Autocuidado e saúde mental durante o isolamento social

Priscila Mendes (*)

Estamos diante de uma crise sanitária mundial – e política, no Brasil – que vai afetar diversos setores da nossa vida e pode nos causar muitos danos psicológicos. Trata-se de uma situação ameaçadora que pode aumentar a ansiedade e o medo e, embora algumas pessoas se sintam bem quando estão sozinhas, o distanciamento compulsório necessário para contenção do problema pode não ser bem encarado até por elas.

Vivendo em um mundo capitalista que exige de nós alta produtividade a todo tempo, não estamos acostumados/as a parar e nem aceitamos tranquilamente uma baixa performance nos estudos ou no trabalho, mas o momento atual implica justamente o contrário – embora grande parte dos/as trabalhadores/as esteja impedida de se proteger, ficando em casa. Dessa forma, muitas pessoas podem sentir dificuldades em reajustar suas rotinas, lidar com a frustração de terem planos interrompidos e se adaptarem a nova condição de não terem um suporte emocional e afetivo facilitado pela presença de pessoas queridas.

Pensando nisso, seguem algumas recomendações de autocuidado para amenizar os prejuízos desse contexto global sobre nossa saúde mental:

  • É importante estabelecer um momento do dia para acessar informações sobre o que está acontecendo. Busque apenas fontes seguras. Evite o bombardeio de informações, assim como a desinformação, porque ambos nos colocam em uma situação de risco, uma vez que, de uma forma ou de outra, acabamos não entendendo o que é preciso fazer para se proteger e quais medidas estão sendo tomadas pelas autoridades. Mas também acesse conteúdos diferentes, assista a novos vídeos, leia sobre assuntos diferentes que são interessantes para você;
  • Também planeje uma rotina simples, possível de ser cumprida. O momento é de muita instabilidade e insegurança, então, planejar uma rotina gera uma mínima sensação de estabilidade e continuidade. Aproveite para fazer coisas que gostava, mas que antes não tinha tempo para fazer. Isso também permite uma sensação de planejamento e construção. Não crie obrigações porque nesse momento, além dos cuidados que já temos que tomar, pode ser mais estressante. Então, é importante também ser um momento de flexibilidade. Mesmo para quem está trabalhando em casa, a rotina continua, mas já pode ser mais flexível, confortável. E deve ser. É importante também não estender o trabalho por estar trabalhando em casa, é preciso estabelecer momentos de descanso;
  • Realize exercícios, de acordo com sua capacidade física e seu espaço, mas não ultrapasse seus limites. A atividade física afeta positivamente a sua saúde física e, consequentemente, a mental. O que afeta diretamente sua imunidade. É um autocuidado que reflete até mesmo em nossa autoestima;
  • Pratique o exercício de respiração guiada, caso se sinta mais ansioso/a nessa quarentena: procure o ambiente mais calmo de onde você está, sente-se com a postura adequada, com os olhos fechados ou não, inspire profundamente (puxe o ar) e expire lentamente (solte o ar) repetidamente. Enquanto solta o ar lentamente, pode contar os segundos que leva para isso. Procure atentar-se somente a sua respiração, pois é isso que fará com que sua ansiedade reduza;
  • Dividir as tarefas de casa também é importante para ninguém ficar sobrecarregado/a e fortalece a sensação de contribuição positiva de todos/as. O contato com os animais também pode trazer leveza para esse momento;
  • Caso tenha alguma familiaridade com a arte, produza. Escreva um poema, dance, cante, toque algum instrumento, caso seja possível. A arte é uma importante ferramenta de expressão, descarga e transformação daquilo que estamos sentindo, vivendo. Entre em contato com a arte de outras pessoas também, descubra músicas novas, autores novos, outros filmes;
  • Também escreva livremente sobre o que está sentindo. A escrita expressiva ajuda a organizar e ampliar a nossa percepção sobre aquilo que estamos vivendo e sentindo. Sendo possível uma transformação positiva dessa experiência em nível individual;
  • Mas não se culpe se não estiver conseguindo produzir, seja lá o que for. Sentir medo, ansiedade, dúvidas sobre o presente e o futuro não está acontecendo só com você. O momento é mesmo de muita insegurança, então, acolha o que está sentindo. A maioria das pessoas também está com dificuldade. Os momentos de ócio são importantes para fazermos simplesmente o que nos dá prazer, mesmo que nossa sociedade não valorize isso;
  • Mantenha contato com amigos/as e familiares por meio de ligações, vídeo chamadas, conversas pelas redes sociais, etc. Converse com aqueles/as que convivem com você na mesma casa. É um momento para manter o distanciamento e não romper com as nossas relações que são boas e saudáveis. É um momento de incertezas e isso gera ainda mais ansiedade, portanto, converse com quem você confia, compartilhe o que sente, sendo algo positivo ou não. Aproveite esse tempo para pensar em si mesmo/a, naquilo que sente. Procure ajuda de profissionais, caso sinta que é necessário;
  • Apoie iniciativas de solidariedade, como puder. Estando confinados/as, podemos nos sentir impotentes, sentir que não estamos fazendo coisas úteis e que nada podemos fazer diante da crise. De fato, uma pessoa isolada não pode controlar o que está acontecendo, mas podemos pensar em alternativas coletivas de apoio àqueles/as que mais precisam e que não estão sendo amparados/as pelo Estado. Fortalecer alternativas coletivas fortalece também a nossa potência de ação, além de que a empatia e a solidariedade geram bem estar. Em caso de apoio presencial, tome os devidos cuidados indicados pelos técnicos de saúde. E caso seja você a pessoa que precisa de apoio, acesse os links no final do texto para encontrar a ação que pode contribuir com sua necessidade;
  • E, o principal, se puder FIQUE EM CASA! Ficar em casa também é um ato de cuidado consigo/a mesmo/a e com as outras pessoas. Respeitando essa medida voluntariamente, também estamos contribuindo positivamente com a coletividade (o que pode ampliar essa nossa sensação de ação), com a contenção do problema, cuidando daqueles/as que são importantes para nós. É uma prevenção. É importante compreender que isso vai passar e que nos cuidando temos mais força para transformar essa situação.

REDES DE APOIO PSICOLÓGICO À DISTÂNCIA E GRATUITO

Atendimento via telefone:

SOS APOIO EMOCIONAL

Rio de Janeiro/RJ: (21) 97504-6070 – 09h às 0h

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Interior de SP: (19) 99117-0990 – 10h às 22h

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Goiânia/GO: (62) 99372-2986 – 10h às 22h

CVV – Centro de Valorização da Vida
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(*) Priscila Mendes é psicóloga, trabalha na assistência social e atua no MTST em São Paulo.