Neste momento (6), em Porto Alegre, estudantes indígenas dos povos Kaingang, Xokleng e Guarani retomam um prédio da Prefeitura de Porto Alegre, na entrada do Túnel da Conceição, em frente ao Campus Centro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. São cerca de 50 indígenas, mães que reivindicam a construção de uma Casa do Estudante Indígena, demanda antiga dos povos, que nunca foi atendida pela Universidade. Gah Té Iracema, kujà, pajé do povo Kaingang, que recentemente foi indicada pela universidade para o título de Dra. Honoris Causa, está junto retomando este território. Retomada, pois toda Porto Alegre é território ancestral indígena, guarani, kaingang, charrua. O imóvel abandonado há cinco anos, foi cedido para a UFRGS, mas no começo de fevereiro devolvido à Prefeitura.
A permanência das pessoas que ingressam na Universidade através de Ações Afirmativas, como as estudantes indígenas, é uma luta dura e importante. Não adianta só colocar as pessoas para dentro dos muros, das salas, é preciso dar condições para que elas sigam seus estudos e dentro da visão de mundo que acreditam e vivem. É preciso o básico, como moradia, alimentação, cuidado com os filhos, respeito à cultura. É luta de anos! Em carta de 2017 direcionada à Coordenadoria de Acompanhamento do Programa de Ações Afirmativas (CAF) da UFRGS, o coletivo de estudantes indígenas exigiu ações da universidade para que a cultura dos povos seja respeitada e valorizada, o que é fundamental para a permanência nos estudos, a não desistência, o não se “embraquecer”. Entre os pontos sugeridos, no final da carta, o destaque para a importância de uma casa indígena.
“[…] uma casa de estudantes indígenas, uma ég īn, uma casa nossa onde
poderemos praticar nossa cultura, nossas formas de estar bem uns com os outros, seja
na alimentação, na contação de histórias, nos aconselhamentos dos mais velhos aos
mais novos, nos risos e nos rituais, os quais consagram nossos corpos é uma demanda
urgente e será pauta contínua na agenda das discussões acerca das ações afirmativas e
na construção de uma universidade intercultural e que respeita os povos originários
deste território”.
A necessidade de um espaço assim também se dá para que as mulheres possam criar com tranquilidade seus filhos. O tema já foi assunto de reportagens e trabalhos acadêmicos, como a dissertação “Indígena-Mulher-Mãe-Universitária o estar-sendo estudante na UFRGS”, de Patrícia Oliveira Brito. “São mulheres que em geral apresentam na sua forma social e cultural a vivência do casamento e da maternidade em idades que coincidem com a experiência do ensino médio e superior, sendo a convivência com suas crianças uma característica que as identifica”, explica a pesquisadora.
O coletivo indígena denuncia que após 2008, quando as Ações Afirmativas começaram, algumas mulheres já viveram na Casa do Estudante da UFRGS tendo que esconder seus filhos, pois o regimento interno da casa não permite crianças. Os vigias e seguranças fingiam que não viam, mas a necessidade do esconder. Imagina viver assim?
Querendo mudar essa situação, abrir um espaço de respeito à cultura e ao modo de viver dos povos dos estudantes indígenas, este prédio está sendo retomado neste momento.
Fortaleça a ocupação. Se faça presente. Tragam alimentos, produtos de limpeza, some-se nessa luta.
Para ajudar na retomada, contribua com materiais de limpeza, alimento, presença na vigília. Ou doe para o PIX
PIX celular: 54996265542
Viviane Belini Lopes
*Redação e foto de Alass Deriva