Biblioteca comunitária realiza sessão de cinema gratuita com filme de Joinville

Por Repórter Popular – SC

No próximo sábado, 1° de abril, a Biblioteca Comunitária Lutador Dito vai realizar uma sessão de cinema gratuita do filme “O Céu Lá de Casa. O curta-metragem foi produzido em Joinville (SC) e será exibido neste fim de semana na Amorabi (Associação de Moradores e Amigos do Bairro Itinga), a partir das 10h.

O Céu Lá de Casa é um curta metragem ficcional que conta a história de Joaquim. Uma criança de dez anos, que vive com a cabeça nos filmes, nas revistas em quadrinhos e nas estrelas. Ele vive com Bia, sua mãe, que está sempre trabalhando. Os dois moram em um pequeno apartamento, no centro de Joinville, onde um dia sem chuva, quase nunca acontece, e o céu está sempre fechado.

Depois de passar muito tempo em casa, Joaquim conversa com sua mãe e decide ir atrás de seu sonho, ver um céu estrelado. Um dia, quando Bia vai para o trabalho, o garoto vê que é o dia perfeito para sair em sua aventura, ele pega, as moedas de seu cofre, uma garrafa de água, suas revistas de super-heróis favoritas e sua luneta de bolso, e sai, em busca do lugar onde poderá ver as estrelas.

Após a exibição de O Céu Lá de Casa, produzido pela Oficina Produções, será feito um bate-papo com o direto e roteirista do curta, Lucas Alvarez. Para fazer um “esquenta” deste debate, o Repórter Popular conversou com Lucas. Você confere abaixo nossa entrevista.

Repórter Popular (Repop) –  A produção audiovisual em Joinville pouco produz para o público infantil e infanto-juvenil. No seu ponto de vista, é possível identificar os motivos?

Lucas Alvarez (LV) – Nossa que pergunta difícil. Fiquei alguns dias pensando sobre e não consegui chegar a uma resposta que fosse satisfatória, mas aqui vai um pouquinho do que eu pensei sobre o assunto. Acho que a produção cinematográfica em Joinville é muito nova e as produções mais antigas não são conhecidas, eu mesmo não conheço nenhum filme local feito antes dos anos 2000.

A quase 20 anos atrás o SIMDEC surgiu como uma possibilidade de acesso a verba para a produção local, além disso nos últimos seis anos nasceram dois cursos de cinema na cidade e  um festival de cinema, o Joinville International Short Film Festival (JISFF), que está apenas em sua terceira edição. Tudo isso está gerando uma formação de muitas pessoas qualificadas na área.

Essa “nova” produção  na cidade tem muito para onde crescer e se expandir. Talvez, possamos dizer que não é que exista uma falta de filmes para o público infanto-juvenil, e sim uma falta de produção de filmes como um todo. E claro, também existe uma dificuldade de acesso a tudo que é produzido aqui, se produzir algo em Joinville já é difícil, imagina exibir e fazer com que as programações culturais cheguem às pessoas, ainda mais aquelas que não estão dentro da bolha do teatro, do cinema ou da cultura como um todo. Além do mais, se o trabalho com produção em si já pode ser considerado novo, o trabalho de distribuição e exibição local é ainda mais frágil e inicial.

Repop – A partir disso, qual importância de produzir arte focada no público infantil, ainda mais em Joinville?

LV – Acho que existem dois pontos importantes: o primeiro é contar histórias daqui, para o público infantil. Desde quando somos criança estamos muito acostumados a ver filmes e séries estadunidenses, que trazem uma realidade que não é a nossa e visualizar uma história de uma criança daqui cria uma identificação diferente, é uma representatividade que nenhuma obra dos Estados Unidos pode trazer.

O segundo ponto é que crescer assistindo estas obras, pensadas, planejadas e produzidas aqui, dá um senso de que é possível contar as suas próprias histórias, e que qualquer pessoa pode transmitir o que tem dentro de si, por meio de seus filmes, claro existem as dificuldades e os empecilhos para se produzir, o cinema é uma batalha diária, mas é possível.

Eu quis fazer um filme falando sobre um tipo de infância, trazendo muitas coisas que vi e vivi quando fui criança, porque foi um período muito mágico na minha vida, onde mesmo com todos os problemas que existiam eu me sentia livre para sonhar e viver nos meus mundos inventados e de faz de conta.

Repop  – Qual é o papel da produção audiovisual local para formação de um público que se envolve, assiste e dialoga para fazer um circuito artístico existir?

