Em balanço divulgado no início dessa semana, banco não projeta impacto que terá fechamento de agências em futuros resultados, tampouco aborda ou justifica a redução do número de caixas.
(na foto, agência do Banrisul fecha em Pernambuco e orienta clientes a viajarem mais de 2 mil km para serem atendidos)
Em um relatório com 130 páginas, o Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) divulgou, na última segunda-feira (13/11), o balanço sobre os resultados referentes aos primeiros nove meses e ao terceiro trimestre de 2017. Nele constam as mais diversas informações, em sua maioria atendendo aos interesses de Mercado e ao que determina a lei; todavia, perguntas que angustiam tanto aos funcionários do banco quanto à boa parcela da população seguem sem respostas.
Já na sua abertura, o relatório afirma: “este press release pode conter informações sobre eventos futuros. Tais informações não seriam apenas fatos históricos, mas refletiriam os desejos e as expectativas da direção da Companhia. As palavras ‘antecipa’, ‘deseja’, ‘espera’, ‘prevê’, ‘planeja’, ‘prediz’, ‘projeta’, ‘almeja’ e similares pretendem identificar as afirmações que, necessariamente, envolvem riscos conhecidos e desconhecidos”. Como se percebe, o documento se compromete a fazer projeções que envolvam movimentações com algum tipo de risco no futuro. O que é de causar estranheza é que uma ação que parte diretamente da própria diretoria em momento algum é citada explicitamente no relatório: o fechamento de 10 das 13 agências fora do RS e de SC (tendo já iniciado com o fechamento de duas agências em São Paulo, essa operação deve ser concluída até o começo de 2018).
Em todo o documento, fala-se uma única vez sobre a “racionalização da rede”, podendo-se subentender daí a redução do número de agências. No subtítulo “REDE DE ATENDIMENTO BANRISUL”, tampouco se fala sobre o assunto.
Como muito bem lembra o relatório por mais de uma vez, no dia 4 de outubro “o Banrisul publicou Fato Relevante, comunicando ao mercado que foi informado pelo Controlador do interesse na realização de oferta pública envolvendo ações excedente de controle”. Os planos do governador Sartori são de arrecadar até R$ 3 bilhões com a venda, mas, nos atuais valores que as ações do Banrisul têm na bolsa, a estimativa é de que chegue, no máximo, a R$ 1,8 bilhão (pouco mais do que um mês de pagamento dos servidores públicos do estado – R$ 1,4 bilhão). Na comparação com o mesmo procedimento realizado durante o governo Yeda, em 2007, depois de 10 anos as ações vendidas já geraram o mesmo valor arrecadado com a venda. Ou seja, o que essas ações gerarem de lucro de agora em diante será um valor que o estado do Rio Grande do Sul poderia receber, mas não vai.
Voltando à omissão da diretoria do banco, neste caso se trata de não apresentar uma estimativa sobre o impacto desse fechamento de agências nos resultados do banco. Há quem estime que, com essa redução da rede, o lucro líquido do banco possa diminuir em até 20%. Todavia, mesmo sendo anunciado por alguns grupos de comunicação como a largada para a venda das ações do Banrisul, esse relatório não faz qualquer projeção sobre o impacto que terá a “racionalização da rede”.
Em resumo, o governo do estado estará vendendo ações do Banrisul usando como propaganda um relatório que omite uma redução significativa da rede de agências – e com ela, uma possível redução na margem de lucros do banco.
É sempre importante lembrar também que o fechamento dessas agências impactará na vida de dezenas funcionários. Para aqueles que hoje trabalham nas agências como as que ficam no Nordeste (região do país que terá todas as agências do Banrisul fechadas) e não aderirem ao Plano de Demissão Voluntária (PDV), a alternativa será a transferência para o Rio Grande do Sul.
REDUÇÃO DE CAIXAS SEGUE SEM JUSTIFICATIVA
Também quando fala a respeito das despesas de pessoal, o relatório afirma que as mesmas totalizaram R$461,8 milhões no terceiro trimestre de 2017, apontando para uma “relativa estabilidade, com crescimento de R$3,7 milhões em relação às despesas de pessoal do 3T16”. No entanto, o que surpreende é a ausência de qualquer menção a respeito da redução do número de caixas ocorrida por fins de agosto, mesmo em agências multadas por não respeitarem a lei do tempo máximo da fila de espera (conforme já publicamos na época: https://reporterpopular.com.br/ato-denuncia-perseguicao-politica-no-banrisul/). Em resumo, a precarização do atendimento ao público não gerou sequer uma redução nos gastos que fosse digna de se mencionar no balanço. E também sobre esse assunto a diretoria do Banrisul nunca se posicionou de maneira oficial – nem pública, nem internamente.
SINDBANCÁRIOS SEGUE SENDO IGNORADO PELA DIRETORIA DO BANRISUL
O Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (Sindbancários) segue há meses cobrando uma reunião com a diretoria do banco (conforme divulgado nos jornais da categoria). No entanto, a única resposta que tem recebido é o silêncio e, com ele, a falta de explicações tanto sobre a redução de caixas quanto sobre o fechamento de agências.
Entre as ações do sindicato nos últimos tempos estão trancaços nas Superintendências Regionais (SUREGS) do Banrisul em Porto Alegre, Santo Ângelo e Passo Fundo e uma reunião com os caixas afetados com a perda da função (em que se tiraram algumas ações, inclusive a criação de um grupo de Whatsapp, e que nunca vieram a se concretizar). Mais recentemente, teve início a coleta de assinaturas para encaminhar um Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLIP) que obrigue ao governo do estado a manter pelos 51% das ações tanto ordinárias (aquelas que dão direito a voto) quanto preferenciais (que dão preferência no recebimento dos dividendos). O objetivo é atingir o número de 70 mil assinaturas para que o PLIP possa ser encaminhado para a Assembleia Legislativa.
No último sábado (11/11), ocorreu uma assembleia nacional de banrisulenses e que, entre outras medidas, decidiu pela criação de um Comitê Autônomo de Funcionários e Funcionárias em Defesa do Banrisul Público. Esse Comitê é formado pelos delegados sindicais eleitos desde os locais de trabalho, e deverá estar definindo as políticas e as estratégias da luta contra a privatização e o desmonte do banco. O encontro dos delegados que dará a largada no Comitê acontece nesta segunda-feira (20/11), ao menos na região metropolitana. No interior do estado, ainda não há previsão de encontro entre os delegados.