07 de maio de 2020
Em Cachoeirinha, observamos a maior crise de saúde pública de nossa geração se aproximar. Enquanto ainda estamos em um estágio inicial desta crise anunciada, podemos olhar para outras cidades e países para tentar aprender as melhores estratégias para o combate a COVID-19. Nós, trabalhadores da saúde do município, escrevemos esta carta à população e aos gestores para expor algumas preocupações em relação ao gerenciamento desta pandemia. Conforme o último boletim epidemiológico do município (06/05/2020), temos 22 casos confirmados de COVID-19, porém se formos considerar estudos importantes realizados no Brasil e no mundo, a nossa baixa capacidade de testagem indica que este número tende a ser 8 a 12 vezes maior. Ou seja, ao olhar de forma otimista, o número de casos na cidade ultrapassa os 175. Estes dados, em conjunto com as demais informações do estado do Rio Grande do Sul, indicam que ainda estamos longe do pico da doença em nossa região.
Infelizmente, o que estudos sérios demonstram é que até o presente momento não temos medicações com eficácia e segurança comprovada contra o coronavírus e as perspectivas de uma vacina não são de curto prazo. Desta forma, permanecem como alternativas comprovadamente efetivas as medidas de higiene e o isolamento social. Os países que inicialmente foram contrários às medidas amplas de distanciamento social, como Itália e EUA, foram obrigadas a rever seus posicionamentos após o quadro trágico de infecções e mortes que apresentaram. O objetivo do isolamento é diminuir a velocidade com que o coronavírus se espalha para que não tenhamos um colapso do já sobrecarregado sistema de saúde. Quando chega este momento, os profissionais da saúde tem que escolher quem vai ganhar a vaga de um leito de UTI e quem não terá sequer a chance de sobreviver.
Em estudos em andamento no Rio Grande do Sul, foi visto que houve uma importante adesão ao distanciamento social entre os gaúchos durante o mês de março, que é considerada a principal explicação para o número ainda baixo de casos no estado. Este fato contribui para que a nossa curva esteja diferente de outros estados no Brasil, porém não significa que devemos retornar à normalidade. Ao contrário, demonstra a importância do isolamento e que para iniciarmos a saída da quarentena temos um longo caminho pela frente.
Dentro do plano de combate ao coronavírus, mais um aspecto se mostrou crucial em outros países: a testagem ampliada da população . Afinal, como saber o tamanho do nosso problema se não conseguimos enxergá-lo? Os exames são essenciais para darmos visibilidade ao nosso inimigo microscópico e sabermos realmente em que momento do contágio estamos. Além de ser essencial para diagnosticar e tratar os pacientes, deve ser a principal ferramenta para avaliarmos o momento de sair do isolamento.
Em nossa cidade ainda temos um importante caminho a percorrer para que estejamos aptos a receber esta pandemia no seu pico. As unidades de referência não estão adequadamente equipadas, faltam muitos profissionais de saúde e não há testes suficientes. Não é hora de dar passos atrás na estratégia do isolamento. Todos os esforços devem ser feitos para que todos os trabalhadores de atividades não essenciais tenham condições de se manterem em quarentena, porque a vida da população de Cachoeirinha deve estar acima de interesses econômicos.
Assinam esta carta (segue na segunda página):
Adriana Ferrapontoff Lemos
Alessandra Machado
Alessandra Pereira Menezes
Aline Rocha Shinoff
Andréia de Ribas Freitas
Angela Olindina da Costa
Antônio Marcos Noronha Pinheiro
Bruna Heinreich da Silveira
Carina Lopes de Lima
Clarisse Maria Lokschin
Delmarina Dias
Denise Dorneles
Eduardo Colling
Fernanda de Campos Gonçalves
Gerson Luiz Nascimento Maximo.
Gisele Mello Ferreira
Graziela R. Gomes
Glaci de Assis Lopes
Isabel da Silva
Jeane Nogueira Dantas
José Antônio Pereira de Freitas
Josiane de Jesus
Josimaira da Costa Duarte
Juliana Gonçalves Dias
Leandro de Medeiros Oliveira
Leandro Bosquerolli
Lucas Mion
Lucia Maria De Bem
Lucia Helena da Rocha
Luciana Longhi Ferreira
Luciana Costa Vargas
Lucimeri Inês Schirmann Rodrigues
Lourdes Kusler Zatti
Luciana Isabel Prates da Silva Gijsen
Luciano Pacheco Reis
Magali Borges
Manoel Pereira de Araujo Neto
Maria de Lourdes More
Maria Emília F. Kretzkei
Michele Rocha Fortes
Paula Ferrarese Tavares
Priscilla Fagundes de Oliveira
Rejane Silveira
Roberta T. Dos Santos
Rose Rosa Bica
Sidnei da Silva
Simone Maria Boeira da Silva
Simone da Silva Neves
Samara Oliveira da Rosa
Samanta Godoy Pires
Tatiane Leal Svensson da Fonseca
Tiago Francisco Paula Padilha
Vinicius Vancour
Viviane Bernardets Ferreira
Viviane Farias Carneiro
Wagner Coelho Alves
Vera Claide Carvalho