentou a mãe.
Christian levou um tiro de fuzil nas costas e já chegou morto no hospital. O amigo que pilotava também foi baleado duas vezes – no braço e na perna.
“Meu filho era estudioso, meu filho se formou com 17 anos de idade, terminou o segundo grau. Ele não estava fazendo faculdade ainda porque eu estava desempregada”, conta Cristiane Santana, mãe de Christian.
Como de costume, mais uma vez o Estado tenta se eximir da responsabilidade, culpando suas vítimas. Em nota, o Comando Militar do Leste chamou os jovens de “criminosos” e disse que, além de furar o bloqueio, eles teriam lançado os veículos sobre os militares, que “reagiram”.
Mais do que apenas mentirosa, a narrativa é um verdadeiro insulto à inteligência. Que tipo tresloucado de “criminoso”, em vez de se evadir de uma blitz de homens fortemente armados, correria em direção à ela? E se foi mesmo isso que aconteceu, por que Christian foi baleado pelas costas e não pela frente?
Exército fuzila carro de família
No dia seguinte à morte de Christian, na tarde deste domingo (7/4) em Guadalupe, zona oeste do Rio, militares do Exército mataram o cavaquinista Evaldo dos Santos Rosa, conhecido também por Manduca, de 51 anos, ex-integrante do grupo de samba Remelexo da Cor, após realizarem mais de 80 disparos contra o carro que o músico dirigia.
Evaldo estava com sua família no carro. O sogro da vítima, até o momento identificado apenas como Sérgio, também foi baleado durante o ataque. Um homem que passava pela rua também foi ferido. Por pouco, a tragédia não foi ainda maior: junto com Evaldo, estavam no veículo sua mulher e seu filho, de apenas sete anos, além de uma vizinha, que não foram atingidos.
Os casos acontecem em um momento que o estado do Rio de Janeiro registra crescimento nas mortes provocadas por agentes da repressão. Em dois meses, o braço armado do Estado matou 305 pessoas, crescimento de 67% em dois anos e se tornando responsável por um a cada três homicídios dolosos registrados no Rio de Janeiro.