Auxílio da Uber aos motoristas do RS é picaretagem!

Por Repórter Popular RS

Ajuda da Uber de R$ 500,00 aos motoristas do RS é puro marketing canalha e oportunista

Conforme as informações divulgadas pelo Terra, “após uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto na quarta-feira (22), o CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, anunciou que a empresa destinará R$ 10 milhões para auxiliar os motoristas do aplicativo que foram afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Cerca de 20 mil condutores cadastrados receberão R$ 500 cada.” A mesma informação foi veiculada no site da CNN Brasil, no dia 23 de maio.

No entanto, conforme relata um dos informantes motorista da Uber, não é bem assim. Conforme revelou ao Repórter Popular, apesar de preencher o único requisito apontado pela plataforma, não recebeu o auxílio, que deveria ter sido pago até o dia 24 de maio. Segue seu relato:

Pois bem, eu trabalho com o app Uber e fui diretamente atingido pelas enchentes. Meu carro ficou submerso nas águas do rio Gravataí, no bairro Parque da Matriz, em Cachoeirinha/RS. Sem meu instrumento de trabalho e há 3 semanas sem qualquer renda, entrei em contato com a Uber pelo suporte ao motorista no aplicativo. Durante o atendimento, fui informado que faz jus ao pagamento o motorista parceiro que completou 1105 viagens no período de 01/01/24 a 28/04/24 e que eu teria feito o total de 1090 no período, não sendo elegível, portanto, para tal auxílio. No entanto, as informações fiscais emitidas pela própria empresa em seu aplicativo, dão conta de que eu totalizei 1157 viagens; informei esse dado à atendente que disse ter uma planilha que confirma os dados que ela me apresentou, mas que abriria um “chamado” para verificação. A partir daí, o atendimento é feito por um boot que repete incessantemente a mesma mensagem genérica sem nada responder.”

A Uber é mais uma das big techs, grandes empresas de tecnologia, que hoje moldam as relações de trabalho no Brasil e no mundo. Recentemente, a empresa comemorou a apresentação de um projeto de lei (PLC 12/24) que regulamenta o exercício da atividade de motoristas por aplicativo no Brasil.

Apresentado com pompa e circunstância pelo governo federal, na prática o PL vem aprofundar a destruição dos direitos trabalhistas, que já vinham sob forte ataque desde o advento da reforma trabalhista de Temer, surgida no desenrolar do golpe de 2016.

Na sequência da crueldade que o governo negacionista, genocida e militar do Bolsonaro teve coragem de impingir aos trabalhadores, o governo Lula/Alkmin cria uma categoria de trabalhadores não protegidos sob o guarda-chuva da CLT, jogando no lixo as lutas históricas dos trabalhadores por direitos e dignidade, movimento do qual o próprio Partido dos Trabalhadores teria surgido.
Essa nova categoria, chamada por Lula de “trabalhador autônomo com direitos”, torna mais precárias as relações de trabalho ao não reconhecer vínculo, e não problematiza o fato de que uma grande corporação como a Uber, com lucros bilionários, cria um grande grupo de trabalhadores que precisam alugar ou comprar seus instrumentos de trabalho, arcar com os gastos da manutenção, trabalhar muitas vezes de 12 à 15 horas por dia, e não ter garantido direitos trabalhistas justos e dignos.

Dito isso, como se não bastasse o lobby no congresso para ver aprovadas essas alterações e a regulamentação da atividade exatamente nos termos pretendidos, a Uber faz, agora, diante da maior catástrofe ambiental da história do Rio Grande do Sul, uma campanha publicitária, marketing oportunista, ao anunciar, após reunião com Lula e o Ministro do Trabalho Luiz Marinho, um auxílio de 10 milhões de reais para os motoristas do RS, cabendo a cota de R$ 500,00 para 20.000 motoristas parceiros.

O número parece não levantar qualquer dado de quantos foram os motoristas atingidos e o único critério para o motorista receber é ter completado 1105 viagens no período de 01/01/24 a 28/04/24. Ora, muitos motoristas não estão em áreas atingidas, tantos outros perderam seu carro, seu instrumento de trabalho, a lógica não é a de auxiliar os atingidos, senão fazer marketing com a tragédia.

Lucrar em cima de tragédias tem nome. Assim como a Alvarez&Marsal, recentemente anunciada como consultora parceira da prefeitura de Porto Alegre, para gerenciar a reconstrução do Estado e da cidade de Porto Alegre. Empresa que lucrou com Brumadinho e com o furacão Katrina, o CAPITALISMO DE DESASTRE se apresenta nesses momentos em que uma grande catástrofe, a perda de vidas de pessoas, a devastação de cidades inteiras, não passa de oportunidade para grandes empresas lucrarem.

É isso que faz Luciano Hang ao anunciar doações irrisórias em comparação ao faturamento diário de suas lojas; é isso que faz a Melnick ao doar 50 colchões para os desabrigados; é isso que faz a FIERGS ao solicitar ao Governo Federal a flexibilização da legislação trabalhista nesse momento e, ao mesmo tempo, pedir 100bi para a “reconstrução” da indústria e do comércio… o marketing canalha só visa a promoção das empresas, a publicidade. E campanhas publicitárias tem um objetivo bem definido: criar empatia, identidade com um público consumidor e vender! E isso é capitalismo de desastre.