eleições simca 2024

A luta sindical e as eleições do SIMCA, em Cachoeirinha (RS)

Foto da capa: divulgação Chapa 2 “Nós por Nós”

Por Repórter Popular RS e PR

Nos dias 28, 29 e 30 de agosto ocorrerão as eleições para a Diretoria Executiva e Conselhos do Sindicato dos Municipários de Cachoeirinha (SIMCA), localizado na região metropolitana do estado do Rio Grande do Sul.

O sindicato completou recentemente uma história de 35 anos desde a sua fundação e nestas eleições há duas chapas concorrendo ao pleito: a Chapa 1 “Somar para continuar avançando” representa a atual direção e disputa com a Chapa 2 “Oposição Sindical – Nós por Nós – Retomar o SIMCA pra luta!”.

O Repórter Popular conversou com um integrante da chapa de oposição, o companheiro Guilherme Runge, municipário há 16 anos e que expõe nesta entrevista uma avaliação particular desse processo a partir de uma perspectiva sindical anarquista. As opiniões manifestadas não representam necessariamente a avaliação coletiva do conjunto da Oposição Sindical. 

1) Qual a análise de conjuntura sobre o governo que administra Cachoeirinha (RS)?

Em primeiro lugar, para que as pessoas do restante do país possam ter uma noção, nosso município fica na região metropolitana, há menos de 20 minutos do centro de Porto Alegre (RS). É uma cidade com 136 mil habitantes e cerca de 3.800 servidores públicos ativos com um número de sindicalizados superior a 1.800 no total.

Territorialmente, é um dos menores municípios da região metropolitana e tem a maior densidade demográfica do estado do RS. Essa geografia vinculada a uma coalizão política conservadora que governa a cidade se traduz numa lógica de controle, cerceamento e clientelismo político por parte do poder vigente para manter no poder o mesmo grupo que comanda a cidade há décadas.

O atual prefeito é filiado ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que é um partido que invariavelmente sempre esteve no governo municipal desde a redemocratização, com exceção de um período no início dos anos 2000 em que o Partido dos Trabalhadores (PT) chegou ao governo, mas depois da reeleição do antigo prefeito Stédile houve a migração para o Partido Socialista Brasileiro (PSB).

A partir de então, durante quase duas décadas, o PSB em aliança com o PMDB fizeram da cidade um feudo político que foi bastante desgastado na greve histórica dos municipári@s de 2017 e depois com o impeachment do ex-prefeito Miki Breier (PSB), entre os anos de 2021 e 2022. Desde o impeachment, o PSB perdeu representação política na cidade e os demais partidos da coalizão têm funcionado na prática como legenda de aluguel para políticos conservadores que historicamente compuseram a base governista no legislativo ou tiveram cargos no Executivo.

É em meio à essa cultura política conservadora local com significativa capilaridade da extrema direita nacional que o Sindicato dos Municipários de Cachoeirinha, o SIMCA, representa a alternativa de resistência e acolhimento para os servidores públicos municipais lutarem pelos seus direitos. 

2) Como tem se comportado a atual direção do SIMCA nestes últimos 3 anos?

O sindicato no ano passado convocou uma assembleia às pressas que foi pouco representativa e manobrada para filiar a entidade na Central Única dos Trabalhadores (CUT). Nos anos de 2022 e 2024, não houve assembleias presenciais para organizar as pautas da campanha salarial e, na prática, o sindicato reuniu com o governo e fechou acordos rebaixados à revelia da categoria. Em contexto eleitoral o aparelho sindical tem sido usado para difamar a oposição e assediar judicialmente alguns companheir@s. Seria importante voltar um pouco na avaliação de como a atual Gestão SOMAR chegou ao comando do aparelho sindical e com qual discurso. 

É importante fazer memória de que o SIMCA junto com a categoria vinha numa ascensão das lutas, culminando na histórica greve de 62 dias ocorrida em 2017 e que ganhou projeção nacional e a solidariedade de organizações latino-americanas. A greve como um processo de luta de massas serviu para fortalecer uma consciência de classe, além de dar visibilidade ao sindicato como uma referência para muito além do município de Cachoeirinha (RS).

Houve também aqueles que surfaram nessa onda com as suas pretensões político-partidárias e o próprio PT, na cidade que estava sem representação parlamentar, pegou carona nesse processo produzido pela insatisfação popular para apresentar o seu candidato. Vieram as eleições municipais e, em 2020, o PT conseguiu eleger o seu representante para o legislativo. No ano seguinte em 2021, nas eleições sindicais, a representação parlamentar do PT municipal, aliada à algumas bancadas de deputados estaduais e federais junto com a CUT, montam uma chapa de oposição que defendia o diálogo a todo o custo e disparavam uma linha do senso comum contra a tradição sindical classista e combativa.

