Acidente no metrô de São Paulo expõe a precariedade da lógica da privatização

por Resistência Popular Sindical-SP

A manhã dessa quarta feira, 25 de julho, foi bastante turbulenta para quem precisava utilizar a linha 1-Azul do metrô de São Paulo. Nos trens e estações, o anúncio era o de que a circulação estava prejudicada devido à “interferência na via na estação Vergueiro”. Os passageiros demoraram horas para se locomover em trechos que geralmente são feitos em poucos minutos.

A interferência na via mencionada pelo Metrô era um painel de publicidade que se soltou na estação Vergueiro, provocando uma batida em um trem que passava pela estação naquele momento. Ninguém se machucou, ainda que o susto tenha sido enorme, devido ao impacto que pode ser percebido em imagens e vídeos que estão circulando pela internet.

O painel de publicidade que se soltou e gerou todo essa impacto na vida da população nesta manhã é um dos painéis administrados por uma nova empresa que ganhou a concessão do espaço publicitário do Metrô em abril do ano passado, a partir de um pregão eletrônico. A empresa que agora detém os direitos publicitários do metrô é a JCDecaux, uma multinacional do ramo de publicidades. Segundo informação da Revista Exame [1], a empresa deverá pagar um total de R$ 375 milhões ao metrô ao longo do período de concessão, que será de dez anos.

Antes, a administração da propaganda era feira diretamente pelo Metrô, porém, a nova política da empresa é a de terceirizar essa administração, e lucrar a partir dessa concessão. Tanto dinheiro certamente não está se revertendo em investimento na malha metroviária que a cada dia está mais superlotada. Também não está sendo direcionado para manutenção preventiva. Há algum tempo, segundo funcionários, a política do Metrô tem sido a de tratar falhas somente quando elas aparecem, o que significa, na prática, o aumento considerável de problemas que poderiam ser evitados com prevenção.

Em 2016, o Sindicato dos Metroviários denunciou à imprensa [2] que cinco trens das frotas do Metrô estariam estacionados nos pátios e sendo “depenados” para que servissem de “estoque”, já que faltavam peças para a manutenção de outros trens, e a empresa alegava não ter verba para a compra de novas.

O Metrô também vem diminuindo o quadro de funcionários, e isso pode ser visto com bastante clareza em áreas da operação. Por vezes, existem estações operando com dois funcionários, sendo que há no mínimo três postos de trabalho para serem cobertos, sem contar a necessidade de funcionários para atuar em eventualidades, como o atendimento a um mal súbito. Há alguns dias, em uma estação da linha 3-Vermelha, um senhor teve uma parada cardiorrespiratória e só havia dois funcionários na estação – uma estação com três postos de trabalho. Os funcionários tiveram que abandonar a bilheteria e a catraca para prestar o atendimento ao passageiro enquanto não chegava reforço, e a estação ficou desassistida até a chegada da segurança de outra estação, já que também não há agentes de segurança em número suficiente.

Há estações sendo inauguradas, como é o caso das novas estações da linha 15, que agora opera de Vila Prudente à Vila União, com uma quantidade de funcionários totalmente insuficiente. Para além da insuficiência do quadro, os funcionários reclamam que não há água encanada, não há banheiro feminino e masculino, não há a mínima estrutura que permita que alguém trabalhe naquele local. Não bastasse a falta de funcionários e o desgaste que é trabalhar nessas circunstâncias precárias, o Metrô têm aplicado uma política que é a de demitir funcionários que possuam licenças médicas ou que tenham uma postura questionadora, e justifica isso dizendo que a demissão é por baixa produtividade. No último período, foram cerca de 80 demitidos com essa alegação, o que gerou um clima de terror entre os metroviários, que se vêem em risco até se ficarem doentes.

A situação dessa manhã é trágica, já que certamente atrasou a vida de muitos passageiros. Além de trágica, também irônica. A inscrição do painel de publicidade que se soltou diz “Animando sua rotina, divertindo sua viagem”. O usuário do sistema não se diverte com as falhas recorrentes, não se anima com a falta de investimento em expansão e em qualidade. Neste ano, o Metrô já bateu um triste recorde: teve o maior número de acidentes graves desde o ano 2000 [3].

A solução para a precariedade do sistema e para a insatisfação de quem o utiliza não é investir em publicidade, não é contratar uma ONG por meio milhão ao ano [4] para escolher músicas para tocarem nos vagões, ONG esta que não tem sede e que funcionário é conselheiro em comissão do governo [5].

QUEREMOS MAIS METRÔ E MENOS TARIFA!
CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DO METRÔ E DEMISSÕES ARBITRÁRIAS!
POR UM TRANSPORTE PÚBLICO SOB CONTROLE DOS TRABALHADORES!

[1] https://exame.abril.com.br/negocios/metro-de-sp-assina-concessao-de-publicidade-por-r-375-milhoes/

[2] https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/03/1747907-metro-encosta-cinco-trens-para-servirem-de-estoque-de-pecas.shtml

[3] https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/07/metro-de-sp-acumula-maior-numero-de-falhas-graves-desde-2000.shtml

[4] https://noticias.r7.com/prisma/coluna-do-fraga/empresa-que-enfurece-usuarios-do-metro-recebe-meio-milhao-por-ano-12072018

[5] https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2018/07/ong-gestora-da-playlist-do-metro-nao-tem-sede-e-funcionario-e-conselheiro-do-governo