Em 21 de agosto de 2009, uma ação da Brigada Militar, na época comandada pelo coronel Paulo Roberto Mendes, entraria para a história recente do Rio Grande do Sul pela brutalidade. Eram 10 horas da manhã de uma sexta-feira e 230 policiais militares estavam na Fazenda Southall, em São Gabriel, no oeste gaúcho, para uma reintegração de posse do terreno que estava ocupado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O terreno era posse do INCRA desde 2008, quando o latifundiário faliu. Na parte da tarde, já havia desfecho e era trágico: Elton Brum da Silva, um dos ocupantes, foi assassinado com um tiro de calibre 12, pelas costas.
Na época, uma nota produzida pela Associação Brasileira de Rádios Comunitárias no estado (ABRAÇO-RS), explicava que “a ocupação reivindicava a aplicação dos recursos para saúde, educação e infra-estrutura nos assentamentos da região e desapropriação do restante da Fazenda Southall e a liberação imediata, na Justiça, das fazendas Antoniazzi e 33, em São Gabriel, para o assentamento das famílias acampadas”.
Também na época, a conclusão dos grandes jornais, a exemplo da Zero Hora, é de que o ocorrido em São Gabriel foi um desastre. No entanto, como qualquer ação que envolvia a Brigada Militar e setores mais pobres, o clima era de tensão, causada pela linha autoritária do Governo Yeda Crusius (PSDB). Essa característica era acentuada quando os conflitos eram no campo, já que o Executivo estadual tinha apoio dos ruralistas e latifundiários. Por isto, a ação pareceu mais premeditada do que acidental. Também indica que não foi por acaso que o trabalhador rural de canguçu e pai de dois filhos foi alvejado por trás sem a mínima condição de se defender a forma como o caso foi tratada.
O governo neoliberal de Yeda Crusius, hoje deputada federal, ainda pelo PSDB, tinha como bandeira o ajuste nas contas e a redução de gastos, mas que acabou com cifras milionárias desviadas, como no caso de corrupção do Detran-RS, no qual mais de R$ 44 milhões estiveram envolvidos em desvios. Terminou com outras manchas: o comandante da Brigada Militar, coronel Mendes, foi indicado a uma cadeira de juiz no Tribunal de Justiça Militar, instituição que, apesar de todas as provas, levou mais de seis anos para mandar Alexandre Curto dos Santos, soldado que alegou ter efetuado o disparo contra Elton Brum, para júri popular.
Hoje, parte da Fazenda Southall é desapropriada para a reforma agrária e abriga 225 famílias no Assentamento Conquista do Caiboaté.
Oito anos depois de ser assassinado, Elton Brum é lembrado em todos os dias 21 de agosto. Já em 2008, a Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta Favela organizou, na noite do mesmo dia da tragédia, uma intervenção cênica para denunciar o caso. Até hoje a atividade ocorre pontualmente na data.
Em Santa Maria, na Ocupação Vila Resistência, moradores organizaram atividades de debate e memória ao ocorrido, com o objetivo de discutir a luta pela terra e por condições dignas de moradia e trabalho.