Entrevista com grevista dos Correios

Nesta última terça, dia 10 de setembro, as organizações sindicais dos Trabalhadores dos Correios do Brasil unificaram calendário e convocaram assembléias da categoria pra decidir sobre o indicativo de greve. A pauta de campanha que vem sendo defendida é o reajuste dos salários, a defesa dos direitos que a categoria tá perdendo e contra a ameaça real de privatização da empresa pelo governo nacional.

Ontem (10), no salão da Pompéia em Porto Alegre, os trabalhadores e trabalhadoras dos Correios aprovaram o início da greve. Mas em todo país a categoria está aderindo ao movimento que é provocado sobretudo pelos danos que sofre a empresa dos Correios e o desejo a todo pano do governo e do mercado de privatizar tudo que podem.

Conversamos rapidamente com Joel Silveirowski, trabalhador dos Correios desde 1997, que tem lutado e visto esse pioramento da estrutura operacional, das condições de trabalho e a desvalorização dos servidores pelos últimos governos, sem sobrar pra nenhum partido no poder.

Joel trabalha como operador de triagem e transbordo (OTT) no complexo da Sertório do CTCE de Porto Alegre – RS, cargo que foi extinto junto com o desmonte da empresa.

Repop: qual é a situação atual dos Correios quanto ao quadro de funcionários pra atender a demanda efetiva de serviços?

J: desde 2011 não é realizado concurso público e nesse período teve vários planos de demissão voluntária, principalmente com os aposentados. Mas essas vagas não foram repostas, acarretando em sobrecarga aos carteiros, OTTs e atendentes de agências. Além das péssimas condições de trabalho e a pressão que vem das chefias.

Repop: e a terceirização? Como afeta direitos sindicais, trabalhistas, o salário dos trabalhadores/as. Tem alguma idéia da diferença salarial de um empregado dos Correios prum colega terceirizado por outra empresa?

J: com as últimas mudanças pra pior da reforma trabalhista e a lei geral de terceirizações abriu as portas pra contratos de terceiros e trabalho precário até o objetivo-fim dos Correios que é a entrega de correspondência feita pelos carteiros. O salário dos terceirizados é o mínimo, com direitos da CLT, mas sem extensão dos benefícios dos acordos coletivos do sindicato que eles tinham antes da reforma da lei. Muitas vezes temos notícias do vale alimentação atrasado, por exemplo.

Repop: porque não é bom pro povo privatizar os correios?

J: porque a qualidade do serviço vai cair, em alguns lugares como vilas e pequenas cidades não haverá entregas e sim uma caixa postal onde o povo terá que pegar sua correspondência. Além dos preços subirem muito. É só comparar os preços de encomendas tipo sedex com as outras concorrentes que tem no mercado hoje e estão de olho na privatização dos correios.

A campanha em defesa dos Correios e contra o sucateamento e a privatização tem pelo menos três pontos muito fortes que destacamos na redação do Repop:

1) pesquisas indicam que a sociedade confia no serviço, que ele atende demandas importantes da população e tem tarifas mais acessíveis por comparação com outros países;

2) os correios não dão prejuízo ao caixa grande dos recursos públicos, não tiram dinheiro de outras áreas sociais que estão arrochadas pelo ajuste e precisando de investimentos;

3) os correios tem uma rede de serviços e entregas montada em todo território do país pra atender a população.