A primeira noite de um homem (1967), de Mike Nichols

A perda da virgindade é um tema corriqueiro na história do cinema. No entanto, poucos conseguiram trazer à tona uma versão minimamente crível dessa descoberta, com seus nervosismos e incertezas (gerados pela cultura patriarcal), como Mike Nichols em The Graduate (A primeira noite de um homem).

Sem soar caricato ou clichê em nenhum momento, Nichols compõem o personagem de Ben, interpretado por Dustin Hoffman, como um homem que, ao voltar da faculdade, depois de ter dedicado todo seu tempo somente aos estudos, nunca sequer cogitou a hipótese de ter um relacionamento e agora se vê em uma crise existencial. Coisa de quem tem dinheiro e pode se ocupar de problemas fúteis, diga-se de passagem.

A partir dos primeiros planos, o diretor utiliza closes, nos deixando apreensivos pela tensão do personagem, que é ressaltada tanto pelo enquadramento quanto pela atuação do ator. Ben sofre de uma incomunicabilidade perante a sua família: provavelmente formou-se em algo que não gosta e agora tem de suportar os afagos dos amigos e familiares e as congratulações por tal feito. Ele está preso, o que é personificado na cena bizarra em que ele cai na piscina com roupa de mergulho, e o diretor, acertadamente, utiliza uma câmera subjetiva (aquela que mostra o ponto de vista do ator), mostrando assim ao expectador a barreira que existe entre ele e seus parentes. Distância essa também ilustrada, logo no início e ao longo do filme, pela música “Sounds of Silence” (“Sons do silêncio” em tradução literal), que, aliás, exerce função narrativa ao também comentar sobre incomunicabilidade.

A criatividade do diretor é boa e se reflete na montagem do filme: a perda da virgindade e os dias subsequentes a esse acontecimento em sua vida são mostrados em pouquíssimo tempo. Tal progressão aparece na tela durante um minuto ou mais. A montagem transmiti além da passagem do tempo, a repetição das situações e também a contínua tensão de Ben, que age como uma criança, desconfiado que seus pais possam supor ou terem conhecimento do que ele e Sr. Robinson fazem no hotel. (“Sr. Robinson” é outra homenagem a Simon e Garfunkel, autores da canção “Sounds of Silence”, cuja música de mesmo nome também aparece no filme).

Ao fim, vemos um epílogo um tanto fantasioso e, digamos, clichê. Contudo, a narrativa de Nichols é tão ágil e bem construída que faz com que aquele desfecho soa minimamente verdadeiro. Acho que por algumas dessas coisas o filme se tornou um clássico da juventude.

Rodrigo Mendes