Átila Frazão, Conselho de Educação Escolar Indígena Xukuru do Ororubá, Pesqueira, Pernambuco.

A LUTA DOS POVOS ORIGINÁRIOS E A “INDEPENDÊNCIA DO BRASIL”

Por Átila Frazão, Conselho de Educação Escolar Indígena Xukuru do Ororubá, Pesqueira, Pernambuco.

Desde o século XV, com a chegada da Coroa Portuguesa ao Brasil no ano de 1500, uma luta vem sendo travada em nossos territórios: por um lado uma supremacia de poder por parte dos colonos e uma injeção cultural, por outro a resistência dos Povos Originários e a defesa cultural-identitária assim como das suas formas próprias do modo político-social e formas de vida. A ideia de “Um Brasil Descoberto” e de que “índios” habitam esse território como selvagens e aculturados é absurda uma vez que fomenta ainda mais o genocídio velado.

O 07 de Setembro, “Dia da Independência do Brasil”, vem por fomentar a romantização da colonização e de um suposto país livre, quando na verdade segue à sombra de políticas e princípios de dominação, preconceito, exploração e de morte. Quando no século XXI, precisamente nos anos hodiernos, ouvimos, vemos e sentimos na pele ainda o sangue derramado dos indígenas, a não demarcação dos territórios tradicionalmente ocupados, o Marco Temporal, tudo isso é reflexo de um apagamento que o 07 de Setembro tenta trazer. Enquanto nós estamos apelando para que os Ministros do STF – Supremo Tribunal Federal – reconheçam nossos direitos de habitar os territórios ancestrais donde fomos expulsos antes da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB 88), manifestantes tomam as ruas em defesa de Jair Bolsonaro justificando o injustificável e colorindo o Brasil de sangue e ódio, em vez de colori-lo de diversidade, de justiça à base de jenipapo e urucum.

O patriotismo cego e nefasto, a repressão policial, o uso da Bíblia como escudo e do boi como cavalo de justificação para o desmatamento e estupro literal da Amazônia e da grilagem em terras indígenas formam uma colonização de si mesmo. E que Independência é essa? “Independência ou Morte” é um contraponto ou de fato não é uma clara afirmação do real? Nós indígenas não somos “massa de manobra” como afirmara Bolsonaro, tampouco nossa luta não vai parar frente às ameaças armamentistas.

O 07 de Setembro não representa a pátria brasileira, de fato e de direito, dos povos da mata, de nós Originários. Não somos um entrave ao “progresso” tampouco à “ordem” do Brasil como vem sendo pregado e difundido. Quando o lucro e a predação estão à frente dos processos a sociedade não avança na descolonização e nem tornar-se-á politizada e politizante. Morte e destruição não são as machas que firmamos, somos das matas, das pedras, das águas, do ar, somos do Encantamento. Quais são os Brasis que queremos? O da Vida ou o da Cultura de Morte? Quais são os Brasis que construímos? O da Preservação ou o da Grilagem? Quais os Brasis que ansiamos? O que Semeia e Ama ou o do Fuzil? Quais Brasis, de fato, vemos no “Dia da Independência”?