Depois de conseguirem vencer por uma pequena diferença de votos, a Gestão SOMAR passou a conduzir o sindicato com uma cultura personalista que desrespeita a democracia de base e os critérios de independência de classe. O custo de terem rasgado os princípios cobrou um preço alto e agora a atual Gestão SOMAR está aliada ao governo municipal para tentar se manter no aparelho. O atual prefeito candidato à reeleição juntamente com o seu secretariado e diversos cargos de confiança não escondem a sua preferência, fazendo escancaradamente campanha pela manutenção de um sindicato pelego e inerte expresso atualmente na Chapa 1 da situação.

3) Qual a proposta da Chapa 2 Nós por Nós para a base do SIMCA?

Antes de qualquer coisa é importante ressaltar que a escolha do nome “Nós por Nós” remete às circunstâncias que avaliamos coletivamente após as últimas eleições sindicais. Vivemos em Cachoeirinha (RS) desde a redemocratização uma cultura política autoritária que é imposta desde cima e cada conquista nossa não foi concedida como se fosse favor de algum governo.

Queremos dizer com isso que todos os direitos conquistados ao longo das últimas décadas foram resultado de muita luta e mobilização através do sindicato e que a condição de servidor público estatutário em Cachoeirinha não é simples mérito de alguém que passou no concurso. Portanto, há uma cultura de organização pela base, de enfrentamento e resistência que deve ser reconhecida e que atravessa diversas gerações de companheiras e companheiros, desde os mais experientes até os mais jovens que formam o nosso coletivo. 

As nossas raízes são a nossa fortaleza e isso não é pouca coisa e jamais deve ser subestimado. Aprendemos com os mais velhos inúmeras histórias dos esforços realizados para a fundação de um sindicato unificado de municipári@s e não apenas de um ramo profissional. Convivemos entre companheiras e companheiros de organizações políticas distintas que trazem a experiência aprendida com aqueles que fizeram sindicalismo nas oposições clandestinas durante o período da ditadura militar.

Além disso, entendo que é nosso dever e compromisso reivindicar a relação ancestral com as melhores tradições da luta sindical, popular, dos oprimidos, dos povos originários do continente e da diáspora desde a mãe África. Numa concepção sindical que defende o sindicato como espaço classista e diverso, é fundamental o respeito à pluralidade de ideias que devem existir e conviver no debate democrático. Hoje, infelizmente, o discurso do diálogo propagado pela atual Gestão SOMAR tem representado na prática uma tentativa de silenciamento das posições mais à esquerda e de quem discorda da atual direção. 

É com esse espírito que foi constituída a CHAPA 2 – OPOSIÇÃO SINDICAL – NÓS POR NÓS – RETOMAR O SIMCA PRA LUTA. Defendemos um sindicato que respeite os princípios estatutários como a independência de classe, a democracia de base, a solidariedade e a ação direta. Nossas propostas específicas para a categoria estão detalhadas em nossos materiais publicados nas nossas redes sociais em: Chapa 2: Oposição – Nós por nós – Retomar o SIMCA para a Luta (@chapa2.simca) • Fotos e vídeos do Instagram

4) Teria algo a acrescentar ao RePop?

Desde o final de 2021 até este momento de 2024 o sindicato tem sido conduzido pela Gestão Somar. Na prática, a categoria está sentindo os efeitos de um discurso que enfatizava a negociação. De fato a negociação é um dos meios do sindicalismo, mas ela não dá superpoderes aos negociadores de fazer acordos que não são aprovados pela assembleia e tampouco tem a varinha mágica de avançar a pauta sem mobilização da categoria.

Aliás, negociar sem luta e sem a participação da base é em si uma traição de classe. Nesses três anos houve somente em 2023 a convocação de assembleia presencial para debate e organização da campanha salarial. Os poucos momentos de pressão sobre a mesa de negociação se deram por iniciativa dos delegados sindicais ocupando o saguão da Prefeitura no ano passado e depois insistindo no fim do estorno do vale-alimentação, que veio a ser conquistado posteriormente. Há diversas pautas e demandas reprimidas nos setores de trabalho que precisam ganhar suporte do instrumento de luta e organização da categoria que é um sindicato.

Por fim, não podemos nos contentar com uma cultura sindical que faz questão de enfatizar o personalismo e uma suposta capacidade de negociação de um ou poucos dirigentes. Essa lógica não se sustenta e nos torna reféns de uma dinâmica que tem dialogado muito mais com o governo do que com a base da categoria. Pra que(m) serve um sindicato com essa postura? A direção do SIMCA deve estar subordinada ao controle de base e ser fiel aos princípios históricos que ganharam lugar no Estatuto nas últimas duas décadas. 

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