Por Repórter Popular – RS
No dia 23 de outubro de 2024, o Repórter Popular recebeu a denúncia de suspeita sobre uma pulverização aérea numa fazenda vizinha ao Assentamento Santa Rita de Cássia, em Nova Santa Rita (RS), afetando áreas como a do assentamento e imediações. A suspeita vem de agricultores orgânicos de Nova Santa Rita e região. Situações como essa são muito comuns em áreas da agricultura e as pessoas agricultoras ecológicas de todo país enfrentam situações parecidas, que ferem o digno direito de produção agroecológica de alimentos.
Segundo relatos, a movimentação aérea aconteceu no mesmo dia 23 de outubro de 2024, começando às 10h e se estendendo até cerca de 18h. Moradoras e moradores do entorno contaram que um cheiro forte e desconfortável ficou no ar durante todo o dia. Após o meio dia, quando a temperatura superava 30 graus e o vento soprava em direção ao assentamento em torno de 25 km/h, foi possível escutar e observar o avião fazendo retorno dentro da área do assentamento, por cima de áreas de moradia e Áreas de Preservação Permanente:
Ressaltamos que desde 2020 viemos sofrendo o tormento e o sentimento de insegurança, a situação de vulnerabilidade, instabilidade que o fato significa para quem foi atingido em reiteradas oportunidades pela deriva de agrotóxicos resultado da pulverização aérea de agrotóxicos. Tendo em conta que fomos vítimas de intoxicação, além de perder quase todos os cultivos, saúde, renda, etc.
Existem registros de denúncias de outras famílias nos anos anteriores mas, segundo os moradores, até o momento não existem ações da Justiça além de recomendações ou fiscalização que não é efetuada de maneira eficaz. Tampouco ocorreram medidas concretas que possam dar alguma segurança ou ressarcimento das perdas decorrentes desses processos.
Os relatos indicam também que:
não existe fiscalização adequada dos organismos competentes estadual e federal, tendo em conta inumeráveis vezes as pulverizações acontecem em dias e horários inapropriados.
No caso dos voos rasantes sobre áreas povoadas e pulverização aérea, ainda há descumprimento da legislação, visto que as atividades são regulamentadas pela ANAC. A comunidade aguarda a fiscalização e medidas que sejam realmente eficazes e que garantem o direito da população à saúde e a um ambiente saudável.
Além disso, agricultores destacam que atividades ilegais como essas são de alto risco para preservação da biodiversidade local, incluindo o curso das águas, visto que nesse território está localizado um conjunto hidrográfico importante chamado Delta do Jacuí. Além dos impactos imediatos e econômicos à produção orgânica e ecológica local, essas atividades podem contaminar o abastecimento de águas da região metropolitana. O impacto direto dos agrotóxicos na população mais próxima já podem gerar problemas de saúde, o que é grave por si só, e considerando os rios existe um risco de aumento esponencial desses efeitos.
Situações como essa são mais comuns do que se imagina e qualquer pessoa próxima à realidade da agricultura facilmente se identificam com relatos como esse em todo território brasileiro. Em alguns casos, já denunciados aqui no Repórter Popular, como no município de Erval Grande (RS), drones são usados para esse procedimento, bem como outras táticas criminosas.
O documentário “Pontal do Buriti – Brincando na chuva de veneno”, disponível abaixo, também relata um episódio ocorrido em 2013 no município de Rio Verde (GO), quando 100 pessoas, entre elas muitas crianças numa escola rural, foram intoxicadas por uma chuva de veneno despejada por um avião de fazendeiros.
*Este texto foi alterado por revisão editorial em 24/10 às 21:40