Desde os primeiros meses da pandemia de covid-19, as máscaras caseiras de pano foram apontadas como importantes aliadas para evitar a transmissão do vírus. Ainda que políticos de extrema-direita, como o presidente Bolsonaro, façam agitação contra o uso de máscaras, na maior parte do país é impossível embarcar no transporte público ou acessar um mercado sem elas.
No entanto, não é difícil prever que as máscaras caseiras de pano não são os instrumentos ideais para lidar com uma doença tão perigosa. Nas ruas do país, vemos uma enorme diversidade de máscaras nos rostos do povo, sem padronização do número de camadas de pano, do nível de vedação em relação ao rosto e, muitas vezes, sem um encaixe adequado que permita falar sem que nariz e boca fiquem expostos. Elas permitem, geralmente, que o usuário não espalhe saliva no ambiente junto com a presença do vírus, mas não podem garantir real capacidade de filtragem.
Não há dúvidas de que as máscaras caseiras são muito importantes e eficientes em comparação com nenhum uso de máscara. No entanto, após um ano de pandemia, especialistas já apontam que é possível disseminar o uso de máscaras mais adequadas, profissionais, sem que isso cause risco de desabastecimento nos sistemas de saúde. Entre as diferentes possibilidades, a máscara mais indicada neste momento é a chamada PFF2 sem válvula.
As máscaras PFF2…
A sigla PFF significa Peça Facial Filtrante, mas a PFF2 se refere à mesma máscara chamada em outros países de N95. Elas são significativamente melhores para evitar a transmissão da covid por uma série de fatores: os formatos bico de pato ou concha facilitam a respiração e a fala; a vedação no rosto é muito superior, impedindo que o ar passe por fora da máscara; ela possui uma camada eletrostática que retém as partículas onde o vírus se aloja; e elas são devidamente testadas e aprovadas pelo Inmetro. O modelo mais adequado é sem a válvula respiradora, pois ela permite que o ar seja expelido junto com o vírus, diminuindo a proteção para as demais pessoas no ambiente, caso você esteja contaminado.
Há outros modelos de máscara com nível similar de proteção que podem ser melhores em determinados contextos, como respiradores elastoméricos, mas para pessoas que não estão diariamente na linha de frente da pandemia, as máscaras PFF2 combinam boa segurança com custo relativamente baixo.
Hoje, elas são vendidas principalmente em lojas de materiais de construção e produtos hospitalares, em todas as grandes cidades do país, por preços que partem de apenas dois reais a unidade, embora tenham grande variação local e atinjam valores bem maiores. Considerando que elas podem ser reutilizadas até 10 vezes, caso não sejam molhadas nem sofram nenhum tipo de dano, o custo necessário para disseminá-las é relativamente baixo.
… e a responsabilidade por distribuí-las
É por esse motivo que campanhas e movimentos populares têm reivindicado, nos últimos meses, que os patrões sejam obrigados a fornecer PFF2 para todo mundo que segue trabalhando presencialmente, assim como um programa de distribuição gratuita deveria ser instituído pelo Estado, da mesma forma como é realizado há décadas com as camisinhas.
A escolha individual por comprar e usar as máscaras PFF2 sempre que se sai de casa, indo ao mercado ou pegando o transporte público, contribui na popularização e disseminação da máscara PFF2, que ainda é desconhecida para grande parte da população. No entanto, em uma sociedade onde falta arroz na panela de milhões de pessoas, quem possui os recursos necessários para garantir a distribuição de máscaras adequadas é o poder público e o empresariado. São eles que podem, inclusive, tabelar preços, coordenar esforços de produção industrial e a logística de distribuição necessária para que todo mundo receba.
Como qualquer medida que visa a sobrevivência da classe trabalhadora e do povo pobre, ela encontra um ambiente desfavorável no Brasil de 2021. O presidente Bolsonaro tem boicotado todas as medidas de prevenção, em uma estratégia deliberada pela imunidade de rebanho que já causou 300 mil mortes evitáveis no país. Grande parte dos patrões, por sua vez, tem financiado campanhas pela manutenção das aulas presenciais e se posicionado contra qualquer fechamento de serviços para diminuir o contágio.
Ainda assim, é visível que a reivindicação pelas máscaras PFF2 e o interesse por comprá-las cresce rapidamente na sociedade brasileira. Páginas nas redes sociais vinculadas a pesquisadoras e especialistas têm contribuído com essa disseminação, produzindo material de divulgação, listando locais de compra, fiscalizando preços, buscando espaço na mídia e cobrando o poder público a agir.
O Repórter Popular indica as seguintes páginas, também utilizadas para confirmar informações para essa matéria: PFF para Todos e Estoque PFF (site, twitter, instagram) e Qual máscara? (facebook, twitter, instagram).