A luta das merendeiras de Maricá (RJ) por trabalho digno

Por Repórter Popular – Maricá (RJ)

No dia 15 de setembro, as merendeiras que trabalham nas escolas municipais de Maricá (RJ) realizaram um protesto na Praça Orlando de Barros Pimentel, no centro da cidade. Reivindicando salários, férias, passagens e vale-alimentação atrasados, conseguindo nos dias seguintes, a regularização dos pagamentos. As merendeiras reclamam constantemente dos atrasos no salários.

O Repórter Popular – Maricá conseguiu conversar com uma das trabalhadoras da rede sobre a situação da categoria. Por temor de represálias, a profissional optou por não dar o seu nome para nossa matéria.

As merendeiras trabalham para a SS Administração & Serviços, que presta serviço à prefeitura de Maricá. Sabemos como os processos de terceirização atuam não apenas para cortar direitos das trabalhadoras e trabalhadores, mas também para evitar e sufocar o direito de greve e mobilização.

 

Repórter Popular – Maricá: Os atrasos nos salários são frequentes?

Merendeira: Os atrasos vem ocorrendo desde dezembro do ano passado, à partir dali começaram os atrasos de salário e do vale-alimentação. À partir de uma data, que não estou bem lembrada qual é, o vale-alimentação deixou de ser pago num mês corrente e atrasou um mês. Nós sempre recebíamos, um mês atrasado. Porém, hoje, eles [a empresa] alegam que não. O mês de agosto eles pagaram integral e o mês de setembro eles parcelaram em quatro vezes e já depositaram duas parcelas.

Repórter Popular – Maricá: Vi em outras mídias da cidade que também tiveram outros problemas. Isso é verdade?

Merendeira: O fundo de garantia nunca foi pago em dia e depois da pandemia, eles passaram a não recolher. A gente sabe que tem um decreto que permite o atraso e que pode ser pago depois, mas esse atraso já vem acontecendo muito tempo antes da pandemia. Não houve inscrição da empresa, das merendeiras, no sindicato referente durante a pandemia. Já tínhamos um ano de contrato e a gente não estava inscrita. Não houve correção salarial. Apenas esse ano que corrigiram o salário.

Repórter Popular – Maricá: E sobre as férias?

Merendeira: Nós teríamos férias ano passado mas não tivemos. Nós também não tiramos férias até o mês de julho de 2021. Eles simplesmente fizeram com que nós assinássemos um acordo, abrindo mão, das férias e da multa. Apenas uma merendeira não assinou esse acordo. Eles pagaram o valor referente às férias, mas não gozamos as férias nem recebemos a multa. E foi dito pela supervisora: ou assina, ou eu não sei o que vai acontecer com vocês. Uma merendeira perguntou a ela: vocês vão nos mandar embora [se não assinarmos]? E ela respondeu: possivelmente.

Repórter Popular – Maricá: Alguma manipuladora de alimentos/merendeira contraiu covid durante esse período de pandemia, trabalhando nas escolas?

Merendeira: Não posso afirmar que elas contraíram na escola, mas muitas merendeiras ficaram com covid. Na minha escola mesmo, tivemos uma merendeira jovem que contraiu duas vezes. Na minha escola nós trabalhamos todo o período de covid. Nós ficamos um mês em casa. No dia 18 de março nós paramos. Ficamos um mês, quarenta dias em casa. Mas logo em seguida começaram as entregas de cestas básicas que a prefeitura dá para todos os alunos da rede e nós entregávamos. Era responsabilidade nossa ir pra escola pra entregar as cestas. Trabalhávamos com o protocolo mas trabalhamos todo o período.

Repórter Popular – Maricá: A prefeitura deu algum retorno pra vocês sobre esses atrasos?

Merendeira: A prefeitura mandou mensagem para a direção da empresa, dizendo que a empresa cumpriria com todas as suas obrigações. Eles tomaram conhecimento que as merendeiras fariam greve na segunda.

Repórter Popular – Maricá: Qual foi a reação da empresa, a mobilização e insatisfação das merendeiras?

Merendeira: Um funcionário [da empresa], que não sei o nome, nem o cargo, está indo nas escolas informando as pessoas que não adianta ficar reclamando, nem fazendo protesto, pois eles estão com garantias em relação a pandemia e que eles podem alegar que isso [os atrasos no pagamento] é por conta da pandemia. E se ficarem reclamando muito vão perder o emprego, pois tem muita gente que quer trabalhar.

Ouvi de outras pessoas, que a Secretária de Educação disse que nós estamos reclamando muito, que o país inteiro está desempregado, que tem muita gente querendo trabalhar e que se alguém está insatisfeita, sai [do trabalho]. É muito triste a gente ouvir isso. O assédio é muito grave. Quando uma merendeira protesta, o nome dela é passado para a empresa e para a secretaria de educação. Ela corre o risco de ser mandada embora. Essa é a parte que mais me incomoda.

Repórter Popular – Maricá: E sobre a empresa? O que eles alegam?

Nós não sabemos onde é a empresa, nós não temos o direito de ter o endereço, o telefone da empresa. O único contato que nós temos em relação a empresa é uma supervisora de nutrição, que agora atende a gente para tudo. Na verdade ela é nutricionista e a obrigação dela é supervisionar o nosso trabalho na cozinha. Porém, hoje ela é o único contato que nós temos da empresa que nos dá tudo: uniforme etc. Mas nunca sabe nada. Não nos passa nada. Essa é a parte que mais nos incomoda.

Quem é a SS Administração de Serviços?

É uma empresa de serviços terceirizados localizada na cidade de Belo Horizonte e com um escritório no Rio de Janeiro. A empresa se localiza no bairro Alto Caiçaras, em Belo Horizonte (MG). A empresa está no nome de Renan Correa de Souza, que responde como sócio administrador único da sociedade. Há poucas informações sobre a empresa na internet. A obscuridade é outro traço dos processos de terceirização, que seguem recortando os direitos de trabalhadoras e trabalhadores.

Foto retirada da internet: logo da empresa SS Administração & Serviços.