Quando eu comecei a assistir filmes com mais frequência, me interessei também pela crítica de cinema, para compreender melhor tal filme, conhecer mais da história daquele diretor ou daquela atriz, para conhecer formas de falar sobre aqueles longas. Uma vez me deparei com um crítico que me encantou pela argumentação, pelo método sempre analítico – embora eu não usasse esses termos – para apresentar e comentar sobre um filme, cheio de exemplos, além de certa interdisciplinaridade, buscando na psicanálise e na sociologia, pelo que lembro, áreas de conhecimento importantes e às vezes essenciais para análise e interpretação de obras de arte, aqui o cinema.
O crítico em questão é Pablo Villaça, especialista n’O poderoso chefão, cujo site Cinema em cena apresenta diversas críticas de filmes, em sua quase total maioria de contemporâneos. Hoje divirjo de várias análises e posicionamentos, mas isso não vem ao caso. Ele dizia que quando entendíamos melhor as engrenagens, digamos assim, dos filmes, quando conseguíamos entender o porquê de tal sensação, a construção de um plano, etc., isto ajudava e aumentava a fruição daquela obra, a aproveitávamos melhor, desfrutávamos melhor do objeto em questão. Desde então eu vinha e venho fazendo tentativas de análises de filmes, sempre com o exemplo analítico de Villaça na cabeça.
Aqui cabe um comentário pedagógico para melhor seguir o texto: um olhar “analítico” significa buscar sistematizar o objeto em questão, um filme, um poema, um romance, uma canção, uma pintura, uma dança, etc (só estou falando de arte, mas podemos sistematizar relações sociais, entender padrões e diferenças de algo de maneira delimitada, podemos sistematizar a História, enfim). Significa buscar coisas materiais, que estão à mostra ou às vezes escondidas, e trazê-las à tona. Vamos a um exemplo concreto: no filme O iluminado, de Stanley Kubrick, são flagrantes o uso abusivo de cores fortes nos cenários, os enquadramentos e movimentos sempre fechados, claustrofóbicos. Também chama a atenção a direção dos atores, enlouquecidos naquela atmosfera, enfim. Aqui falamos de vários elementos de composição cinematográfica, como o uso da câmera, para pensar de que ângulo filmar, porque se enquadramos de cima, o personagem pode parecer menor do que ele, ao contrário se filmarmos de baixo para cima, criando a ilusão de que aquele personagem é maior do que verdadeiramente é.
O uso das cores também significa algo – na verdade, tudo significa alguma coisa ou tem o potencial para significar. Voltando ao filme de Kubrick, o uso em larga escala do vermelho dá a sensação de algo intenso, possivelmente violento, forte; pode indicar morte, sangue, etc. (e para quem viu o filme sabe que é violento).
Comentamos também da direção de atores, que dá um sentido também: Jack e Wendy desde o início parecem abalados, tensos, nervosos. Há o elemento estranho do amigo imaginário do filho, Danny, que filmado às vezes em meio ao silêncio, vai criando uma atmosfera de mistério, que é corroborado pela trilha sonora, feita a dedo para o filme – e sejamos francos, Kubrick sabia escolher trilha sonora como ninguém.
Há muitos jeitos de olhar para um filme, e vou escrever mais uns textos sobre elementos para prestar atenção quando vemos filmes, tendo na cabeça que isso pode te ajudar a aproveitar melhor os filmes e também outros objetos artísticos, se interessar.
Rodrigo Mendes