Bergman, Kubrick e Carax

Haveria parâmetro adequado para justapor Holy Motors, de Léos Carax (2012), 2001: uma odisséia no espaço, de Stanley Kubrick (1968), e O sétimo selo, de Ingmar Bergman (1957), em comparação?  São três filmes dos quais gosto muito, por isso essa escolha arbitrária, que pode ser limitante.

            Holy Motors trata, no plano superficial do enredo, de um ator que anda em uma limusine fazendo vários papéis – que são interpretados pelos outros personagens como reais – durante um dia; no fundo, questiona o mundo contemporâneo como representação fílmica, um simulacro que pressupõe a técnica e a padronização. 2001 é a técnica da viagem espacial e da inteligência artificial que se pretende substituir o humano. Aqui já um fator comum: a dessubjetivação em tempos de capitalismo tardio, da propaganda e do capital financeiro (do qual olho, 2019; o filme de Carax é mais recente, mas 2001 poderia já indicar, pouco menos de duas décadas da implementação do neoliberalismo na Europa e nos EUA). O debate é se não há uma lógica da propaganda, que busca a persuasão do interlocutor, uma noção de controle absoluto sobre o espírito, o intelecto dos sujeitos, incrustado nas formas e temas desses dois filmes. O sétimo selo, o mais antigo deles, trata da construção e subseqüente tensão do sujeito entre as urgências do mundo real, a peste e a morte iminente, e a salvação metafísica do Senhor. Também há uma noção de sujeito mobilizada e tensionada, nesse caso pela fé da religião, mas cujo mecanismo pode ser o mesmo.

            Ambos falam da derrocada do sujeito frente a algo que ou o supera (a religião em O sétimo selo) ou o desfaz (Holy Motors): talvez o filme de Kubrick se situe no meio de ambos, já que a modernidade tecnológica se mostra incapaz de superar integralmente o humano (na verdade a pergunta é: quem é o humano ali, visto que Hall 9000 demonstra mais sentimentos que o astronauta?).

            São comentários para propor o debate e pensar a respeito de três grandes filmes modernos, cada um a seu tempo e jeito.

Rodrigo Mendes