Ceará: Povos tradicionais na luta por vida digna

O Comitê Cearense de Luta por Vida Digna organizou ação de colagem de cartazes em duas comunidades do Assentamento Sabiaguaba: Caetanos de Cima e Matilha, na manhã desta quarta-feira, 15 de julho se 2020.

Colagem de cartazes na sede da Associação. Foto: Comitê Cearense de Luta por Vida Digna

O assentamento Sabiaguaba nasceu da luta de pescadores e pescadoras artesanais, agricultores e agricultoras tradicionais campesinos descendentes de indígenas e de populações sertanejas. Segundo contam os/as mais velhos/as, a origem da comunidade está nos movimentos migratórios em direção ao mar que se organizaram para lutar pelo território nas comunidades eclesiais de base (cebs) na década de 1980. Apesar de o território já está demarcado, os pescadores e agricultores vivem lutas territoriais contra a ocupação de suas terras pela especulação imobiliária e o turismo de massa que assola e destroi tudo por onde passa.

Colagem de cartazes na banca comunitária. Foto: Comitê Cearense de Luta por Vida Digna

Enquanto colavam os cartazes os participantes não aglomerados conversavam sobre a preocupação com a retomada do turismo e pessoas vindas de todos os lugares para as dunas móveis localizadas no Assentamento e proximidades. Embora essas dunas estejam localizadas em Área de Reserva Leal, uma vez que lá estão ecossistemas protegidos, lagoas temporárias e sítios arqueológicos, os órgãos de fiscalização ambiental fecham os olhos para nossas áreas de proteção e assim condenam nossos povos ao conflito direto com grandes especuladores.

Colagem de cartazes no centro cultural Chico Quirino. Foto: Comitê Cearense de Luta por Vida Digna

Some-se a isso a importância cultural e histórica dessas dunas para formação do assentamento, uma vez que as duas comunidades estão por elas separadas e através delas se comunicam desde o início da luta.

O trânsito intenso de turistas nessas dunas e no próprio assentamento causa um grave desequilíbrio socioambiental, uma vez que compacta o solo diminuindo a carga aquífera, essencial para ao abastecimento das duas comunidades, e prejudica o desenvolvimento de aves e plantas. Existe também o impacto no cotidiano das comunidades do Assentamento: no passeio de idosos e de crianças que têm medo de caminhar nas ruas pela velocidade com que bugs transitam e também as doenças respiratórias que causam levantando poeira quase ininterruptamente durante os finais de semana.

Pintura no ponto de cultura do assentamento. Foto: Comitê Cearense de Luta por Vida Digna

O Estado do Ceará promove um grave crime contra a saúde desses povos quando aprova a retomada do turismo, priorizando o lucro das empresas do ramo em detrimento da saúde dos povos tradicionais.

Ademais, essa retomada dá-se num contexto de diversas ocupações irregulares de áreas do território por pessoas externas à Associação de Pescadores/as e Agricultores/as que cercam terras para vender.
Os povos de Caetanos de Cima e Matilha permanecerão firmes em defesa do seu território e da sua organização comunitária.

Contra a especulação imobiliária e o lucro dos ricos, vida digna para nosso povo!

Dunas móveis do Assentamento Sabiaguaba, em Amontada/CE. Imagem: Divulgação