LV – Os filmes independentes, feitos com verbas próprias ou, como é o caso desse, com verbas municipais, tem um orçamento muito limitado e uma distribuição complexa. Pelo seu caráter de curta-metragem, filmes como “O céu lá de casa” não podem ser exibidos no cinema e, mesmo se pudessem, não teriam chance contra o mais novo lançamento da Marvel, que tem centenas de milhares de dólares investidos em publicidade no mundo todo. Então o público que vai às exibições, participa debate e leva os filmes no boca a boca para amigos e conhecidos. Faz toda a diferença em um projeto desse tipo. Além disso, este é um dos lugares onde podem surgir novos cineastas, as exibições dos filmes produzidos aqui para o público local mostram que é possível que contemos nossas histórias.

Repop – Como foi o processo de direção do filme? Quais os desafios?

LV – Foi uma loucura, mas muito gostoso também. Nunca me vi como diretor de cinema. Na época da faculdade, eu tinha a ideia de que a função envolvia ficar tomando decisões em vez de ir lá e fazer você mesmo. Mas, quando escrevi esse filme e decidi que queria vê-lo feito, percebi que se eu não tomasse a frente e dirigisse o projeto ninguém o faria por mim. Eu queria muito ver o filme acontecer e essa era a única forma, então decidi topar esse desafio e acabei descobrindo que amo dirigir e reforcei a minha paixão pelo roteiro no processo.

Gravação do filme

A direção envolve muito estudo em cima do roteiro, revisões e leitura dele diversas vezes, buscando entender aqueles personagens e aquela história como um todo. Quando consegui chegar em uma versão final do roteiro continuei lendo-o, mas agora com o pensamento de como essa história deve ser contada, pois no final das contas essa é a função do diretor: decidir qual é a melhor forma de contar aquela história e dar as direções para junto com a equipe para fazer isso.

Imaginei durante meses como seria o filme quando finalizado, pensando em detalhes como o estilo da fotografia,  a música que iria trabalhar junto com a imagem, o design do filme, pesquisei e conversei muito com meus amigos e minha família. Ver o filme finalizado depois desse trabalho intenso está sendo muito interessante, fico feliz pelo trabalho que fizemos, mas já vejo muitos pontos onde posso melhorar, para ser um profissional ainda melhor em próximos projetos.

Meu maior desafio foi tocar a produção junto com as duas produtoras do projeto, Bia Alvarez e Fahya Kury. Quando falamos de projetos desse tipo, o diretor não fica só com a parte criativa, como costuma ser em filmes grandes, ele também trabalha em conjunto com a produção. E foi, junto com elas, que trabalhei para resolver praticamente tudo da produção. E, caraca, como existem coisas para se resolver trabalhando com cinema, a produção foi algo que me consumiu desde antes mesmo do filme ser rodado e que ainda me dá trabalho até hoje, com o planejamento de todas as exibições e fechamento do projeto.

Repop – Este é o primeiro projeto que você faz a direção, correto? Antes do filme, quais foram suas produções em geral e no audiovisual?

LV – Isso, é o primeiro filme que estou dirigindo e meu primeiro roteiro também. Durante a faculdade fiz muitos estágios e trabalhos freelancer, de tudo que é tipo, desde fotógrafo de eventos até cinegrafista de futebol, passando por animação para vídeos empresariais e edição de conteúdo para ser vendido no hotmart. Mas, além disso, produzi alguns curtas durante a faculdade, onde com o tempo fui me identificando mais com a parte de direção de fotografia, roteiro e edição. Em 2021 e 2022 trabalhei na produção de quatro outros curtas da produtora Oficina, em funções como direção de fotografia, câmera e editor.

Repop – Quais os objetivos de exibir o filme, a fazer a sua estreia, em um espaço comunitário de cultura e arte popular?

LV – Eu quero que o filme seja visto por todos, que ele seja discutido e possa alcançar os mais diversos espaços. Como disse anteriormente, acho que temos uma produção local que é jovem, mas principalmente temos uma dificuldade muito grande de levar os filmes ao público, muita gente não faz ideia de que se produz cinema, por isso, nessa primeira temporada, o filme “O céu lá de casa” vai ser exibido em cinco espaços ao redor da cidade, visando alcançar os mais diversos públicos. A Amorabi foi parceira no projeto e sempre apoia e realiza diversas atividade de arte e cultura, inclusive os ensaios com os atores do filme “O céu lá de casa” foram feitos no espaço. Então é muito legal levar o filme a esse lugar carregado de história e luta pela cultura local.

Cena do curta-metragem

Repop – A cidade tem uma política de fomento cultural, como Simdec. Quais são os pontos positivos e negativos do Simdec?

LV – O SIMDEC é importantíssimo para o desenvolvimento da cultura local, muitos projetos incríveis nascem dessa política que sem ela não poderiam existir, então é algo muito importante. Dito isto, existem pontos sim que os últimos editais do SIMDEC tinham e que podem melhorar muito para as próximas edições, mas isso são problemas muito específicos para comentar um a um. Falando de forma mais geral o ponto positivo é conseguir financiar projetos importantes para o crescimento da cultura joinvilense e o lado negativo é a complexidade burocrática em alguns aspectos.

Equipe do filme