Nos últimos meses, pesquisas eleitorais e acadêmicas vêm indicando que as mulheres são a grande pedra no sapato do candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL). De acordo com dados publicados pela Carta Capital, em texto assinado por Rosane Borges, a rejeição ao candidato no público feminino subiu de 34%, em junho, para 49% em setembro, chegando a 64% entre mulheres que têm entre 16 e 24 anos. Ou seja, as mulheres hoje representam uma espécie de barreira ao autoritarismo e é nelas que a violência e os discursos de ódio do presidenciável esbarram.
Todavia, foi nos últimos dias que esse rechaço ao capitão da reserva do exército tomou ares de revolta e passou definitivamente a ganhar corpo. Um grupo no Facebook chamado “Mulheres unidas contra Bolsonaro” reuniu, em pouco mais de uma semana, milhões de mulheres. O grupo, auto organizado e independente, surgiu com o objetivo de reunir aquelas que se opõem às ideias misóginas e preconceituosas do candidato, além de organizar a luta antifascista. Para acessá-lo é preciso autorização das moderadoras, e É apresentado em sua descrição como “Grupo destinado a união de mulheres de todo o Brasil (e as que moram fora do Brasil) contra o avanço e fortalecimento do machismo, misoginia e outros tipos de preconceitos representados pelo candidato Jair Bolsonaro e seus eleitores. Acreditamos que este cenário que em princípio nos atormenta pelas ameaças as nossas conquistas e direitos é uma grande oportunidade para nos reconhecer como mulheres. Esta é uma grande oportunidade de união! De reconhecimento da nossa força! O reconhecimento da força da união de nós mulheres pode direcionar o futuro deste país! Bem-vindas aquelas que se identificam com o crescimento deste movimento.”
O grupo é apartidário e proíbe discursos de ódio, estabelecendo que as discussões sejam feitas de forma respeitosa. Também são proibidas enquetes de intenção de votos e propaganda eleitoral específica, ainda que haja postagens fixas para debater sobre os candidatos. Neste espaço, reúnem-se mulheres de todas as idades, de posições políticas e de perfis muito diferentes, mas que se identificam na unidade da luta contra o avanço do conservadorismo com elementos protofascistas (como parece ser o lastro ideológico que mobiliza e encorpa a candidatura de Bolsonaro).
O “Mulheres Unidas contra Bolsonaro” teve desdobramentos, surgindo outros grupos em vários estados, juntamente com um chamado para um ato no sábado 29/09. As integrantes do grupo estão se organizando para ir às ruas em várias cidades pelo país, em defesa dos seus direitos e em protesto contra a violência e os preconceitos defendidos pelo candidato. Se tomarmos alguns exemplos como a Marcha das Mulheres contra Donald Trump nos EUA, o dia de paralisação pelo 8 de março na Catalunha, o movimento pela legalização do aborto na Argentina e a própria legalização na Irlanda (resultado da mobilização de milhões de mulheres), o movimento brasileiro parece seguir uma tendência mundial em que são ELAS que compõem a linha de frente na luta por mais direitos e contra os discursos de ódio e conservadores.
E esse não é um movimento que se limita à disputa nas urnas, em que a maioria das candidaturas é masculina, mesmo que o eleitorado brasileiro seja composto majoritariamente por mulheres. Transbordando as redes sociais e as limitadas ferramentas institucionais disponíveis, a organização de mulheres parece entender que a tarefa é muito maior, e que a derrota de Bolsonaro e tudo o que sua candidatura representa só virá a partir da tomada das ruas e da construção de uma ampla frente de resistência com viés antifascista. Por isso, a importância de iniciativas com essa do dia 29 de setembro. À rua, pois, todas as mulheres, derrotar Bolsonaro e todos os retrocessos que ele representa!