movimento estudantil UFAL

A luta do movimento estudantil da UFAL durante a greve nacional das federais

Repórter Popular AL/Quilombola-AL

O movimento estudantil na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) está ativo e empenhado em conquistar melhorias significativas para os estudantes. Enquanto os técnicos administrativos e docentes aderem à greve nacional, os estudantes se organizam para garantir suas demandas específicas e demonstrar seu papel fundamental na luta por uma educação pública de qualidade.

Apesar dos desafios, como a gestão do DCE alinhada a interesses políticos questionáveis, os estudantes persistem em sua mobilização, realizando assembleias, atos e outras formas de protesto. Eles buscam não apenas melhorias imediatas, mas também uma transformação radical do sistema educacional, enfrentando políticas que visam mercantilizar a educação. Nesse processo, os estudantes não apenas lutam por direitos, mas também adquirem habilidades organizacionais e de mobilização que fortalecem a classe trabalhadora como um todo.

  • Todas as fotos são do acervo pessoal do “Quilombola” – quem assina essa matéria,  jornal comunitário da Zona Sul de Maceió, organizado e impulsionado pela Resistência Popular Alagoas.

movimento estudantil UFAL

A luta do movimento estudantil da Universidade Federal de Alagoas e a greve da educação federal: ousar lutar, ousar vencer!

Os Técnicos Administrativos em Educação (TAES) da Universidade Federal de Alagoas decidiram entrar em greve a partir do dia 20 de março, após uma ampla assembleia que legitimou a proposição já impulsionada nacionalmente pela Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnicos-Administrativos em Educação das Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (FASUBRA).

A federação havia iniciado uma greve nacional em 11 de março. As demandas apresentadas não são novas para a categoria e incluem a reestruturação das carreiras e o reajuste salarial. 

Quase um mês depois, em uma assembleia histórica, os docentes dos campi A.C. Simões, Ceca, Sertão e Delmiro Gouveia da Universidade Federal de Alagoas decidiram unir-se à greve da educação federal. As demandas da categoria incluem reajuste salarial, equiparação de benefícios, recomposição orçamentária das universidades e a revogação de medidas anti-funcionalismo público, que ganharam ainda mais força durante o governo Bolsonaro.

É importante destacar que a construção da greve não foi um processo repentino. As categorias envolvidas vinham tentando negociar com o governo atual há mais de um ano, porém, diante da ausência de respostas satisfatórias, a greve nacional, uma ferramenta histórica da classe trabalhadora, foi o último recurso utilizado.

E os estudantes, onde estão?

O movimento estudantil na Universidade Federal de Alagoas é vigoroso e tem sido responsável por conquistar diversos direitos usufruídos pelos estudantes atualmente. Entre eles estão a construção e ampliação dos serviços do Restaurante Universitário (R.U.), a construção da Moradia Universitária (R.U.A.), a criação e ampliação de bolsas, entre outros recursos que contribuem para a permanência de estudantes que mais precisam.

Esses esforços beneficiam especialmente Pessoas com Deficiência (PCDs), estudantes negros e pardos, indígenas, quilombolas, oriundos da escola pública e de baixa renda. Conscientes das limitações e da importância da vigilância permanente pelos seus direitos, geração após geração, o movimento estudantil da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) se transforma, mas continua lutando por uma vida digna para todos os estudantes.

movimento estudantil UFAL

Hoje, após enfrentar um processo pandêmico violento e adoecedor, durante um governo de direita que não poupou esforços para precarizar a vida, o movimento estudantil na UFAL passa por um processo de reconstrução de sua potencialidade. Muitos estudantes novos, com um outro perfil social, compreendem que só a luta muda a vida.

No processo de reestruturação do movimento estudantil, em nível nacional, não há surpresa: a União Nacional dos Estudantes (UNE), que já não representa mais os interesses dos estudantes do país, mantém seu perfil governista, atendendo mais aos interesses do governo atual, Lula-Alckmin, do que aos dos estudantes do povo. Esses que, dentro de nossa conjuntura neoliberal de total entreguismo dos bens do povo para iniciativas privadas, só podem ser atendidos com muita radicalização.

Se a União Nacional dos Estudantes (UNE) se mobilizasse hoje pelos estudantes das universidades públicas federais (UFs) da mesma forma que se mobiliza pelo FIES (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior) – um programa que direciona muito dinheiro público para instituições privadas que tratam os estudantes como clientes, e não como estudantes – a história da universidade pública brasileira poderia começar a mudar.

No entanto, a sua postura não basta para os estudantes. Na conjuntura local, os estudantes enfrentam outro desafio: há mais de um ano, a chapa que venceu as eleições da maior entidade estudantil do estado, o Diretório Central dos Estudantes (DCE), é encabeçada por forças políticas tradicionais ligadas à UNE e à atual gestão Tonholo-Eliane da reitoria da UFAL, além de envolvimento em gabinetes do Estado.

A União da Juventude Socialista (UJS) e a Juventude do Partido dos Trabalhadores (JPT), representando a chapa 1 “Todos os Cantos”, mantêm refém uma entidade histórica e de grande importância para as movimentações políticas no estado.

Em setembro de 2023, 11 integrantes da atual gestão do DCE foram expulsos em um Conselho de Entidades de Base (CEB), por deliberação de diversos Centros Acadêmicos (CAs) e Diretórios Acadêmicos (DAs). A expulsão foi motivada por diversas mensagens racistas, misóginas e por perseguições a outros estudantes de oposição, que foram expostas em um dossiê de mais de 30 páginas, criado por dois ex-integrantes da gestão.

