A ocupação na Reitoria da UFFS – Campus Chapecó (SC)

Por Repórter Popular – SC

Nas últimas três semanas, os estudantes da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), principalmente no campus de Chapecó (SC), têm se mobilizado para cobrar da Reitoria a falta de professores e professoras nos cursos, especialmente nos de bacharelado, como Ciência da Computação e Administração.

Além disso, em outros cursos, a pauta também inclui a sobrecarga da carga horária dos docentes, que tem ultrapassado os limites previstos. Segundo um professor ouvido pelo Repórter Popular, essa sobrecarga excede o que é estipulado no regimento, como acontece nos cursos de licenciatura.

A mobilização estudantil tem promovido assembleias por cursos, criando uma base forte de debates com democracia direta e reivindicações contundentes. Entre as demandas, destaca-se a crítica à conjuntura nacional, aos cortes de gastos na educação pública federal e ao teto de gastos mantido no governo Lula, alinhado com a política econômica do ministro Haddad.

Na última quinta-feira (03), os cursos de bacharelado e licenciatura se uniram em uma única assembleia, resultando na deliberação pela ocupação da Reitoria da UFFS. O prédio da Biblioteca, que abriga setores administrativos, incluindo o gabinete do reitor Alfredo Braida, foi ocupado pelos estudantes. Enquanto  este setor luta em defesa da educação pública e contra os cortes neoliberais, o reitor tem utilizado espaços na mídia tradicional para criticar a mobilização estudantil.

Enquanto a luta continua no oeste catarinense, reproduzimos o depoimento do Leonardo Santos, docente do Campus Chapecó e membro da diretoria da SINDUFFS – Seção Sindical do ANDES-SN:

Nos últimos anos, a crescente demanda por vagas na educação superior tem sido uma preocupação constante nas universidades públicas do Brasil, e a UFFS não é exceção. Um dos cursos que mais reflete esse cenário é o curso de Medicina, que, apesar de ter recebido 42 novas vagas no ano passado, não conseguiu atender à grande demanda de estudantes. A distribuição dessas vagas, embora tenha sido feita entre os diferentes cursos da universidade, não foi suficiente para suprir as necessidades, especialmente nos cursos já deficitários em termos de infraestrutura e recursos humanos.

O curso de Ciências da Computação em Chapecó, por exemplo, é o maior da universidade, com mais de 600 estudantes, mas conta com apenas 12 professores. Essa discrepância tem gerado turmas lotadas, com até 50 estudantes por sala. Para os alunos que precisam de disciplinas específicas para concluir o curso, a situação se torna ainda mais difícil, já que as vagas são limitadas e não há professores suficientes para abrir novas turmas. Muitos estudantes estão, inclusive, com a formatura atrasada em um ou dois anos devido a essas disciplinas represadas.

Essa escassez de recursos não é uma questão isolada. Ela está inserida em um contexto maior de diminuição do financiamento das universidades públicas nos últimos anos. Especialmente nos últimos 20 anos, o volume de recursos destinados à educação superior tem caído significativamente, o que afeta diretamente a capacidade das instituições em atender à crescente demanda por educação de qualidade.

Em resposta a essa situação, estudantes de diversos cursos, especialmente aqueles dos cursos de bacharelado, começaram a se mobilizar. Inicialmente, a mobilização foi para chamar a atenção das autoridades universitárias para a falta de professores e para a necessidade de um aumento de vagas. A manifestação ganhou força, e nesta semana, uma ocupação foi realizada no campus de Chapecó

Os estudantes começaram a ocupação na quinta-feira e, até o momento, permanecem lá, sem previsão para desocupação, esperando uma resposta mais concreta da reitoria sobre suas demandas.

A reitoria, por sua vez, tomou algumas medidas emergenciais, como a contratação de substitutos para algumas disciplinas e a redistribuição de professores de outros cursos para atender às áreas com maior demanda. No entanto, os estudantes apontam que essas ações não resolvem o problema de forma definitiva e, por isso, decidiram radicalizar a mobilização. A ocupação continua até que a universidade apresente uma solução que atenda de forma eficaz à demanda crescente por professores e vagas.

Além dessa mobilização em Chapecó, outra demanda foi levantada pelos estudantes do DCE de Laranjeiras do Sul, no Paraná. A pauta que envolve a inclusão do café da manhã no Restaurante Universitário foi uma das questões que também ganhou apoio dos estudantes de Chapecó. Embora não esteja diretamente relacionada com as questões de vagas e professores, essa demanda também se inseriu nas mobilizações desta semana, ampliando o alcance das reivindicações estudantis.

A situação, portanto, é complexa e reflete um cenário de sobrecarga nas universidades públicas, que, com o corte de verbas e a falta de professores, estão se vendo incapazes de atender à crescente demanda por educação superior. A ocupação e as mobilizações de estudantes são uma tentativa de pressionar a universidade a resolver esses problemas, garantindo melhores condições para todos os alunos. O movimento segue, agora, com a expectativa de uma resposta concreta da reitoria.”

A Seção Sindical dos Docentes da UFFS também escreveu uma nota de solidariedade à reivindicação estudantil, que pode ser lida aqui.

A foto de capa foi retirada da página de Instagram da ocupação, que pode ser acessada aqui.

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