Segunda-feira dessa semana (nove de Outubro) passava na rádio Gaúcha, pela manhã, as principais tendências para solucionar “o problema da Cidade Baixa”, que na opinião dos ouvintes e/ou moradores se resumem as seguintes sugestões: 1) socar as pessoas pra dentro dos bares; 2) proibir os ambulantes; 3) patrulhamento ostensivo da polícia.
Para quem não acompanhou, a polícia entrou em confronto com as pessoas, que estavam na Rua João Alfredo, bebendo e se divertindo, pelo menos duas vezes nas últimas semanas. Utilizando de armas de dispersão de multidões – cada uma custando mais ou menos 800 reais dos cofres públicos – e confronto físico, a Brigada Militar teria sido autorizada pelo Ministério Público, que por sua vez, havia sido acionado por um grupo de moradores incomodados, para realizar a ação. Devemos lembrar que essa situação não é de ontem seja especificamente no bairro, ou em outros contextos históricos: as aglomerações de pessoas sempre levantaram desconfiança das classes mais abastadas.
Além disso, na opinião dos moradores do bairro à rádio, “trabalhadores que só querem seu sossego”, não estariam sendo suficientemente escutados ou menosprezados, como estraga-prazeres, pelas autoridades, em relação aos rolezeiros, consumidores, frequentadores da noite, que inclui bêbados, drogados, promíscu@s, ladrões, farreiros, mijões, moradores de rua e traficantes. Essa opinião seria unânime entre todos os moradores, que se reúnem semanalmente na Associação de Bairro, na Igreja Sagrada Família.
Já o locutor apontou que “a solução mais coerente envolveria um debate”, o que não é errado. Porém, ignora o fato de que esse princípio da cidadania de longe é páreo pra lógica econômica e capitalista. Ela ignora outras problemáticas transversais a esse litígio, que envolvem racismo ambiental, aumento do sub/desemprego, cerceamento da cultura, direito à moradia e à cidade, despreparo em situações climáticas adversas e mobilidade urbana, em nome da alternativa mais lucrativa e a paz rapidamente garantida de quem dá sustentação política e lucrativa. Por fim, subtrai pelos meios de difusão e midiáticos, todas essas questões ao discurso da “farra versus sossego”. Acaba que o locutor vai seguir clamando pelo debate e imparcial, mesmo anunciando os relatos dos moradores mais protofascistas e pela higiene do que os moradores que compreendem de forma sensata os problemas de seu local de moradia, caso não seja contestado.
Por isso, os moradores que não se identificam com esses discursos e que gostam do bairro justamente pelo seu perfil dinâmico, deveriam garantir por fora do âmbito da prefeitura às opiniões divergentes, em relação aos que ganham holofote facilmente. Dessa forma, recupera-se um senso de comunidade em relação à alienação do cotidiano e as decisões políticas arbitrárias. De baixo pra cima é a única saída democrática promissora desse impasse.
Bárbara Gonçalves