Galdino Jesus dos Santos foi um líder indígena brasileiro da etnia pataxó-hã-hã-hãe. Em 19 de abril de 1997, ele foi à Brasília para tratar de questões relativas à demarcação de terras indígenas no sul do estado da Bahia, seu estado natal.
Após finalizadas as comemorações do Dia do Índio, que foram até tarde, o líder indígena voltou até a pensão em que estava hospedado e, impedido de entrar por causa do horário, abrigou-se em uma parada de ônibus na W3 Sul (bairro central da cidade). Foi quando um grupo de cinco rapazes, todos no mesmo carro, jogou álcool e ateou fogo no que eles achavam ser “apenas um mendigo”. Um homem que passava pelo local anotou a placa do automóvel e entregou à polícia.
O pataxó teve 95% do corpo queimado e morreu horas depois no hospital. Os jovens do carro foram logo identificados: Tomás Oliveira de Almeida, Eron Chaves Oliveira, Antônio Novély Vilanova, Max Rogério Alves e Gutenberg Nader Almeida Junior, o único menor de idade. Todos foram presos e condenados a 14 anos por homicídio triplamente qualificado. O menor cumpriu 4 meses de medida socioeducativa. O julgamento mobilizou o país e chamou a atenção pelos criminosos serem de famílias influentes e com alto poder aquisitivo em Brasília.
Pela gravidade do crime, os detentos não poderiam ter acesso a vários benefícios da lei, mas, já no ano seguinte, receberam autorização para exercer funções administrativas em órgãos públicos. Três dos rapazes chegaram a ser flagrados pela imprensa bebendo em um bar e voltando para o presídio em seus próprios carros, sem nenhum tipo de revista.
Em 2004, eles ganharam liberdade condicional, o que gerou muita polêmica em todo o Brasil. E o que aconteceu com os criminosos nos anos seguintes?
Todos foram aprovados em concursos públicos. Tomás Oliveira é técnico legislativo no Senado Federal. Eron Chaves é agente do Detran-DF. Antônio Novély é servidor da Secretaria de Saúde do DF. Max Rogério entrou para o TJDF e, atualmente, trabalha em um escritório de advocacia particular. Gutenberg Náder foi aprovado para a Polícia Civil do DF em 2014, mas terminou rejeitado na análise de vida pregressa feita pela instituição. No ano passado, passou no concurso da Polícia Rodoviária Federal e hoje é agente da corporação.
Já povo Pataxó-Hã-Hã-Hãe perdeu um membro, uma liderança, um irmão, um pai e um filho.
Entre 1995 e 1997, ano de sua morte, Galdino foi um entre 233 vítimas de violência contra indígenas no Brasil. A violência contra povos originários no Brasil cresce de diversas formas, segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) que, em seu último relatório, falou do aumento de invasão de terras de indígenas.