Durante toda a gestão, predominou uma política de imobilismo, resultando em muitos problemas para os estudantes. Houve perseguições por parte da reitoria, paralisação de serviços essenciais para a manutenção dos estudantes na universidade, como o restaurante universitário, devido à falta de pagamento, e uma greve nacional que foi abordada pela gestão de maneira extremamente ineficaz. Em vez de mobilizar os estudantes de forma ativa, a gestão limitou-se a criar um formulário para saber a opinião dos estudantes sobre a greve, se eram a favor ou contra.

movimento estudantil UFAL

Nenhum espaço de construção política foi criado, nenhuma assembleia foi convocada, nenhuma mesa-redonda foi organizada, nada. Apesar dessa inércia proposital, estudantes independentes e de outras forças de oposição têm trabalhado com seus Centros Acadêmicos (CAs) e Diretórios Acadêmicos (DAs) para criar espaços de construção política.

Hoje, eles contam com um coletivo unificado chamado “Estudantes Pela Greve”, criado com o objetivo de levar as demandas locais dos estudantes para dentro da greve da educação nacional que está acontecendo atualmente em nosso país.

movimento estudantil UFAL

movimento estudantil UFAL

Desde então, os estudantes têm organizado assembleias, mesas-redondas, grupos de comunicação que envolvem mais de 600 estudantes, atos, piquetes, distribuição de panfletos, medidas anti fura-greve e eventos culturais. Essas ações têm dois objetivos principais: apoiar os técnicos e docentes que estão em greve por uma universidade pública melhor para todos e mostrar que os estudantes sabem o que querem e precisam, e que, juntos, podem alcançar esses objetivos, demonstrando que não são meros coadjuvantes.

Os estudantes exigem uma proposta do atual governo Lula-Alckmin que atenda a todas as suas necessidades. Sem ilusões e acreditando que a única forma de negociar efetivamente com o governo é por meio de organização e radicalização, desta forma, estão fortalecendo um coletivo unificado, trabalhando ombro a ombro para construir as mudanças que precisam.

Estudar para lutar, lutar para estudar!

Além das grandes mesas de negociação que ocorrem entre as categorias, o que os estudantes e servidores da base estão aprendendo com a greve? Na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), nossa luta tem mostrado frutos para a organização da nossa classe.

Entendemos que os espaços de mobilização são um grande campo de aprendizado para a classe trabalhadora do nosso estado. Aqui, os estudantes aprendem a fazer atas, controlar o tempo de fala, organizar assembleias, estruturar suas ideias para exposição, usar a greve e piquetes como ferramentas de luta, além de compreender a importância de se munir de estudos e pesquisas para confrontar as armas do sistema.

Essas habilidades são essenciais para construir o novo mundo pelo qual estamos lutando. Continuamos seguindo os exemplos daqueles que vieram antes de nós, sabendo que a mobilização e o aprendizado coletivo são fundamentais para nossa causa.

movimento estudantil UFAL

Por fim, reproduzimos abaixo uma parte da nota do Diretório Acadêmico de História Dirceu Lindoso, gestão: “Paula Palamartchuk, presente!”, sobre a greve nacional da educação federal.

“[…] Nossas demandas enquanto estudantes nós nunca devemos nem iremos esquecer: nós queremos a revogação do novo ensino médio, queremos o fim das restrições orçamentárias que atingem com mais força os estudantes mais necessitados, o fim do arcabouço fiscal e da reforma da previdência. Políticas anti-povo implementadas durante mais um período nefasto da nossa política brasileira Temer-Bolsonaro e que mesmo em um governo dito “progressista”, como a presidência Lula-alckmin, sequer foram revogadas, muito pelo contrário, é um governo que anda lado a lado com os interesses dos grandes empresários. Outro aspecto crucial em nossa situação atual é o estado lamentável da gestão fantasma do Diretório Central dos Estudantes (DCE), denominada “todos os cantos”. Esta gestão está longe de ser despolitizada; pelo contrário, seu não-posicionamento e, muitas vezes, sua aliança com a política da atual gestão “tonholo-eliane” desta universidade, que por sua vez, está vinculada a políticas empresariais e privatistas que ganham cada vez mais espaço dentro da nossa instituição, é totalmente político. Esse alinhamento não beneficia os estudantes desta universidade, nem o nosso povo. Ele serve apenas a uma política de conciliação que abraça reformas prejudiciais à população. Em meio a um cenário em que as políticas de conciliação com o grande capital e o capitalismo se infiltram sorrateiramente em nossa instituição de ensino, torna-se não apenas necessário, mas imperativo que o Movimento Estudantil adote uma postura de ruptura. Não podemos nos contentar com a simples negociação ou adaptação às estruturas que visam mercantilizar a educação. Nossa luta não é apenas por melhores condições dentro das salas de aula, mas sempre será por uma transformação radical do sistema educacional como um todo. Em tempos de greve em todo o país, a falta de uma gestão combativa e responsável no DCE é sentida ainda mais profundamente […] Nós defendemos uma greve que também se concretize dentro dos limites físicos da universidade. Para nós, uma “greve de férias” não é suficiente. Entendemos que é fundamental que a greve se materialize no chão da universidade, como forma de expressar nossa determinação e solidariedade na luta pelos nossos direitos e por uma educação pública e de qualidade PRA GERAL”.

movimento estudantil UFAL