Comida mais cara é culpa do agronegócio e do governo

Política cambial que permite dólar mais caro e ganância do único setor que não foi afetado pela pandemia impulsionam aumento de preço na cesta básica

Nos últimos dias, o aumento surpreendente no preço dos alimentos que compõem a cesta básica ganhou destaque em todos os jornais e mídias sociais do país. Desde explicações desconexas, que atribuem o aumento ao pagamento do auxílio emergencial, a justificativas que botam na conta da China exclusivamente o encarecimento da comida nas prateleiras dos supermercados, fato é que pouco se tem falado sobre os verdadeiros responsáveis por essa subida nos preços. Resumidamente, pode-se atribuir mais essa deterioração na qualidade de vida do povo pobre principalmente à ganância do agronegócio e à política econômica de Paulo Guedes e do governo Bolsonaro.

Se é verdade que a China tem aumentado a compra de produtos como feijão, arroz, soja, carne, leite, etc., a elevação no preço desses produtos é quase sempre apresentada como se fosse algo natural, dado, justificado exclusivamente pela lei de mercado que regula as relações de oferta e procura. Ora, esquece-se, nestes casos, que a opção por nivelar o preço do mercado interno a partir das exportações é feita pelos próprios produtores, que preferem aumentar suas margens de lucro e ignorar a dramática situação que vive a maior parte da população do país, desempregada e com um auxílio emergencial com valor cortado pela metade.

É curioso ainda ver que o agronegócio é o único setor da economia brasileira que apresenta crescimento consistente no primeiro semestre de 2020, com alta de 3,3%. Diante desse número, é válido se questionar quem é que está sendo beneficiado com essa alta no setor. Certamente, não é o povo, que só percebe o crescimento do “agro” na tabela de preços dos supermercados.

Por outro lado, parecem beirar a hipocrisia os apelos de Bolsonaro aos produtores para que sejam patriotas e segurem a subida dos preços. Hipocrisia porque é a própria política de seu ministro Paulo Guedes, sintetizada na máxima de “juros baixos e câmbio alto”, que permitiu a desvalorização de 36% do real perante o dólar nos últimos doze meses. Dólar mais alto significa maior margem de lucro nas exportações, que, por sua vez, induz a regulação dos preços no mercado interno. Apelar para que não haja aumento sem alterar a política cambial se resume muito mais a uma encenação para sua base do que de fato à adoção de uma postura de combate ao aumento no custo da cesta básica.

Já os dados econômicos oficiais parecem cada vez mais distantes da realidade das pessoas. O principal índice que mede a inflação no país, o IPCA, foi divulgado hoje, apresentando uma alta de somente 0,7% nos oito primeiros meses de 2020, ou de 2,44% nos últimos 12 meses. Em compensação, produtos como o tomate (12,98%), o óleo de soja (9,48%), o leite longa vida (4,84%), frutas (3,37%), carnes (3,33%) e arroz (3,08%) apresentaram uma alta muito superior nos preços somente em agosto (segundo informações do jornal O Globo). Desse modo, mesmo com o expressivo aumento do custo da cesta básica, a média da inflação segue abaixo da meta estipulada pelo Banco Central do Brasil, prevista para 4% neste ano.

Para saber mais sobre a Campanha de Luta por Vida Digna (CLVD) promovida pelo Repórter Popular e por diversos coletivos por todo o país, que denuncia o alto custo de vida e constrói iniciativas de apoio mútuo e solidariedade entre as e os de baixo, acompanhe as nossas páginas!